PUDE ESCUTAR
O MUNDO AOS VINTE E QUATRO ANOS
Meu nome é Dhiana,
tenho vinte e cinco anos. Escutei depois de conseguir finalmente comprar
aparelho auditivo, sempre muito caro para nossas condições de família. Havia
promoção, meu pai me ajudou assim a sair de uma fila do SUS em que minha vez
nunca chegava, mesmo esperando há anos. Não me incomodo com sua vibração, pelo
menos entendo as pessoas. Até arrumei namorado depois disto, pela internet.
Estamos juntos há um ano.
A professora do pré-primário
alertou minha mãe quanto á minha deficiência auditiva. Na APAE, fui atendida
durante anos por fonoaudióloga e psicóloga. Não tivemos a oportunidade de
aprender Libras. Eu procurava fazer leitura labial, eu e minha mãe criamos uma
linguagem própria com gestos. Meu pai e meus irmãos nunca participaram deste
nosso universo. Ela faleceu faz quatro anos.
Bem criança, devo
ter sofrido perfuração de ambos tímpanos por repetidas infecções. Aos quatorze
anos finalmente consegui operar pelo menos um ouvido, pelo SUS. Mas
infelizmente ainda sou muito sensível às variações climáticas, ambos ouvidos
sangram, é constrangedor.
Sempre fui babá,
desde os quinze anos, minha mãe conseguia as oportunidades. Frequentei a escola
comum, com muitas dificuldades. Finalizei, aos vinte e um anos o ensino básico.
Moro com dois
irmãos, faço todo o serviço da casa. Buscando trabalho, em agencia de emprego
pude me matricular em curso especializado para pessoas com deficiência, no
SENAI. Quero trabalhar.
Acho natural ser
considerada “fechada”. Prefiro ficar em casa quietinha. Mas poderia ser
diferente – se todos procurassem se aproximar e aprendessem Libras.
" Os limites da minha linguagem
denotam os limites do meu mundo."
Ludwig Wittgenstein
Caso real,
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com
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