quinta-feira, 9 de julho de 2015

LUTAR POR VIDAS. CONVIVER COM A MORTE.

Sou Eugênio, de 49 anos, bombeiro já reformado. Menino, ficava encantado quando via bombeiros em ação nas cidades maiores próximas.
Já trabalhando, prestei concurso e aos 22 anos já era bombeiro em Campinas. Treinado em escada Magirus e auto bomba, vim para esta cidade capacitar uma equipe, e aprender a manusear plataforma elevatória. Gostei daqui, era mergulhador, fui convidado para ficar, tínhamos muitos casos de afogamento nas represas. Morei no quartel, cuidando de minhas roupas e da limpeza, cozinhando também quando preciso, enquanto meu namoro se consolidava. Isso disciplina a gente.  Casei e tive minha filha.
O bombeiro luta pela preservação das vidas, mas muitas vezes a morte é mais rápida.  Lembro de pais desesperados pela busca das filhas – as adolescentes haviam saído de casa com a promessa de estudar na residência de amiga. Foram nadar na represa. Mergulhei e encontrei os corpos de ambas, abraçados. Difícil administrar a força desta emoção, principalmente quando se tem adolescente da mesma idade em casa. Somos continuamente capacitados para enfrentar situações de risco, catástrofes, incêndios, acidentes e afogamentos. Apesar do autocontrole, as imagens, sons, a urgência de ação ficam sendo assimilados por muito tempo. Senti muita tristeza por não estar em minha cidade natal, quando meu pai faleceu em um incêndio. Já aposentado acordei sobressaltado para me dirigir ao quartel, tendo ouvido sirene de alarme de incêndio que só tocou em meus sonhos...
Mas recebemos sempre o agradecimento da população e os sorrisos admirados das crianças. A vida continua!
“O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte, E quem não tem medo da morte possui tudo. ” – Leon Tolstoi.

Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com

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