MINHA HISTÓRIA GABI URY,16
Recorde de resistência
Com uma síndrome rara que causa a falta de alguns músculos, Gabi Ury, 16, tenta quebrar recorde de abdominal para inspirar outras pessoas a superar seus limites
Filha caçula do antropólogo norte-americano William Ury, especialista em negociações de conflitos, e da brasileira Lizanne, ela nasceu com uma síndrome que leva à falta de alguns músculos. Por isso, já fez 14 cirurgias.
Ela diz que crianças com necessidades especiais devem tentar coisas que lhes parecem impossíveis.
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Nasci com uma síndrome rara, chamada Vater, que afeta a coluna, músculos, alguns órgãos e membros. Tenho escoliose grave e falta de alguns músculos na panturrilha, nos glúteos e em parte do meu abdômen. Passei por 14 cirurgias, a primeira delas aos quatro meses, na medula espinhal, mas isso nunca me impediu de nada. O único incômodo eram as internações e as dores da recuperação.Desde pequena, sempre gostei do Guinness, o livro dos recordes. Em quase todos os Natais eu ganhava um.
Comecei a ficar muito interessada em entrar para o Guinness. Já tentei alguns recordes, como o de maior número de meias no pé.
Consegui colocar 60 meias no meu pé esquerdo. Lembro que meu irmão entrou no quarto e levou um susto: "Por que um pé está maior do que o outro?". Mas, infelizmente, ainda faltaram umas 15 meias para eu quebrar o recorde.
Em agosto de 2013, passei por uma seleção para o time de vôlei da minha escola. As pessoas tinham que correr uma milha [1,6 km], mas minha treinadora disse que eu poderia fazer o exercício de prancha, já que correr às vezes me cansa muito.
Quando meus colegas terminaram, 12 minutos depois, eu ainda estava fazendo a mesma prancha. Naquela noite me inscrevi para o recorde do Guinness de abdominal de prancha feminino.
Cerca de seis semanas depois, recebi um e-mail do Guinness World Records confirmando o recorde atual [de 40 minutos e um segundo], mas há alguns dias chegou uma mensagem muito gentil da atual recordista mundial da prancha abdominal, Eva Bulzomi. Ela disse que há algumas semanas quebrou seu próprio recorde mundial anterior de 40 min. Esse novo recorde, de 1 hora, 5 minutos e 18 segundos, ainda não foi oficialmente reconhecido pelo Guinness, mas está em processo. Ela não queria me desanimar, mas informar que o meu objetivo teria que mudar.
Mesmo com essa notícia, estou tão determinada como antes para quebrar o novo recorde. Já preparei todos os requisitos necessários para a prova. Preciso, por exemplo, de duas câmeras me filmando de frente e de lado.
Em novembro, passei por mais uma cirurgia e fiquei um mês e meio me recuperando. No início de janeiro deste ano, comecei a treinar e já no primeiro dia consegui ficar 20 minutos na prancha.
Meu recorde não oficial é de cerca de uma hora. Não é fácil, mas tento não ficar olhando para o relógio e assisto a vídeos da internet.
Hoje, dois dias depois de completar 16 anos, vou tentar oficialmente quebrar o recorde. Vou fazer isso por mim, já que deve ser muito legal ser a melhor do mundo, mas também para inspirar outras pessoas a superar seus limites, além de ajudar a angariar fundos para o Children's Hospital, em Denver, que tem me ajudado muito.
Gostaria de mostrar às pessoas que a melhor forma de lidar com as crianças com necessidades especiais é tratá-las de maneira completamente normal. Se as pessoas as tratam de forma diferente, elas não experimentam coisas que parecem impossíveis.
As crianças com necessidades especiais não precisam ser superprotegidas ou mimadas. A maioria delas é muito mais forte do que se pensa.
Devo muito do que sou aos meus pais, que sempre me incentivaram a ir além. Eu sei dos meus limites, não vou fazer nenhuma loucura.
Penso que a qualquer momento posso ter que voltar para o hospital, então quero aproveitar bem cada dia em que não estou lá.
Quero inspirar as pessoas a transformar suas fraquezas em forças. E quero contar a minha história para que outros possam fazer coisas que nunca esperariam fazer.
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