sexta-feira, 8 de julho de 2016

NO PEGA-PEGA EU ERA SEMPRE CAFÉ-COM-LEITE
   A perna diferente nunca me impediu de brincar, quando criança. Participava da brincadeira de pega, mesmo só fugindo dois ou três passos. Pulava corda, jogava vôlei.
   Consigo dirigir, nosso carro é automático. Breco e acelero com o pé esquerdo.
   Sou Shirley, de 44 anos, que teve poliomielite diagnosticada aos 2 anos. Demorei para andar, quando consegui colocava sempre a mão no joelho da perna direita e só pisava com a ponta do pé. O médico identificou a paralisia e indicou órtese. Conforme meu corpo crescia, precisávamos trocar. No sistema público de saúde a demora média era de dez meses, com a função já comprometida.
   Fiz várias cirurgias de alongamento ósseo, “faltavam” 12 centímetros. Reduzimos para 5. A órtese apoia toda perna e tem palmilha que compensa os centímetros faltantes. Hoje posso usar todo tipo de calçado sem salto, como tênis e sapatilhas – uma santa liberdade depois de anos de botas ortopédicas pretas.
   Tive pais afetuosos, ele dominado pelo alcoolismo, ela lutando 13 anos pela sua saúde fazendo hemodiálise, sempre cuidando muito de minha perna, sem mimar e me preparando para autonomia futura. Ambos já se foram, fazem falta para muita gente.
   Casei aos 18, tenho filho de 25 anos. A imaturidade de ambos findou com o casamento, não com a amizade. Do meu segundo relacionamento tenho um mocinho de 17 anos. Faz 8 anos que encontrei na internet meu atual parceiro, que me deu a sonhada menininha, de 3 anos.
   A crise nos trouxe para Americana. Foi por Deus, faço curso no Senai para pessoas com deficiência, fui destaque no segundo semestre, aluna-ouro. Preciso de ótimo preparo, quero oportunidade de trabalho!
“O preconceito é um pensamento parado. ” –Fabricio Carpinejar
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com


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