A ACAPO quer garantir que os avanços tecnológicos chegam a todos os que precisam, uma vez que podem ser essenciais para os cegos, e que as empresas não esquecem a acessibilidade.
A primeira vez que Ana Sofia Antunes usou um software de reconhecimento de fala, para ler o que estava escrito no ecrã de computador, achou que nunca ia perceber aquela voz, que parecia uma mistura "de um pato constipado com um robô acabado de cair na terra". Menos de duas décadas depois tem essa tecnologia na palma da mãe e com muito mais qualidade.
É esse salto tecnológico que a presidente da ACAPO, a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, quer salientar no ano em que celebram o 25º aniversário. Sobretudo para garantir que os benefícios destes avanços chegam a todos os que precisam, uma vez que podem ser essenciais para os cegos, e que a tecnologia não esquece a acessibilidade.
Afinal, sabia que o seu iPhone pode ser o melhor amigo de um cego? Qualquer telemóvel ou tablet da Apple "esconde" um sintetizador de fala, para ler tudo o que aparece no ecrã, é capaz de receber instruções ditadas pelo utilizador, e até tem um teclado braile. "Hoje em dia tenho um iPhone, posso ver o tempo, ver e responder a mensagens e e-mails, fazer o reconhecimento de um objeto, por exemplo quando chego à despensa e tenho duas caixas exatamente iguais, para saber no que estou a agarrar. Posso usar um OCR [um programa de reconhecimento de carateres que lê], para ler uma ementa num restaurante". Ou seja, é hoje muito mais autónoma.
Além do software de base dos telemóveis, há aplicações desenhadas para tornar mais fácil a vida dos deficientes visuais e outras que foram pensadas para toda a gente mas que ganham novo significado para os cegos. Fernando Santos, técnico de informática na ACAPO, mostra uma aplicação que lhe permite descobrir onde há paragens de autocarro e quando tempo falta para passar o próximo - como a informação aparece no ecrã do telemóvel pode ouvi-la. Ou outra, um GPS que lhe permite orientar-se melhor nas ruas de Lisboa.
Também há aplicações para perceber se a luz está ligada numa sala (Light Detector) ou identificar a cor de um objeto. Graça Gerardo, da direção da ACAPO, refere uma aplicação que usa para perceber a cor da roupa que escolhe para vestir de manhã (Colour Detector).
Aliás, os telemóveis inteligentes, nomeadamente o iPhone, ocupam um lugar de destaque nos produtos de apoio prescritos pela ACAPO para a inclusão laboral e social - e pagos pelo Instituto de Emprego e pela Segurança Social. No início tiveram alguma dificuldade a convencer o Estado a pagar iPhones, mais caros, mas Ana Sofia garante que em termos de acessibilidade estão uns furtos acima de todos os outros. "Os Android e Microsoft têm soluções adaptadas, que não são tão boas, mas é bom ver tque todos estão a correr atrás e fazer um esforço."
Outra grande novidade que a revolução da informática trouxe para as pessoas com deficiência visual é o acesso às notícias do dia, da imprensa. "Ler um jornal era impossível para um cego, hoje podemos ir ao computador e ouvir as notícias que queremos com um leitor de ecrã", explica Jorge Fernandes, da unidade de acessibilidade da Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT). Infelizmente a maior parte dos sites são muito pouco acessíveis a pessoas com deficiência, critica, até na administração pública.
O futuro pode trazer mais novidades para as pessoas com deficiência visual - de ecrãs 3D que permitam ler em braile a carros adaptados - mas também traz riscos e um dos principais medos das pessoas com deficiência visual é ficar de fora do avanço tecnológico. "Assusta-nos quando pensamos que a tecnologia pode correr mais depressa do que a acessibilidade", admite Ana Sofia Antunes. Até porque já assistiram a desenvolvimentos, como o generalizar dos ecrãs táteis, que foram na prática retrocessos.
Fonte: DN Portugal
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quarta-feira, 15 de abril de 2015
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