domingo, 5 de abril de 2015

A definição profissional de uma vocação? Ou uma necessidade pessoal de reviver uma situação de cuidar?

Eu me vejo naquele que cuido

   Sempre tive muito prazer em ser parceira de trabalho de meu pai. Engenheiro já aposentado, abriu firma de consultoria em sua área para empresas, e eu ajudava nos procedimentos necessários. Também fui instrumentadora cirúrgica em equipe atuando no Instituto do Coração. Também fui professora, de algumas matérias, em escolas estaduais e particulares. Em todas estas atividades percebo que o elo comum é entender as pessoas, entender quais suas necessidades, e ajudar. Gosto de trabalhar com gente.
   Num desses momentos inesperados da vida, fui acompanhando meu pai adoentado, minha mãe aflita ao seu lado, tentando entender o que estava acontecendo com sua saúde, em sucessivas consultas e procedimentos médicos. Precisamos de quase seis meses para chegar ao diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica – ELA, doença ainda sem cura.
   Minha mãe não dirige, então passei a ser a cuidadora de ambos, deixando que ela fizesse o contato direto com o doente e assumindo o cuidado da porta de casa para fora – levar às consultas, agendar, cuidar de documentos de internação, contratar serviços, organizar a busca e compra de medicamentos. Eu me desdobrava em mil Ritas, procurando defende-los para que tivessem o melhor.
   A experiência me transformou em uma cuidadora profissional. Ofereço cuidados de enfermagem, companhia, informações para o paciente e familiares passarem da melhor forma possível este momento de vida.
   Fico presente e próxima até a pessoa findar sua jornada. E daí recomeço o cuidado, com outra pessoa. Vejo neste outro que cuido, talvez eu mesma, no futuro. Ou alguém de minha família. E continuo cuidando...
 “Há tanta suavidade em nada dizer. E tudo se entender.” – Fernando Pessoa.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com


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