sexta-feira, 29 de julho de 2016

Capturados pelos Pokemóns: o fenômeno mundial é uma fuga à realidade tão antiga quanto o ser humano

Ao estimular a caça aos bichos virtuais, fenômeno digital nos transporta a mundo padronizado, em mais uma forma de fuga da realidade factual.
O artigo é de Sérgio Telles, psicanalista e escritor, em artigo publicado por O Estado de S. Paulo, 24-07-2016.
Eis o artigo.
O videogame Pokémon já vendeu mais de 200 milhões de itens da marca e até março deste ano faturou US$ 46,2 bilhões. O jogo consiste na captura dos Pokémons – pequenas criaturas imaginárias – por seres humanos, que os treinam para lutar entre si. Seu mais recente produto, o Pokémon Go, foi lançado essa semana nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, e tem alcançado enorme sucesso. Graças ao uso da realidade aumentada, os Pokémonsse escondem não mais no espaço interno do próprio jogo, e sim em inesperados lugares das cidades – ruas, praças, logradouros públicos, etc. – onde os jogadores os localizam por meio de seus celulares.
Desde o recente lançamento, foram relatadas várias ocorrências que mostram a intensidade da imersão dos jogadores na realidade virtual. Em suas andanças pela cidade em busca dos Pokémons, eles se esquecem da realidade factual e seus perigos, e assim se expõem a sérios riscos – como o trânsito e ladrões oportunistas. 

São incidentes que tendem a se multiplicar, na medida em que o jogo seja lançado nos demais países, incluindo o Brasil. Eles retomam a antinomia entre realidade virtual e realidade factual. Seriam elas antagônicas e inconciliáveis? Antes de tirar conclusões, talvez devêssemos enfocar uma questão prévia, e nos perguntar sobre o que é mesmo isso que chamamos de realidade. Veríamos então que equivocadamente a tomamos como um dado autoevidente, sem notar que essa é uma noção complexa, nada fácil de apreender e que tem largas implicações filosóficas.
De forma ingênua, a primeira ideia que nos ocorre sobre a realidade é que ela é aquilo que captamos diretamente através de nossos órgãos de percepção ou das próteses que para eles construímos com o objetivo de lhes aumentar a potência, como microscópios, telescópios e apetrechos correlatos.
Mas a mente humana não funciona como um instrumento que registra exata e imparcialmente o que está à sua frente, como faria uma máquina fotográfica ou cinematográfica. Nossa percepção passa por filtros afetivos conscientes e inconscientes que podem distorcer bastante o que se nos apresenta. Nossa memória também é pouco confiável, alterando o passado com frequência em função de vivências do presente.
Ao mesmo tempo em que dispomos de recursos poderosos para reconhecer a realidade e nela intervir, transformando-a em nosso benefício, como mostram as conquistas nos mais variados campos que nos têm proporcionado uma vida mais segura, saudável e confortável, temos também idêntica capacidade de negá-la, com consequências as mais desastrosas.
Há diferentes níveis de negação da realidade. A forma mais radical é a psicótica, que a substitui por um delírio que satisfaz sem restrições os desejos e fantasias que se recusam a abandonar o princípio do prazer. Na neurose, a negação da realidade é mais branda, ocorre parcialmente, sendo os fragmentos negados substituídos por fantasias, devaneios, mini delírios que conciliam as exigências da realidade e as pressões narcísicas.
As variações no manejo da realidade descritas pela psicanálise rompem com a rigidez da divisão entre realidade virtual e factual. Mostram que não estão tão distantes uma da outra, e que o próprio conceito de realidade virtualpopularizado pela tecnologia e informática tem um substrato mais arcaico e universal.
Sempre vivemos, cada um de nós, em “realidades virtuais” próprias, singulares, secretas, privadas, íntimas, na medida em que fazemos recortes muito precisos apagando alguns aspectos da realidade, de modo a adequar suas restrições a nossos desejos inconscientes infantis, dos quais não queremos ou podemos abrir mão.
Enquanto cada um de nós cria uma realidade virtual singular fantasmática, que atende às especificidades únicas do próprio desejo inconsciente, a tecnologia, pelo contrário, produz uma realidade virtual padronizada e massificada, materializada num programa de computador a ser processado num gadget, como ocorre com o Pokémon Go.
A tendência a negar os fatos e mergulhar em realidades virtuais é tão antiga quanto o próprio homem e evidencia a dinâmica entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. Freud dizia que não toleramos um contato ininterrupto com a realidade. Precisamos diariamente cortar o contato com ela e nos refugiar no mundo dos sonhos. O sonho é a “realidade virtual” onde realizamos de forma disfarçada e simbólica os desejos que a realidade nos obriga a abandonar. Não é de hoje que se usam substâncias que criam estados alterados de consciência, afastando-nos da realidade e nos levando para paraísos artificiais (virtuais).
As artes e, especialmente as narrativas, como a literatura e o cinema, também criam realidades virtuais. Tais estruturas narrativas, ainda que ficcionais, ou seja, “não reais”, “virtuais”, mesmo assim possibilitam o acesso a importantes verdades humanas que sem elas nos seriam inacessíveis.
Ao reconhecer esse fato, recuperamos o aspecto positivo desses construtos. Eles não se prestam apenas à fuga da realidade através do entretenimento, como faz o Pokémon Go.
A realidade virtual produzida pela tecnologia pode ser usada para fins terapêuticos, como mostram relatos recentes de tratamentos experimentais de fobia de avião realizados na França. O paciente, usando óculos especiais que recriam a experiência de voo, é acompanhado por um psicanalista que segue o desenvolvimento de sua angústia no processo e procura usar dos recursos analíticos e cognitivos para ajudá-lo a superar o sintoma.
É um campo promissor. Se as condições de voo podem ser recriadas virtualmente, permitindo que o fóbico as vivencie de forma assistida e controlada junto a seu analista, outras situações traumáticas semelhantes ou mais complexas poderiam ser também recriadas, ampliando o arsenal terapêutico.
Aplicada no entretenimento, como o Pokemon Go, ou na terapêutica, como no tratamento de fóbicos, a tecnologia mostra a versatilidade desse mais recente exemplar de uma longa e rica tradição.

Mais sobre Pokemon Go

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Terça, 26 de julho de 2016

Sociedade da diversão: O Pokemón Go vai transformar o mundo em uma enorme rede social

O jogo que leva multidões às ruas populariza a realidade aumentada e chega para fazer do planeta uma enorme rede social em movimento.
O artigo é de Alexandre Matias, jornalista, em artigo publicado por O Estado de S. Paulo, 24-07-2016.
Eis o artigo.
Quando os primeiros Pokémons apareceram, há duas décadas, vivíamos em uma sociedade bem diferente da atual. A internet ainda se movia por fios telefônicos, seus primeiros usuários eram programadores, curiosos e jornalistas e ela só podia ser acessada por PCs, que ocupavam mesas. Celulares ainda eram só telefones móveis que nem mandavam mensagens de texto entre si. Videogames não eram jogados em rede. GPS era uma rede de satélites de uso militar começando a ser usada por exploradores. O conceito de realidade aumentada ainda estava no laboratório. Fotografias iam do filme para o papel. Não havia redes sociais.
E foi neste mundo do final dos anos 1990 que se espalhou a sanha para capturar monstros de bolso (Pokémon é uma contração de “pocket monster” em inglês). Era mais um ícone da cultura pop japonesa que invadia o Ocidente e mais uma febre infantojuvenil que se manteve firme nos seus dias de ouro, quando todo tipo de subproduto vinha com a cara dos 150 primeiros monstrinhos, sintetizado no amarelo radiante do apaixonante personagem Pikachu, um perfeito ícone pop. 

chegada da internet de banda larga na virada do milênio aconteceu simultaneamente à corrida do ouro pela música gratuita, aberta pelo pioneiro software Napster. Surgiam também os primeiros blogs – e qualquer um podia publicar na web sem pagar servidor ou entender de programação. A essa altura, a Nintendo, casa dos Pokémon, perdeu o fio da meada do mundo dos videogames, sem nunca apostar na internet.
Enquanto isso, o Google reinventava a rede com sua página de abertura minimalista e começava a crescer rapidamente. Em pouco tempo, compraria um site chamado YouTube, que nos ensinou a publicar vídeos caseiros e a consumir conteúdo em streaming (fluxo contínuo de dados pela internet). Outros tipos de sites abriam a possibilidade de publicar conteúdo e conectar-se com outras pessoas, naquilo que começou a ser chamado de “redes sociais”. Cada país tinha sua principal rede social, que foram fagocitadas no decorrer da primeira década do século pelo que se tornou a maior delas, o Facebook.
Câmeras analógicas foram sendo trocadas pelas digitais, que logo se transformariam em um dos principais acessórios dos celulares. Estes, antes artefatos caros e elitizados, aos poucos se popularizavam ao incluir outras características, até mesmo acessar a internet. Até que a Apple completou sua ressurreição apresentando seu iPhone e o conceito desmartphone. Foi o último suspiro dos computadores de mesa (que já estavam sendo substituídos pelos notebooks) e o início da era da internet móvel.
A violenta transformação pela qual o mundo vem passando graças a esses inventos dos últimos vinte anos não foi acompanhada pela Nintendo. Por muito tempo, cogitou-se a possibilidade de o encanador Super Mario ter suas aventuras transferidas para smartphone ou para aplicativos via redes sociais. O sucesso da franquia Angry Birds, por exemplo, é claramente devido à lacuna deixada pela empresa japonesa nestas plataformas.
Até que os monstrinhos saíram do estado de hibernação, há menos de um mês. Em parceria com uma empresa subsidiária do Google, a Nintendo soltou os Pokémon na rede exatamente no momento em que a internet parece ter consolidado seu ciclo de dominação e não haver mais fronteiras entre o virtual e o offline. Se antes a internet parecia ser “um lugar” para onde “íamos”, hoje ela está em toda a parte.
O bote final parece estar sendo dado com a captura desses monstros, que podem estar em qualquer lugar. Aponte a câmera do seu celular ao redor para descobrir simpáticos monstros imaginários à solta, esperando serem caçados. Monstros que não existem podem ser colocados em lugares de verdade. É uma forma de tornar a realidade mais divertida, a continuação de um movimento que surgiu no final da década passada chamado de “gameficação”. Originalmente, a gameficação da realidade tem motivos nobres: comparar a evolução de seu desempenho durante a realização de uma atividade física, fazer que a criança encontre motivação para escovar os dentes todo dia, incentivar o motorista a avisar quando ele está num engarrafamento para melhorar um mapa colaborativo de trânsito.
Essa transformação da vida em jogo é uma tendência natural do ser humano, vide o clássico Homo Ludens (1938), deJohan Huizinga, que falava na “alegria” de jogar, em busca de uma “consciência de ser diferente da ‘vida cotidiana’”. Sem perceber, transformamos tudo em jogo, e isso vale para os programas que assistimos no Netflix, a forma como batizamos os grupos no WhatsApp ou nossas redes domésticas de Wi-Fi, a forma como escolhemos as fotos a expor nas redes sociais ou o nome que colocaremos em nossos e-mails. A vida digital nos coloca para jogar continuamente.
Pokémon Go vai além desses conceitos ao trazer o jogo para a atividade online e offline simultaneamente. Além de micos coletivos e situações perigosas, o jogo – que já é um dos maiores fenômenos de popularidade da década – também nos ensinará a utilizar a realidade aumentada que vem sendo prevista há alguns anos. Em algum momento – seja com o celular, óculos hi-tech ou algum outro dispositivo (uma lente de contato?) –, começaremos a ver dados online se superporem às imagens e aos sons do mundo “real”, transformando a sociedade numa enorme rede social em movimento, privacidades vasculhadas para vender anúncios de produtos. E esse momento parece estar começando agora, com a febre Pokémon Go. Que, pelo visto, está ainda em seus primeiros dias – sem mesmo ter chegado ao Brasil, país tradicionalmente voraz consumidor de novidades online. Imagina quando ele chegar no meio dos Jogos Olímpicos...
Quando isso começar, toda a transformação a que assistimos de 20 anos para cá parecerá pequena. Prepare-se.

Movies Anywhere: aplicativo de audiodescrição da Disney

by Ricardo Shimosakai
Com o auxílio do aplicativo no celular, agora é possível assistir o filme no cinema com recursos de audiodescriçãoCom o auxílio do aplicativo no celular, agora é possível assistir o filme no cinema com recursos de audiodescrição
Cada vez mais empresas percebem que pessoas com deficiências também são consumidores. A Netflix levou anos e foi criticada veementemente, mas enfim fez o dever de casa e introduziu audiodescrição em seu catálogo. O que as companhias têm entendido é que essas pessoas não querem piedade, não querem o peixe e sim a vara de pescar. Forneçam as ferramentas e eles se viram. Foi o que fez a Disney, que lançou nova versão do aplicativo Disney Movies Anywhere.
Falando em peixe, a Disney também está se adequando nesse sentido e Procurando Dory, o 17º filme da Pixar será sua primeira produção compatível com audiodescrição em salas de cinema via o aplicativo para celulares e smart phones chamado Disney Movies Anywhere. Mas como assim?
A jogada da Disney é bem inteligente: consideremos que nem todos os cinemas possuem salas com audiodescrição disponíveis; isso é um fato, embora os estúdios e salas se esforcem em se adequar cada vez mais. Por outro lado um cego já está mais do que acostumado a utilizar softwares do tipo com seus smartphones, e sejamos sinceros o iOS é um dos mais inclusivos nesse sentido, o VoiceOver é muito elogiado pelos usuários.
Pois bem: nos EUA a Casa do Mickey tem o serviço Disney Movies Anywhere, disponível em iOS e Android que faz streaming de toda a sua biblioteca de filmes em qualquer dispositivo, e inclusive reconhece e executa o que você comprou no iTunes. Há alguns meses ele foi atualizado com audiodescrição doméstica, permitindo que deficientes visuais em geral possam curtir o seu catálogo sem problema algum, porém a Disney concluiu que dava para fazer melhor.
Agora o Disney Movies Anywhere para iOS recebeu novo update, de modo que ele atualmente é capaz de captar o áudio da sessão de Procurando Dory no cinema e sincronizar a descrição como já fazia em Home Video. Ao usuário basta colocar o fone de ouvido e curtir.
Uma pena que o app ainda não está disponível por aqui para usuários cegos ou com visão reduzida do iOS, mas esta é uma ideia que poderia muito bem ser adotada por mais estúdios e salas de cinema: como todo mundo já possui um smartphone e quem precise do recurso nem sempre tem o amigo que descreve o que está acontecendo na tela à mão, essa iniciativa é muito bem-vinda. Isso claro, desde que os lanterninhas entendam que o aparelho celular está ligado por necessidade e não mandem ninguém desligá-los.
Fonte: Meio Bite

Publicação do artigo abaixo no Jornal O Liberal, acesso:

http://liberal.com.br/virtual/
EU ADORO ENVELHECER, É LIBERTADOR!
   Um amigo diz que ao envelhecermos devemos escolher entre sermos ranzinzas (e infelizes) ou sábios. Prefiro a segunda opção.
  Sou Marta, com 56 anos, fonoaudióloga, estudiosa de antroposofia. Em meu trabalho de recuperação funcional ou de desenvolvimento dos pacientes faz muito sentido, a base é poderosa simplicidade.
   A escolha do trabalho impacta também nas escolhas do modo de viver. Estou em agradável tempo de vida, aceito até meio divertida novos limites que vão surgindo, já há alguns anos (desde 45, 50 anos) – as pessoas em volta ficaram mais solidárias, preocupadas em me ajudar (até os filhos!), perdoando pequenas falhas, suavizando obstáculos.
   Tenho que ser honesta e ponderar também que o fato de ter saúde, torna tudo mais fácil. Saúde conquistada com comida simples, agua, caminhadas, um pouco de sol, e sorte. Acho que as pessoas no fim não percebem que o medo real é de adoecer, e não de envelhecer. Em qualquer idade. Perdi um sobrinho de 25 anos, que desenvolveu um câncer, linfoma. A doença o levou, não a velhice. Crianças de 5 anos tem leucemia, jovens tem infarto, depressão, acidente vascular cerebral, que podem ser fatais.
   É libertador não precisar provar mais nada a ninguém, não me cobrar tanto mais por forma física, por beleza, por produção mesmo que as regras mensais atrapalhem, por vigiar gravidez indesejada.
   O não-quero, não-gosto, não-preciso, não-faço, não-estou-à-fim não são agressões e sim simplesmente escolhas, que não desmerecem nada e nem ninguém. Que em princípio a pessoa que escolhe deve ser a primeira a respeitar.
Tudo está fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isto é livre: liberdade é o direito de transformar-se -Lauro de Oliveira Lima
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com



quinta-feira, 28 de julho de 2016

Procon-RJ disponibiliza Código de Defesa do Consumidor acessível para pessoas especiais

by Ricardo Shimosakai
Em vários formatos, o Código de Defesa do Consumidor está acessível para todosEm vários formatos, o Código de Defesa do Consumidor está acessível para todos
O Procon-RJ disponibiliza em seu site um link para a página www.pcdlegal.com.br/cdc. Criado pelo Ministério Público do Trabalho, ela oferece condições para que pessoas com deficiência visual e auditiva tenham acesso ao Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Na página, o conteúdo do CDC está disponível em áudio e vídeos, adaptados para Libras (Língua Brasileira de Sinais) e para pessoas com deficiência visual. Além disso, há uma versão para leitura com recursos para ampliar a fonte do texto e inverter o contraste, para que a leitura fique mais agradável.
A página é compatível com smartphones e tablets e o consumidor pode baixar o conteúdo em áudio e texto para consultar quando quiser sem a necessidade de uma conexão com a internet.
O Procon Estadual já disponibiliza em seu site o CDC em três idiomas: português, inglês e espanhol. Para visualizar basta acessar http://www.procon.rj.gov.br/index.php/publicacao/listar/5/1, o conteúdo está disponível para download e pode ser baixado e consultado a qualquer momento.
Fonte: PROCON RJ

Grandes imóveis podem abrigar idosos e jovens de modo confortável e seguro

Escrito por  Maria Luisa Trindade Bestetti (*)
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grandes-imoveis-podem-abrigar-idosos-e-jovens-de-modo-confortavel-e-seguro-fotodestaqueExistem situações onde um imóvel espaçoso, antes ocupado por uma família numerosa, passa a ter ambientes ociosos e ocupados por móveis que oferecem pouco aproveitamento. Manter um imóvel assim pode se tornar caro e mudar para um menor pode significar a necessidade de aproveitar apenas parte dos móveis. Vale a pena pensar como grandes imóveis poderiam ser melhor utilizados, profissionalizando sua administração e abrigando idosos e jovens de modo confortável e seguro.
Temos consciência de que as famílias contemporâneas têm assumido configurações bastante diversificadas nas últimas décadas, especialmente considerando separações de casais e novos casamentos, opções por moradias práticas que prescindam de empregados domésticos, espaços cada vez mais exíguos e casais sem filhos. Existem situações onde um imóvel espaçoso, antes ocupado por uma família numerosa, passa a ter ambientes ociosos e ocupados por móveis que oferecem pouco aproveitamento. Manter um imóvel assim pode se tornar caro e mudar para um menor pode significar a necessidade de aproveitar apenas parte dos móveis. Nesses casos, muitas vezes a opção é a racionalização, reunindo “famílias”. Ou seja: se o parente idoso não é levado para morar com filhos, eles voltam a morar com os pais, mas já com companheiros e filhos, também.
Não basta simplesmente mudar e manter a dinâmica anterior, assim como quem continua no imóvel pode sentir-se invadido com a mudança que lhe será imposta. Nesse caso, caberia estabelecer uma sistemática que hoje conhecemos como co-living, ou seja, diferentes indivíduos compartilham espaços comuns num sistema de condomínio, considerando os dormitórios como ambientes privados e controláveis e mantendo a autonomia em uma dinâmica que favoreça essa característica para que a convivência tenha harmonia e tranquilidade. Tarefas são definidas para todos, assim como o gerenciamento das contas deve ser estabelecido com a participação dos moradores, como num conselho deliberativo. É possível receber outros inquilinos que se enquadrem nessas características, desde que as regras de convivência estabelecidas sejam contratadas. Portanto, uma forma de alugar espaços ociosos para que se tornem rentáveis.
Certamente haveria reformas: banheiros devem ser individuais, assim como os acessos devem garantir que certos ambientes sejam claramente caracterizados, tais como espaços de refeições e de estar. A cozinha deve ter espaços de preparo e de armazenamento claramente estabelecidos, pois o sistema de refeições deve ser centralizado ou não, a depender do grupo. A lavanderia precisa estar equipada para serviços self service, de modo a permitir lavar, secar e passar de acordo com necessidades diferentes. Um banheiro de serviço seria necessário não somente para atender funcionários eventuais, mas também para alguém que funcionasse como um zelador, dependendo do tamanho do imóvel.
Sendo uma unidade isolada, haveria jardins, hortas e, talvez, piscina ou varanda de lazer. Do mesmo modo, esses ambientes deveriam ser administrados como num clube, estabelecendo limites de visitantes e regras de uso. Quando possível, até mesmo acessos exclusivos poderiam dividir a casa em duas ou três menores, abrigando pequenos núcleos familiares. Vale a pena pensar como grandes imóveis poderiam ser melhor utilizados, profissionalizando sua administração e abrigando idosos e jovens de modo confortável e seguro.
(*)Maria Luisa Trindade Bestetti - arquiteta que pesquisa sobre as alternativas de moradia para idosos no Brasil, especialmente sobre a habitação mas, também, o bairro e a cidade que a envolvem. Ver Blog https://sermodular.wordpress.com

http://www.portaldoenvelhecimento.com/moradias/item/4120-grandes-im%C3%B3veis-podem-abrigar-idosos-e-jovens-de-modo-confort%C3%A1vel-e-seguro
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Comida e árvores crescem juntas

Enquanto a América Latina segue cortando suas florestas para expandir sua fronteira agrícola, um de seus países, aCosta Rica, há décadas rema em sentido contrário, e agora representa um modelo de convivência entre produção de alimentos e conservação de sua massa florestal. 
A reportagem é de Diego Arguedas Ortiz, publicado por Envolverde/IPS, 26-07-2016.
Enquanto a América Latina segue cortando suas florestas para expandir sua fronteira agrícola, um de seus países, aCosta Rica, há décadas rema em sentido contrário, e agora representa um modelo de convivência entre produção de alimentos e conservação de sua massa florestal. O informe sobre O Estado das Florestas do Mundo, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), revela que, entre 2000 e 2010, 70% do desmatamentoda região aconteceu para dar lugar à agricultura comercial.
“Isso que a FAO menciona que ocorre em países latino-americanos, que desmatam para criar espaços destinados a cultivos agrícolas e à pecuária, a Costa Rica viveu nas décadas de 1970 e 1980”, explicou à IPS o diretor do Fundo Nacional de Financiamento Florestal (Fonafifo), Jorge Mario Rodríguez. Em seu ponto máximo de desmatamento, nos anos 1980, a cobertura florestal desse país centro-americano se limitou a apenas entre 21% e 25% de sua superfície. Agora, as florestas cobrem 53% dos 51.100 quilômetros quadrados da superfície.
E mais, o país,onde vivem cinco milhões de habitantes,conseguiu conter a fronteira agrícola enquanto elevava os níveis de segurança alimentar, segundo a FAO, que assinala que a Costa Rica mantém um nível de subalimentaçãomenor que 5%, considerado “zero fome” por essa organização. “Aqui falamos que há uma lição aprendida: não é necessário desmatar para produzir mais alimentos”, explicou à IPS o diretor da FAO na Costa Rica, Octavio Ramírez.
Apesar do aumento na cobertura florestal, a FAO assinala que o valor médio da produção de alimentos por pessoa aumentou 26%, entre os períodos 1990-1992 e 2011-2013. E atribui a melhoria na cobertura vegetal “às mudanças estruturais realizadas na economia e à prioridade dada à conservação e gestão sustentável das florestas”, que se traduzem em uma conjuntura socioeconômica específica que as autoridades costa-riquenhas souberam aproveitar.
“Tem a ver um pouco com a crise da pecuária desses anos, mas também ao fato de o Estado dar prioridade ao manejo das florestas”, disse Ramírez, nascido na Nicarágua e com nacionalidade costa-riquenha. No informe, lançado no dia 18, a FAO explica que, durante grande parte do século 20, as florestas da Costa Rica eram consideradas “bancos de terra”, que podiam ser usados conforme a necessidade para atender as demandas agrícolas. “Era uma ação ruim não cortar a floresta. Era sinônimo de preguiça ou de não trabalhar a terra”, contou.
Mas, na década de 1980, dois fatores se aliaram a favor da proteção florestal, disse à IPS o economista ambiental Juan Robalino. Os preços da carne caíram e o turismo ecológico começou a encontrar espaço como uma atividade de peso no país, pontuou o especialista da Universidade da Costa Rica e do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (Catie).
“Isso abriu possibilidades para gerar políticas interessantes, como o programa de Pagamento por Serviços Ambientais” (PSA), apontou Robalino, um dos acadêmicos que mais estudou a cobertura florestal costa-riquenha. O estudo da FAO atribui grande parte do êxito precisamente ao PSA, um reconhecimento financeiro pelos serviços ambientais gerados nas atividades de conservação e manejo de florestas, reflorestamento, regeneração natural e sistemas agroflorestais.
A essência desse programa e sob administração do Fanafifo, é simples: se um proprietário conserva a cobertura florestal em sua propriedade, o Estado lhe paga, sob o principio de reconhecer os serviços ecossistêmicos que as florestas proporcionam. Desde sua criação, em 1997, até 2015, os investimentos em projetos PSA chegaram a US$ 318 milhões. Seus fundos procedem em 64% dos impostos sobre os combustíveis fósseis e 22% de créditos do Banco Mundial.
Após estudar por anos o impacto do PSA, Robalino afirmou que, em 2016, o desafio é buscar proprietários com menores incentivos para proteger suas florestas e convencê-los com o reconhecimento financeiro. “A ideia sempre é ver quem vai mudar seu comportamento com o programa”, disse Robalino.
Pelas próprias limitações orçamentárias, o programa deve priorizar quais propriedades atende, pois os pedidos de inclusão são cinco vezes superiores à sua capacidade, segundo Rodríguez. Assim, foca-se nos serviços ecossistêmicos: captura de carbono, proteção da água, beleza natural e proteção da biodiversidade.
“Na Costa Rica aprendemos que a floresta vale mais, não pela madeira, mas pelos serviços ambientais que geram”, destacou Rodríguez. Agora, o Fonafifo busca aliar-se com o Ministério de Agricultura e Pecuária para começar um novo programa dirigido a pequenos proprietários que necessitarem de mais apoio técnico, um caminho que também é apontado pela FAO.
“O desenvolvimento agrícola para o mercado interno não requer necessariamente a expansão de áreas de cultivo, mas sim acoexistência com a floresta e a intensificaçãoda produção, melhorando a produtividade e a competitividade dos produtores nacionais”, ressaltou Ramírez.
Tanto a FAO como os especialistas locais ouvidos pela IPS concordam que o PSA aproveitou uma conjuntura nacional e internacional para lançar um projeto de sucesso, mas está longe de ser o único motivo. “O êxito da Costa Rica não se deve exclusivamente ao PSA, mas também a outras políticas, como o fortalecimento do Sistema Nacional de Áreas de Conservação, e também à educação”, segundo Rodríguez.
Além desse programa, o país conta com uma ampla tradição ambientalista: cerca de um quarto do território está protegido, a lei florestal proíbe a mudança do uso da terra com cobertura florestal e são ilegais a caça esportiva, a mineração de metais a céu aberto e a exploração de petróleo. No artigo 50 da Constituição da Costa Rica está plasmado o direito a um ambiente sadio. “Me lembro da professora do primário dizendo na aula que era preciso proteger as florestas”, recordou Robalino.
Entretanto, a recuperação da cobertura florestal não atingiu todos os ecossistemas do país, e deixou esquecidos particularmente os mangues, que viram diminuir sua extensão nas últimas décadas. Segundo o informe que o país enviou em 2014 ao Convênio sobre Diversidade Biológica, a cobertura de mangue passou de 64.452 hectares, em 1979, para 37.420, em 2013, redução de 42%.
Esse ecossistema é particularmente vulnerável às grandes plantações de monoculturas da costa do Pacífico, onde oTribunal Ambiental Administrativo do país denunciou que,entre 2010 e 2014, desapareceram 400 hectares por queimadas, desmatamento e invasões.
Oferecemos arquivo de textos específicos, de documentos, leis, informativos, notícias, cursos de nossa região (Americana), além de publicarmos entrevistas feitas para sensibilizar e divulgar suas ações eficientes em sua realidade. Também disponibilizamos os textos pesquisados para informar/prevenir sobre crescente qualidade de vida. Buscamos evidenciar assim pessoas que podem ser eficientes, mesmo que diferentes ou com algum tipo de mobilidade reduzida e/ou deficiência, procurando informar cada vez mais todos para incluírem todos.