Xodó
afilhado, hoje filho xodó
Meu nome é Emília,
tenho 55 anos. Sou a madrinha de José, que perdeu a mãe com três meses de idade
para a doença de Chagas. Nasceu junto com minhas gêmeas, meu leite alimentou os
três bebês. O pai de José nunca se aproximou.
Criei José junto com
meus filhos. Nunca quis estudar. Estava feliz em seu primeiro serviço com
registro, cuidava de tubulação de gás.
Sua equipe organizou
um churrasco, ele foi junto com seu mestre de trabalho depois do expediente.
Voltando para casa,
ele estava sentado ao lado do motorista, que não percebeu o caminhão parado no
acostamento, com parte da carroceria ainda projetada para dentro da pista.
O impacto atingiu
somente o lado do veículo em que José estava sentado. Parte de seu cérebro, seu
olho esquerdo e nariz foram muito machucados. Enfrentou coma, traqueostomia,
alimentação por sonda. Acordou rindo e olhando para todos. Reconhece as
pessoas. Não tem memória do acidente, somente de fatos passados anteriores.
Sua companheira
cuidou dele por um tempo. Depois foi embora levando a criança de ambos.
Conseguiu parte do ganho do benefício de José como pensão.
Hoje ele tem 33 anos
e faz 13 que se locomove em cadeira de rodas. Faz três sessões de fisioterapia
por semana. Sempre o acompanho. Passo meu dia cuidando dele e da casa. Tem
períodos de sono provocados pela forte medicação que usa. Adora televisão,
rádio, canta as músicas antigas que já conhecia. Parece feliz.
Meu marido tem
comércio próximo. José fica horas lá, apreciando o movimento.
O futuro é isto, e
disto não passa. Peço a Deus a misericórdia de vir buscar logo o José depois
que eu me for.
“Cada qual sabe amar a seu modo, o modo pouco importa. O
essencial é que saiba amar. ” – Machado de Assis.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga,
e-mail:bfritzsons@gmail.com
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