República para Idosos: você já ouviu falar sobre isso?
As repúblicas para idosos são relativamente novas. Com o número de pessoas com mais de 60 anos aumentando, também cresceu o número de tipos de moradia. Conhecer esses espaços é fundamental para realizar boas escolhas.
Apesar de ainda ter poucas iniciativas, as repúblicas para idosos podem se tornar uma ótima opção em um futuro próximo. Ter a sua liberdade garantida, privacidade e ao mesmo tempo convívio social, e poder dividir os custos de sua moradia, são bons motivos para optar por viver assim.
Por ser um modelo que não precisa necessariamente de uma instituição para realizar o gerenciamento, as próprias pessoas que decidirem morar em república podem se organizar para escolher o local, a quantidade de moradores, a divisão de tarefas etc. Enfim, é um tipo de moradia com suas características próprias, estabelecidas internamente, que dependem muito da colaboração de todos os moradores.
Segundo a Doutora Maria Luísa Trindade Bestetti, arquiteta e professora do curso de gerontologia do campus USP Leste, as repúblicas realmente podem ser uma solução para cotizar despesas e manter o relacionamento social constante. Mas ela adverte: “assim como em repúblicas de estudantes que, mesmo jovens, encontram diferentes culturas e valores nos seus parceiros, há conflitos e eles estariam ainda mais agravados por menor tolerância e hábitos mais arraigados. Porém, se pensadas com dormitórios independentes e sanitários compartimentados (lavatório com duas cubas em ambiente de livre acesso, bacia em um box e chuveiro noutro…), penso que poderia atender especificidades e manter a individualidade dos moradores. Outra questão é cozinha/despensa: havendo meios de manter o controle, menos chance de conflitos”.
Ao ser questionada sobre os poucos modelos existentes, a professora citou dois pontos principais: o preconceito ainda persistente de que a família é o cuidador, e de quando o idoso é independente, o seu desejo de ainda continuar em sua casa original. “Se houvesse mais experiências relatadas, provavelmente haveria também mais adesões a essa alternativa”, afirma Maria Luísa.
Repúblicas de Santos
As repúblicas mais conhecidas são as que estão localizadas em Santos. Lá existem três repúblicas gerenciadas pela prefeitura e, em todas elas, os idosos são responsáveis pela manutenção do lar.
Os critérios para entrar na república são: ser morador de Santos, idade a partir de 60 anos, autonomia física e psíquica, renda entre um e dois salários mínimos e não residir com a família.
Apesar de a república estar aberta para pessoas a partir de 60 anos, a idade aproximada dos moradores varia entre 75 a 88 anos. Devido ao próprio padrão estabelecido para entrada dos moradores, os idosos pagam um valor acessível, que inclui água, luz e aluguel.
Quando perguntado a Celiana Nunes, chefe de seção de repúblicas de Santos, sobre os pontos positivos em morar nesse tipo de moradia, ela ressaltou a autonomia, liberdade individualidade, e acrescentou: “Eles formam uma família de irmãos ainda que não se deem conta”.
Ao mesmo tempo, ao ser questionado sobre os pontos negativos, novamente foi abordada a convivência. “No geral, eles convivem muito bem. O que acontece dentro da república são coisas banais, assim: não limpou direito o chão, deixou a xícara fora do lugar”, disse Celiana.
Uma das moradoras, a Jurema, com seus 80 anos de idade e cinco deles morando na república, completou: “Eu acho muito bom [morar na república]. É uma segunda família. Aqui são 10 cabeças e cada um pensa diferente do outro. Mas no fim fica tudo bem”.
Para que a convivência seja a melhor possível, existe um regulamento interno montado junto com os moradores ao longo dos anos, ele é renovado de acordo com a necessidade e, quando isso acontece, todos votam sobre o que precisa ser inserido ou retirado. “Hoje o gerenciador da vida dele é ele. Então os direitos e deveres nessa casa são iguais”, acrescenta a chefe de seção.
As regras são bem claras na moradia e isso permite a boa convivência e a sensação de amparo e segurança. A moradora Irene, 73 anos de vida e três deles na república, afirmou: “É um lugar em que a gente tem toda a proteção. Temos toda a assistência e toda a liberdade, desde que respeite o regulamento”.
Durante os 16 anos que Celiana trabalha na república, ela disse ter aprendido muito: “Eu aprendi que nunca é tarde para você ressignificar a vida. Você não muda o passado, mas você o ressignifica a cada instante. Eles acham que aprendem com a gente, mas eles trazem um conteúdo muito importante. São muitas histórias de vida, são conteúdos muito diferenciados”.
Quando perguntado sobre a sua opinião com relação às repúblicas, Celiana foi direta: “É um tipo de moradia excelente. Primeiro porque a pessoa consegue gerenciar a própria vida, ter a autonomia dela, consegue viver bem, sai da vulnerabilidade. E é um projeto que não é caro para a prefeitura, porque eles que gerenciam e não precisa de funcionário na casa. Evita o isolamento, evita o asilamento. E sem contar que a dignidade da pessoa é outra. A pessoa fica mais feliz, eleva a autoestima, refaz vínculos”.
Redatora: Tássia Chiarelli.
Tássia Monique Chiarelli é Gerontóloga pela USP, e sócia-diretora da OPA.
Tássia Monique Chiarelli é Gerontóloga pela USP, e sócia-diretora da OPA.
Revisor: Claudelino Gregório Priviero Brito
Claudelino Gregório Priviero Brito é formado em Letras Vernáculas pela USP e em Pedagogia pela Faculdade Carlos Pasquale.
Claudelino Gregório Priviero Brito é formado em Letras Vernáculas pela USP e em Pedagogia pela Faculdade Carlos Pasquale.
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FONTE : http://opaportal.com.br/site/fiquesabendo/republica-para-idosos/
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