Como a destruição de matas ciliares, bacias hidrográficas e da Amazônia compromete a quantidade e qualidade da água que precisamos para viver.
“Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor, da ignorância e do egoísmo. Com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favorecem a vegetação e alimentam nossas fontes e rios”.
A reportagem é de Cristiane Mazzetti, publicada por Greenpeace Brasil, 20-05-2015.
Essas palavras podem soar atuais, dada a situação vivida por muitos brasileiros neste momento, mas foram ditadas há quase 200 anos por José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1825.
Naquela época, o estadista e naturalista brasileiro já tinha uma boa ideia do que poderia acontecer caso continuássemos encarando o Brasil meramente como uma terra a ser explorada, tal como fazia Portugal. Agora, graças a fartos estudos científicos, temos provas de que as florestas são realmente essenciais não apenas para o equilíbrio do clima, mas também para a formação de chuvas e, consequentemente, para a produção de alimentos. As florestas também têm relação direta com a existência de nascentes e com a preservação de rios.
Naquela época, o estadista e naturalista brasileiro já tinha uma boa ideia do que poderia acontecer caso continuássemos encarando o Brasil meramente como uma terra a ser explorada, tal como fazia Portugal. Agora, graças a fartos estudos científicos, temos provas de que as florestas são realmente essenciais não apenas para o equilíbrio do clima, mas também para a formação de chuvas e, consequentemente, para a produção de alimentos. As florestas também têm relação direta com a existência de nascentes e com a preservação de rios.
Isso ficou evidente durante expedição que realizamos há poucas semanas por alguns dos principais – e mais exauridos – mananciais da região Sudeste. Sem floresta em suas bacias e margens, estes reservatórios estão morrendo. Com eles, nosso futuro está ameaçado. Saiba mais sobre a expedição Sem Floresta Não Tem Água (clicando aqui) e assista o vídeo sobre a segunda etapa da viagem: o Sistema Cantareira.
Mas ignoramos os alertas de José Bonifácio, e da Ciência, e insistimos no erro de desmatar. A Mata Atlântica foi saqueada até quase se esgotar, restando atualmente apenas 8,5% de sua floresta original, e já consumimos mais de 19% da Amazônia, que continua perdendo sua cobertura florestal em proporções significativas (cerca de 5 mil km²/ano) .
O resultado disso já pode ser sentido na pele. Ou melhor, nas torneiras, onde o precioso líquido já começou a faltar. Apesar da crise da água no Sudeste ter diversas causas, sua raiz está no desmatamento, seja ele realizado em escala local, em matas ciliares, ou em grande escala, ao longo de bacias hidrográficas e na maior porção de floresta remanescente do país – a Amazônia.
No caso das matas ciliares, que são as porções de floresta localizadas nas beiras de rios e nascentes, a existência de árvores impede a erosão do solo e o assoreamento dos cursos de água. Essas áreas compõem as chamadas Áreas de Preservação Permanente (APP) , que devem ser conservadas de acordo com o Código Florestal.
No caso das matas ciliares, que são as porções de floresta localizadas nas beiras de rios e nascentes, a existência de árvores impede a erosão do solo e o assoreamento dos cursos de água. Essas áreas compõem as chamadas Áreas de Preservação Permanente (APP) , que devem ser conservadas de acordo com o Código Florestal.
O desmatamento das APPs impacta diretamente a qualidade e quantidade de água que chega nos rios e reservatórios. Um estudo da fundação SOS Mata Atlântica mostrou que 76,5% dos rios que compõem o Sistema Cantareira estão sem suas matas ciliares.
Em uma escala um pouco maior, há o desmatamento das bacias hidrográficas, que exerce impacto no clima local. A vegetação armazena água no solo e a transpiração do líquido para a atmosfera ajuda a resfriar o ambiente, favorecendo a formação de chuvas. Além disso, as matas equilibram a quantidade de água da chuva que segue para os rios, que evapora ou que infiltra no solo para abastecer os lençóis freáticos.
Desmatar estas áreas afeta severamente o clima na região da bacia, causando o aumento de temperatura e mudanças na distribuição de chuvas. As bacias hidrográficas que compõem o Sistema Cantareira apresentam apenas 15% de floresta remanescente.
Na base dessa pirâmide climática está a Amazônia, onde o desmatamento tem reflexos em escala continental. A destruição da maior porção de floresta do país pode afetar os padrões hidrológicos não só da Amazônia, mas de toda a América do Sul, inclusive da área agrícola no centro-sul do Brasil e nordeste da Argentina.
A floresta amazônica desempenha um papel único e altamente especializado: ela contribui para a formação de chuvas que abastecem o continente, atua na regulação do clima, na distribuição dos ventos e ainda previne contraeventos climáticos e atmosféricos catastróficos, como furacões. Ao desmatar a Amazônia enfraquecemos seus serviços ambientais essenciais, que beneficiam o país e o mundo.
Diante da atual crise hídrica, e da perspectiva de um futuro ainda mais árido, as medidas emergenciais tomadas até o momento ainda não compreendem compromissos robustos para zerar o desmatamento e recompor florestas nativas em larga escala nas áreas cruciais para o abastecimento das grandes cidades. Faz-se necessário ir além de soluções de curto prazo e garantir a integridade deste valioso bem para amenizar os efeitos das mudanças climáticas: a floresta. É hora de abandonar o vício e fazer a reabilitação.
“Virá então este dia (dia terrível e fatal) em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos”, previu Bonifácio. Se a mudança não começar agora, é possível que estas frases também acabem por virar rotina. A crise da água no Sudeste brasileiro é a prova mais atual.
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