O projeto recompensa os empregados que dormem pelo menos sete horas por noite devido à preocupação da empresa americana com o impacto da falta de sono no desempenho dos funcionários.
A reportagem é de David Silverberg, publicada por BBC Brasil, 30-06-2016.
O esquema teve início em 2009. No ano passado, cerca de 12 mil dos 25 mil funcionários da empresa participaram, um aumento em relação aos 10 mil de 2014.
Os funcionários podem registram suas horas de sono automaticamente, por meio de um monitor de pulso que se conecta à rede de computadores da Aetna, ou então inserir manualmente suas horas de sono - a empresa confia que falarão a verdade.
Kay Mooney, vice-presidente de benefícios a funcionários da Aetna, diz que o programa de sono é "um dos muitos hábitos saudáveis que queremos que nossa equipe tenha." Eles também recebem pagamentos extras por fazer exercícios.
Mooney acrescenta, a respeito do programa de sono, que a Aetna gosta de se ver como um "laboratório vivo, para ver se isso é algo eficaz para outros grandes empregadores também."
Mas ela não desconfia que alguns funcionários podem estar ganhando dinheiro sem de fato dormir sete horas?
"Não estamos preocupados, está no sistema de honra, confiamos na nossa equipe", diz.
O compromisso da Aetna em garantir que seus funcionários durmam o suficiente surge de estudos que alertam que a falta de sono pode afetar de forma significativa a capacidade de trabalho.
Apenas nos Estados Unidos, o trabalhador médio perde 11,3 dias de trabalho ou US$ 2.280 de produtividade por ano devido à falta de sono, de acordo com um relatório de 2011 da American Academy of Sleep Medicine.
Ela calcula que isso chega a uma soma anual de perda de US$ 63,2 bilhões à economia americana.
Enquanto isso, um estudo europeu de 2015 da Rand Corporation diz que "funcionários que dormem menos de sete a oito horas por noite experimentam uma perda de produtividade significativamente maior comparada aos empregados que dormem mais de oito horas por noite em média."
E pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco alertaram, no ano passado, que pessoas que dormem menos de seis horas por noite tem "quatro vezes mais chance de pegar uma gripe quando expostas ao vírus".
'Muitas falhas'
Arianna Huffington, fundadora e chefe do site de notícias Huffington Post, está em uma cruzada para persuadir outros líderes do mundo empresarial a dormir o suficiente.
Ela diz que, até 2007, era o típico exemplo de chefe que tentava fazer tudo dormindo muito pouco - normalmente, apenas três horas por noite. Até que um dia ela desmaiou no meio da redação por cansaço.
Huffington, que até então trabalhava 18 horas por dia, acordou com uma mandíbula quebrada e coberta de sangue - por causa de um corte acima de seu olho.
"Por muitos anos eu trabalhei com uma definição muito errada de sucesso, comprando essa ilusão coletiva de que a exaustão é o preço necessário que pagamos pelo sucesso", diz ela à BBC.
"Em termos das medidas tradicionais de sucesso, que focam em dinheiro e poder, eu era muito bem-sucedida. Mas eu não estava vivendo uma vida bem-sucedida em nenhuma definição sã de sucesso. Eu sabia que algo tinha que mudar radicalmente. Eu não podia continuar daquela forma."
Então ela começou a dormir pelo menos oito horas todas as noites, instalando até cortinas do tipo blackout, e garantindo que seus aparelhos digitais (celular, tablet) estivessem longe do quarto durante a noite.
Ela diz que isso mudou sua vida e melhorou muito sua capacidade de trabalhar.
Huffington agora está tão comprometida com o objetivo de fazer as pessoas dormirem mais que, no início do ano, ela lançou um livro que se tornou best-seller: "The Sleep Revolution: Transforming Your Life, One Night at a Time" ("A Revolução do Sono: Tranformando sua Vida, Uma Noite por Vez", em tradução livre).
"O mundo dos negócios está acordando para o alto impacto da falta de sono na produtividade, na saúde e, finalmente, nos resultados."
'Decisões terríveis'
Jennifer Evans, co-fundadora da empresa de marketing canadense Squeeze CMM, admite que ainda não dorme o suficiente, mesmo sabendo dos problemas que isso possa causar.
A empresária de 46 anos, baseada em Toronto, diz que quando está cansada, "tomar decisões é mais difícil... tomei decisões terríveis quando estava com falta de sono".
Mas ela diz que não pode se dar ao luxo de dormir cedo porque simplesmente tem trabalho demais para fazer.
Em contraste, a empresária americana Sabrina Parsons diz que valoriza uma boa noite de sono há anos e percebe como isso aumenta sua produtividade.
"Quando estou cansada, não sou rápida nos meus pensamentos", diz a chefe do Palo Alto Software, de 42 anos.
Ela diz que até tarefas simples como responder e-mails podem ser difíceis quando ela está muito cansada.
À medida que mais CEOs reconhecem o problema causado pelo deficit de sono, uma indústria aparece para ajudá-los a resolver o problema.
Els van der Helm é uma conselheira de sono que trabalha em Amsterdã. Ela já trabalhou com chefes de diversas empresas pelo mundo.
"O sono é importante para que a pessoa pense em soluções criativas, ver processos com clareza e unir as coisas de forma inteligente", diz.
Van der Helm diz que, sem dormir o suficiente, as pessoas "perdem sua habilidade para julgar seu próprio desempenho."
Mas e as pessoas que parecem lidar muito bem com uma rotina de trabalho que inclui pouquíssimas horas de sono? Um exemplo é a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que, segundo relatos, só dormia quatro horas por dia.
Ying-Hui Fu, professora de neurologia da Universidade da Califórnia em San Francisco, diz que pode haver um motivo genético.
Ela diz que ela e seu equipe descobriram um gene raro que permite que uma pessoa seja produtiva com quatro a cinco horas de sono por noite. Acredita-se que o gene esteja ativo em 1 a cada mil pessoas.
"Você não pode virar uma pessoa que precisa de poucas horas de sono", diz Fu. "Ou você tem o gene ou não tem."
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