Envelhecimento intelectualmente ativo
Escrito por Cristiane Pomeranz(*)
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A vida pede mudanças. Mudanças de comportamento e de olhares. Como enxergar a velhice? Esta pergunta tornou-se corriqueira para todos nós que envelhecemos e que olhamos ao redor de um mundo repleto de idosos. Idosos existindo em sua condição.
Muito se fala em envelhecimento ativo. O conceito de idosos apáticos, inexistentes como sujeitos e que apenas vivem em função da vida dos outros, tornou-se obsoleto.
A partir da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que segue o marco legal da Política do Envelhecimento Ativo da Organização Mundial da Saúde (OMS), entendemos o objetivo do envelhecimento ativo como a possibilidade de aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde entendemos “saúde” como o bem-estar físico, mental e social. Por isso, em um projeto de envelhecimento ativo, as políticas e programas que promovem saúde mental e relações sociais são de fundamental importância. Manter a autonomia e independência durante o processo de envelhecimento é uma meta essencial para indivíduos e governantes.
Observa-se, portanto, que existem novas formas de se viver a velhice. É preciso ser arrojado para envelhecer. Atirar-se na vida, nos esporte e quiçá de paraquedas. Envelhecer ativamente é o sonho de qualquer um, mas não podemos nos esquecer de respeitar todas as velhices com suas heterogeneidades.
É possível querer ser um velho capaz e ativo na sua calma. Mas será que é permitido envelhecer para navegar na calmaria de um oceano sem ondas?
Faz-se a hora de repensarmos o conceito de idoso ativo. Envelhecer mantendo a intelectualidade ativa é uma forma excepcional de viver a velhice. Mentes estimuladas com assuntos interessantes ganham asas e voam muito mais alto do que o idoso que pula de parapente.
Manter a autonomia de pensamento e saber direcioná-los a questões que gerem novos interesses para a vida atual, agora regrada de tempo com qualidade, faz a diferença para os idosos que envelhecem e mantém a curiosidade aguçada na própria vida.
Entregar-se a cultura, a arte, a novas línguas, a informática, enfim, a novos conhecimentos, é optar por viver uma velhice altamente ativa e positiva. É preciso e muito necessário, oferecer aos idosos espaços que incentivem esses voos.
Em Jundiaí, cidade do estado de São Paulo, encontramos o Celmi - Centro de Educação e Lazer para a Melhor Idade. Um espaço criado para suprir a necessidade de envolvimento e aprendizados novos e altamente estimulantes para pessoas com 40 anos ou mais. Seus cursos contemplam os mais diversos interesses da população, da parte física à mental, sem deixar de lado a cultural e a espiritual.
Neste centro de educação o idoso envolve-se em atividades que garantem o envelhecimento intelectual ativo. Aprende-se então a se reinventar através do contato com novas formas de ver e pensar a vida.
O convívio social, unido aos interesses despertados, modifica a forma de envelhecer de seus 800 alunos. As aulas são inteligentes, interessantes e entregam temas estimulantes em forma de informação. Um verdadeiro presente para os idosos que enchem as salas do lugar. Exemplo de maneira de pensar e viver o envelhecimento, que deveria servir de modelo para prosperar.
Resta saber qual velhice queremos para nós e plantá-la agora no presente.
E já que os poetas são grandes mestres de sabedoria, podemos citar a poesia “O Isso ou aquilo” de Cecília Meireles. Ou se voa de parapente ou se voa pelo intelecto.
Qual voo você prefere?
Para entendermos um pouco da dinâmica do Celmi, entrevistamos Orlinda Silva, coordenadora dos cursos para terceira idade.
Portal do Envelhecimento: Como são pensadas as propostas de aulas do Celmi e como vocês chegam ao tema?
Orlinda Silva (Celmi): O público que frequenta o Celmi é diferenciado, são pessoas que tem um grau de instrução um pouco maior e por isso são mais exigentes. Conscientes deste potencial, oferecemos cursos que permitem o acesso a novos saberes. Eles gostam de aprender coisas novas, são atuantes, participativos na sociedade e com isso procuram um espaço que atendam suas necessidades. Também atendemos a sugestões dos próprios alunos que sugerem algum curso de seu interesse. Então buscamos o profissional e idealizamos suas vontades. Mas fica fácil oferecer cursos interessantes quando se conhece o público que se atende.
Portal do Envelhecimento: Quais os cursos mais procurados pelos idosos?
Orlinda Silva (Celmi): Os idiomas, Inglês, Espanhol e Italiano, a História da Arte, Neurolinguística e as atividades físicas como Pilates, Ginástica Funcional e Yoga, também são muito procurados.
Portal do Envelhecimento: Vocês percebem a melhora na qualidade de vida dos idosos?
Orlinda Silva (Celmi): É muito nítida a melhora na saúde e qualidade de vida das pessoas que começam a fazer alguma atividade aqui. Sentir-se inserido é muito importante para eles que até então se sentiam excluídos e sem mais nenhuma "utilidade", a partir do momento em que percebem que podem aprender coisas novas, se sentem motivados a participar ainda mais. Isso é muito bom! O convívio social também faz a diferença, quando o idoso se identifica com o outro fica mais fácil lidar com suas dificuldades e o problema se torna mais leve e mais fácil de ser solucionado.
Portal do Envelhecimento: O Celmi é um lugar que faz a diferença na vida de muitos idosos, mas mesmo assim não é comum encontrarmos outros lugares como este em outras partes do país. Em sua opinião, o que dificulta a execução de espaços similares a este em outros lugares do Brasil?
Orlinda Silva (Celmi): Creio que isso já está mudando, muitos trabalhos já estão sendo oferecidos aos idosos, mas ainda temos muito a caminhar. Neste modelo como o Celmi, ainda é muito pouco o que encontramos por aí. Percebo a surpresa nos grupos a quem costumo apresentar nosso trabalho, o diferencial do Celmi é possibilitar o acesso a novos conhecimentos e valorizar as potencialidades de cada um. Culturalmente ainda se pensa que o idoso não tem mais nada a aprender e muito menos a oferecer o que é um grande equívoco e que pode ser comprovado neste trabalho do Celmi.
No meu ponto de vista ainda não descobriram a satisfação e prazer que este trabalho proporciona, porque quando se descobre é como descobrir um grande tesouro.
O que oferecemos são novas possibilidades e o que colhemos é a felicidade!
Aprender pelo prazer
Felicidade facilmente percebida em meio ao movimento do entrar e sair das salas de aulas.
A cumplicidade entre os idosos é visível e o prazer de estar ali é refletido também fisicamente. As posturas irradiam a grandeza do saber. Seus alunos olham para frente e são capazes de fazer planos que garantam o pensamento intelectual ativo.
Ao conversar com um idoso, frequentador do Celmi desde sua aposentadoria como professor universitário, é possível perceber a mudança positiva que este lugar proporcionou em sua vida.
“Faço italiano, História da Arte, frequento as aulas sobre a História do Amor e da família e também faço pilates por preços acessíveis. Minha esposa tem as atividades dela e assim tornamos nossos dias interessantes e estimulantes. Um amigo meu, professor aposentado como eu, não entendeu a minha disposição em aprender uma nova língua. Disse que era uma bobagem esse aprendizado e que não teria mais utilidade para mim que ano que vem completo 80 anos. Não levei em consideração o que ouvi. Ele é amargo e parece ter morrido após a aposentadoria. Eu quero viver, e aprender italiano é um desafio que me traz vida. A utilidade? Aprender pelo prazer! Não é o suficiente?”
A vida é feita de escolhas. Escolhas que influenciarão nossa maneira de viver a velhice.
E mais uma vez, refletindo sobre a divertida poesia de Cecília Meireles,
Ou isso ou aquilo: Ou se morre vivo, ou se vive a vida.
A escolha depende da história que cada um traçou para si e da disposição de viver e compreender sua própria existência. Única, em seu pensar e em seu envelhecer.
Celmi
Para mais informações sobre o Celmi, lugar descrito nesta reportagem, acesse o siteAqui
(*) Cristiane Pomeranz é arteterapeuta e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP.
http://www.portaldoenvelhecimento.com/politica/item/4022-envelhecimento-intelectualmente-ativo
Email: crispomeranz@gmail.com
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