Este post é de autoria de Coby Joseph, Dario Hidalgo, Paula Santos e Henrique Evers e foi originalmente publicado no TheCityFix.
São Paulo e o investimento na mobilidade sustentável: novas ciclovias e faixas dedicadas ao ônibus, um novo plano diretor e uma abordagem inovadora para estimular o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade (Foto: Stanley Calderelli/Flickr)
Pelo investimento em plataformas de participação popular e sistemas de informação ao usuário para promover o transporte sustentável, São Paulo foi a vencedora do MobiPrize 2014 na categoria Cidade/Estado. O prêmio foi lançado em 2012 pela iniciativa SMART (Pesquisa e Transformação da Acessibilidade e da Mobilidade Sustentável), da Univerdade de Michigan, como forma de reconhecer o trabalho de empreendedores e governantes que apoiam ou promovem iniciativas para melhorar a qualidade de vida por meio da mobilidade sustentável. Entre outros vencedores, estão a startup G-Auto, pelo trabalho de profissionalização da indústria de auto-rickshaws na Índia, e a Scottish Enterprise, que estabeleceu uma estrutura de inovação para o setor de transportes.
Inovação e participação popular no planejamento da cidade
São Paulo está empoderando seus moradores e encorajando-os a criar soluções de transporte que unam inovação e dados abertos. Baseada nos princípios de inovação, transparência e participação popular, a Secretaria Municipal de Transportes fundou o MobiLab (Laboratório da Mobilidade) com o objetivo de melhorar a gestão da mobilidade a partir da análise de dados e da criação de soluções participativas. Para atingir essas metas, o MobiLab já organizou diversas hackatonas com foco em mobilidade e planejamento urbano. Essas maratonas são eventos de vários dias em que grupos de programadores se reúnem para colaborar em ideias de projetos para novos softwares. Embora sejam cada vez mais comuns nos Estados Unidos, ainda são raras em países em desenvolvimento, onde os governos têm sido tradicionalmente hesitantes em liberar os dados para a população. O MobiLab, porém, abriu seus dados para os desenvolvedores e usou parcerias estratégicas no meio acadêmico e industrial para angariar fundos para as hackatonas, a primeira das quais aconteceu em março deste ano. E os esforços do Laboratório já estão dando resultado: dados recém liberados possibilitaram que diversos aplicativos levassem aos usuários informação em tempo real sobre o trânsito e os sistemas de transporte, o que antes não era possível.
São Paulo também construiu uma inovadora plataforma de crowdsourcing para incentivar e aumentar a participação das pessoas no processo de revisão do plano diretor da cidade. Essa plataforma, baseada no princípio de VGI (Informação Geográfica Voluntária, na sigla em inglês), permitiu que os moradores dessem suas sugestões para o plano e no futuro vai auxiliar para que avaliem se o resultado atende as demandas da população. O engajamento das pessoas foi foco durante todo o processo de revisão do plano. De acordo com a administração municipal, foi o maior processo de planejamento participativo na história da cidade, com 114 audiências públicas, 25.692 participantes e 10.147 contribuições.
Um amplo esforço para melhorar a mobilidade sustentável
O MobiPrize deu ênfase ao esforço de São Paulo para apoiar a inovação e o empreendedorismo, mas a cidade também instituiu inúmeras mudanças para melhorar a mobilidade sustentável em outras áreas. O aumento da tarifa do transporte coletivo e investimentos não produtivos para a Copa do Mundo geraram fortes protestos na cidade. Em resposta, o governo rápida e efetivamente implementou o projeto “Dá licença para o ônibus” no começo de 2013. O objetivo do programa era criar 220 km de faixas dedicadas ao ônibus até o fim daquele ano. A cidade excedeu essa meta e agora conta com 344 km de faixas dedicadas. Embora quando anunciada a medida tenha sido fortemente contestada pelos motoristas, atualmente 88% dos moradores aprovam as faixas dedicadas. Essas faixas tornaram o uso do espaço urbano mais eficiente, na medida em que uma faixa dedicada ao ônibus pode transportar dez vezes mais pessoas a cada hora do que uma dedicada aos carros. Na capital paulista, a implementação das faixas exclusivas reduziu o tempo de deslocamento dos passageiros em 38 minutos por dia, em média.
São Paulo também está melhorando a infraestrutura cicloviária. Desde junho, a cidade construiu 16 km de novas ciclovias, chegando a um total de 79 km. O prefeito Fernando Haddad quer elevar esse número a 400 km até o final do ano que vem. Finalmente, o novo plano diretor da cidade prioriza o desenvolvimento sustentável promovendo melhorias nos espaços públicos e desencorajando o uso do carro. O plano estabelece, por exemplo, medidas de Desenvolvimento Orientado ao Transporte, maior densidade populacional no entorno dos corredores e a eliminação da norma que exige a construção de uma quantidade mínima de estacionamento nos empreendimentos comerciais e residenciais.
Construindo uma cultura de informação aberta, engajamento e mobilidade sustentável
Mesmo depois de todas essas ações incisivas para promover a mobilidade sustentável, São Paulo ainda tem o que melhorar. Em 2013, os congestionamentos na região metropolitana custaram mais de 69 bilhões de reais, o equivalente a 7,8% do PIB metropolitano. A capital paulista precisa continuar a investir em projetos que cultivem a cultura do planejamento participativo e de dados abertos. As hackatonas são uma ferramenta para promover uma economia mais criativa e inovadora que crie soluções de mobilidade sustentável. Criando uma cultura de compartilhamento de informações públicas e engajando os moradores, São Paulo pode seguir adiante no caminho de se tornar uma cidade mais sensível às necessidades da população e criar condições favoráveis para que empreendedores desenvolvam cada vez mais soluções inovadoras para os desafios da mobilidade sustentável.
Maria Fernanda Cavalcanti também contribuiu para este post.
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