Eu me vejo
naquele que cuido
Sempre tive muito prazer em ser parceira de
trabalho de meu pai. Engenheiro já aposentado, abriu firma de consultoria em
sua área para empresas, e eu ajudava nos procedimentos necessários. Também fui
instrumentadora cirúrgica em equipe atuando no Instituto do Coração. Também fui
professora, de algumas matérias, em escolas estaduais e particulares. Em todas
estas atividades percebo que o elo comum é entender as pessoas, entender quais
suas necessidades, e ajudar. Gosto de trabalhar com gente.
Num desses momentos
inesperados da vida, fui acompanhando meu pai adoentado, minha mãe aflita ao
seu lado, tentando entender o que estava acontecendo com sua saúde, em
sucessivas consultas e procedimentos médicos. Precisamos de quase seis meses
para chegar ao diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica – ELA, doença ainda
sem cura.
Minha mãe não
dirige, então passei a ser a cuidadora de ambos, deixando que ela fizesse o
contato direto com o doente e assumindo o cuidado da porta de casa para fora –
levar às consultas, agendar, cuidar de documentos de internação, contratar
serviços, organizar a busca e compra de medicamentos. Eu me desdobrava em mil
Ritas, procurando defende-los para que tivessem o melhor.
A experiência me transformou
em uma cuidadora profissional. Ofereço cuidados de enfermagem, companhia,
informações para o paciente e familiares passarem da melhor forma possível este
momento de vida.
Fico presente e
próxima até a pessoa findar sua jornada. E daí recomeço o cuidado, com outra
pessoa. Vejo neste outro que cuido, talvez eu mesma, no futuro. Ou alguém de
minha família. E continuo cuidando...
“Há tanta suavidade em
nada dizer. E tudo se entender.” – Fernando Pessoa.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:
bfritzsons@gmail.com
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