A mobilidade urbana de Amsterdã, na Holanda, tem muito a contribuir como exemplo para o Brasil e outros países. A primeira percepção que temos ao chegar nessa cidade é que tudo flui naturalmente. O tráfego de veículos, mesmo nos horários de pico, é tranquilo e silencioso, não há quase ruídos nem uso de buzinas, o que deixa a cidade com um ar mais agradável e com menos poluição. Tais fatores podem nos levar a pensar em alguns momentos que não estamos em uma capital de um país. Mesmo sendo uma capital de menor tamanho, pois podemos conhecê-la bem em poucas semanas e andar de uma zona a outra em minutos, ela também possui um comércio atrativo, bares, restaurantes, museus, parques e belas atrações turísticas, não perdendo em quase nada a muitas capitais. -
É tudo limpo e organizado, as ciclovias são vistas por toda a parte da cidade. É curioso como mesmo nos dias de chuva, os pais saem com suas bicicletas e seus filhos pequenos (em carrinhos na frente ou na carona de trás ou da frente em que há lugar para uma ou duas crianças) para os levarem à escola, depois vão aos seus locais de trabalho com o mesmo meio de locomoção. As roupas utilizadas não são esportivas, nem as bicicletas, pois em sua maioria são bicicletas urbanas. Outro fator que nos chama a atenção é que ninguém utiliza capacete, o que passa a impressão que é algo tão natural para eles que não veem necessidade. Utilizar capacete lá seria algo visto com estranheza em sua cultura urbana. Eles consideram ser uma atividade com baixo risco de acidentes, visto que há ciclovias em praticamente todas as vias urbanas e a cidade é toda plana.
O principal meio de locomoção da maioria da população é a bicicleta, mas alguns moradores da cidade também utilizam as demais opções: o tram (um bonde chamado de GVB, sigla em holandês da Companhia Municipal de Transportes), o ônibus, o metrô e a balsa. Um passeio de tram pela cidade é prático e rápido, passando pelas principais vias, leva-nos em praticamente qualquer região da cidade, sendo outro meio bastante agradável de conhecê-la e apreciar a vista do trajeto, diferente do metrô que circula nas vias subterrâneas.
Em algumas zonas de prédios e casas, vemos carros estacionados nas vagas de garagens em frente, mas logo temos a impressão de que eles raramente são utilizados, apenas para viagens e trajetos bem mais longos que os feitos no dia-a-dia. Pois esses carros passam o dia inteiro estacionados nas mesmas vagas, enquanto seus donos vão a seus compromissos diários com outros meios de transporte, principalmente com a bicicleta.
- A bicicleta é tão fortemente incluída na cultura dessa população que as crianças, desde seus primeiros anos de idade, já aprendem a pedalar, já andam na carona das bicicletas dos pais que vão criando um hábito para a vida toda. Vemos na cidade que não há idade mínima nem máxima na utilização desse meio de transporte. Até mesmo senhoras bem vestidas de em torno de 70 anos podem ser vistas pedalando. A população da cidade parece possuir mais qualidade de vida, as pessoas parecem ser mais alegres e saudáveis.
Algo que também pode ser visto e é muito interessante é a enorme quantidade de bicicletas “estacionadas” em todos os cantos da cidade, principalmente entre as pontes e canais. Como não há bicicletários e vagas para todos, as pessoas vão chegando e deixando-as onde resta espaço. Um dos locais que há mais vagas para bicicletas é na estação central da cidade, em que muitas pessoas vêm de balsa ou de outros meios de transporte de outras regiões mais distantes até esse local para deixá-las durante o dia enquanto trabalham ou estudam. Mesmo não tendo espaços adequados e totalmente seguros para todos deixarem suas bicicletas, correndo o risco de as terem roubadas, as pessoas não deixam de utilizá-las. Os motoristas dos veículos parecem respeitar os ciclistas e parece haver uma boa convivência com estes e os pedestres.
As percepções que ficam de Amsterdã são as incríveis impressões de que a maioria se entende e respeita os mais variados tipos de locomoção utilizados na cidade, uma relação verdadeiramente humana e que poderíamos almejar ter um dia por aqui, no Brasil. Mas para isso talvez seja necessário antes haver uma mudança na cultura e nos hábitos da sociedade brasileira, o que é possível, mas que normalmente ocorre aos poucos, ao longo dos anos e das gerações.
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