sexta-feira, 1 de maio de 2015

Terça, 17 de março de 2015

‘Nosso DNA ainda acha que estamos na savana africana’, diz professor de história israelense

Livro de Yuval Noah Harari, que leciona em Jerusalém, usa narrativa eloquente para refletir sobre quem somos e para onde vamos, comenta William Helal Filho, em artigo publicado no jornal O Globo15-03-2015.
Eis o comentário.
Evolucionistas têm explicação para tudo. As nossas dores nas costas, por exemplo, são o preço que pagamos por cérebros avantajados e por andar com “apenas” duas pernas, em posição ereta. Nossos bebês nascem assim, tão subdesenvolvidos e molengos, porque o caminhar ereto exige quadris estreitos e canais de parto apertados, o que não combina com nenéns de cérebros grandes. As mulheres que davam à luz antes do tempo tinham mais chances de sobreviver, o que levou a seleção natural a favorecer, e perpetuar, nascimentos “precoces”. Tudo aconteceu ao longo de milhões de anos, até chegar o Homo sapiens. A espécie surgida há 150 milênios passou a reinar no planeta há 70 mil anos, depois da “revolução cognitiva”, a primeira de uma série de revoluções que, segundo o livro “Sapiens — Uma breve história da humanidade” (Editora L&PM), recém-lançado no Brasil, ditou e continua direcionando o caminhar da civilização.
A obra é uma tentativa de resumir nossa presença e nosso impacto na Terra, assim como de especular para onde a inteligência artificial e a “revolução biológica” vão nos levar. Tudo isso em 418 páginas, o que soa bastante pretensioso. Mas o autor Yuval Noah Harari, um israelense de 39 anos com doutorado em História pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, usa amarrações inteligentes e bem-humoradas, sempre do ponto de vista da evolução, para sobrevoar informações que, se estivessem lá, fariam do livro uma impossível enciclopédia.
— Muitas pessoas não conhecem bem a história da nossa espécie. A gente vê filmes, ouve falar um pouco na escola, mas esses detalhes não se conectam. É um problema porque o passado tem influência direta em nossas escolhas— diz, em entrevista por telefone, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, cuja obra entrou para a lista de mais vendidos do “New York Times”, sob elogios da crítica internacional.
Antes da tal revolução cognitiva, o Homo sapiens não era muito diferente dos outros animais. Mas, há 70 mil anos, começamos a pensar de forma diferente e a criar códigos de comunicação complexos. Isto permitiu ao homem se organizar em grandes grupos, o que foi um dos motivos para ele prevalecer enquanto centenas de animais, inclusive outras espécies humanas, eram extintas:
— Mas as características impressas no nosso código genético por todos os milênios na selva continuam lá. Nossos hábitos alimentares, conflitos e sexualidade são resultado de como as mentes de caçadores-coletores interagem com celulares, metrópoles e tudo mais. Nosso DNA ainda acha que estamos na savana africana.
Nossas faculdades mentais fizeram de nós a única espécie capaz de criar ficção. Foi isto, diz Harari, que tornou possível a expansão da sociedade. Religiões, empresas e dinheiro seriam obras de ficção. “Toda cooperação humana — seja um Estado moderno, uma igreja medieval (...) — se baseia em mitos partilhados que só existem na imaginação coletiva”, afirma o livro. Mas são esses elementos que nos unem em torno das diferentes comunidades.
revolução cognitiva nos levou à revolução agrícola, há cerca de dez mil anos. Há 500 anos, veio a revolução científica e 250 anos depois, a revolução industrial. Chegou a revolução da informação, há cinco décadas, que nos trouxe à revolução biotecnológicaHarari acha que o sapiens pode estar perto do fim. Seria substituído por castas de humanos geneticamente modificados e “amortais”.
— Estamos confiando cargos de trabalho e até decisões pessoais a computadores. A Amazon faz um ótimo trabalho usando meus dados para escolher o próximo livro que vou ler. Os humanos estão correndo o risco de se tornar obsoletos — alerta o autor, rejeitando o rótulo de pessimista.
— Sou apenas realista.

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