LUTAR POR
VIDAS. CONVIVER COM A MORTE.
Sou Eugênio, de 49 anos, bombeiro já
reformado. Menino, ficava encantado quando via bombeiros em ação nas cidades
maiores próximas.
Já trabalhando, prestei concurso e
aos 22 anos já era bombeiro em Campinas. Treinado em escada Magirus e auto
bomba, vim para esta cidade capacitar uma equipe, e aprender a manusear
plataforma elevatória. Gostei daqui, era mergulhador, fui convidado para ficar,
tínhamos muitos casos de afogamento nas represas. Morei no quartel, cuidando de
minhas roupas e da limpeza, cozinhando também quando preciso, enquanto meu
namoro se consolidava. Isso disciplina a gente. Casei e tive minha filha.
O bombeiro luta pela preservação das
vidas, mas muitas vezes a morte é mais rápida. Lembro de pais desesperados pela busca das
filhas – as adolescentes haviam saído de casa com a promessa de estudar na
residência de amiga. Foram nadar na represa. Mergulhei e encontrei os corpos de
ambas, abraçados. Difícil administrar a força desta emoção, principalmente
quando se tem adolescente da mesma idade em casa. Somos continuamente
capacitados para enfrentar situações de risco, catástrofes, incêndios, acidentes
e afogamentos. Apesar do autocontrole, as imagens, sons, a urgência de ação
ficam sendo assimilados por muito tempo. Senti muita tristeza por não estar em
minha cidade natal, quando meu pai faleceu em um incêndio. Já aposentado
acordei sobressaltado para me dirigir ao quartel, tendo ouvido sirene de alarme
de incêndio que só tocou em meus sonhos...
Mas recebemos sempre o agradecimento
da população e os sorrisos admirados das crianças. A vida continua!
“O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte,
E quem não tem medo da morte possui tudo. ” – Leon Tolstoi.
Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:
bfritzsons@gmail.com
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