Idoso com demência pode apresentar hipersexualidade
A sexualidade na velhice continua sendo um tema negligenciado pelos profissionais de saúde e pela sociedade de uma forma geral.
As pessoas esquecem que, mesmo após a oitava década de vida, muitos idosos continuam sexualmente ativos, pelo menos no que diz respeito ao interesse sexual.
Mas se o sexo na velhice ainda é um tabu na sociedade, imagine discutir a sexualidade dos idosos dementes!
O assunto foi tema de uma das mesas do congresso brasileiro de geriatria e gerontologia, que terminou no sábado em Belém (Pará), e surpreendeu muita gente, inclusive a mim, que desconhecia a dimensão do problema.
Muitos profissionais de saúde relataram que idosos com demência podem apresentar uma hipersexualidade e comportamentos como tirar a roupa em público, acariciar os genitais ou tentar agarrar o cuidador ou alguém da família.
Alguns profissionais orientam os familiares a não reagir, lembrando que o comportamento é decorrente da doença, não por vontade própria do idoso. E, de maneira calma, tentar distrair a pessoa com outra atividade.
Um relato recorrente foi de idosos querendo fazer sexo várias vezes ao dia. Segundo os médicos, isso também pode fazer parte do quadro de demência. A pessoa não se lembra que havia acabado de fazer sexo e volta a sentir "desejo" novamente.
Esse comportamento sexual pode ser causado por uma hiperexcitação do sistema límbico (região do sistema nervoso central responsável pelas emoções e sexualidade). Isso ocorre pela própria doença ou por medicamentos utilizados.
A fluvoxamina, bupropiona e trazodona, por exemplo, podem aumentar a libido. Já a clomipramina e a fluoxetina podem provocar orgasmos espontâneos.
Esse é um assunto que precisa ser mais falado, discutido com o médico e outros profissionais de saúde. Muitas famílias, porém, ainda preferem esconder esses comportamentos, o que é um grande equívoco.
Ouvi relatos dramáticos, como o de uma psicóloga que atendeu uma idosa que sofre calada a violência sexual praticada pelo marido demente. Aos 78 anos, ela não sente mais desejo sexual, não tem lubrificação vaginal, mas aceita manter relações sexuais com o marido porque o sexo o "acalma".
Outros relatos parecidos foram feitos, o que mostra que há muita coisa debaixo do tapete. A questão do aumento da incidência do HIV entre os idosos é algo que também preocupa os especialistas. Há estudos mostrando, por exemplo, que o vírus entre os idosos pode acelerar processos demenciais em razão de alterações neurológicas. Mais uma razão para estimular o teste do HIV entre essa população.
São tantos os problemas de saúde (doenças crônicas e degenerativas) e sociais (falta de uma rede de cuidados) envolvendo a terceira idade que a sexualidade foi deixada em segundo plano por muito tempo.
Mas os novos velhos vêm desafiando o estereótipo tradicional da "velhice assexuada". Com os medicamentos que permitem manter a ereção e a reposição de hormônios femininos perdidos na menopausa, a vida sexual deixou de ser datada. Agora, é preciso entender essas mudanças e criar condições para que elas se fortaleçam de forma segura.
As pessoas esquecem que, mesmo após a oitava década de vida, muitos idosos continuam sexualmente ativos, pelo menos no que diz respeito ao interesse sexual.
Mas se o sexo na velhice ainda é um tabu na sociedade, imagine discutir a sexualidade dos idosos dementes!
O assunto foi tema de uma das mesas do congresso brasileiro de geriatria e gerontologia, que terminou no sábado em Belém (Pará), e surpreendeu muita gente, inclusive a mim, que desconhecia a dimensão do problema.
Muitos profissionais de saúde relataram que idosos com demência podem apresentar uma hipersexualidade e comportamentos como tirar a roupa em público, acariciar os genitais ou tentar agarrar o cuidador ou alguém da família.
Alguns profissionais orientam os familiares a não reagir, lembrando que o comportamento é decorrente da doença, não por vontade própria do idoso. E, de maneira calma, tentar distrair a pessoa com outra atividade.
Um relato recorrente foi de idosos querendo fazer sexo várias vezes ao dia. Segundo os médicos, isso também pode fazer parte do quadro de demência. A pessoa não se lembra que havia acabado de fazer sexo e volta a sentir "desejo" novamente.
Esse comportamento sexual pode ser causado por uma hiperexcitação do sistema límbico (região do sistema nervoso central responsável pelas emoções e sexualidade). Isso ocorre pela própria doença ou por medicamentos utilizados.
A fluvoxamina, bupropiona e trazodona, por exemplo, podem aumentar a libido. Já a clomipramina e a fluoxetina podem provocar orgasmos espontâneos.
Esse é um assunto que precisa ser mais falado, discutido com o médico e outros profissionais de saúde. Muitas famílias, porém, ainda preferem esconder esses comportamentos, o que é um grande equívoco.
Ouvi relatos dramáticos, como o de uma psicóloga que atendeu uma idosa que sofre calada a violência sexual praticada pelo marido demente. Aos 78 anos, ela não sente mais desejo sexual, não tem lubrificação vaginal, mas aceita manter relações sexuais com o marido porque o sexo o "acalma".
Outros relatos parecidos foram feitos, o que mostra que há muita coisa debaixo do tapete. A questão do aumento da incidência do HIV entre os idosos é algo que também preocupa os especialistas. Há estudos mostrando, por exemplo, que o vírus entre os idosos pode acelerar processos demenciais em razão de alterações neurológicas. Mais uma razão para estimular o teste do HIV entre essa população.
São tantos os problemas de saúde (doenças crônicas e degenerativas) e sociais (falta de uma rede de cuidados) envolvendo a terceira idade que a sexualidade foi deixada em segundo plano por muito tempo.
Mas os novos velhos vêm desafiando o estereótipo tradicional da "velhice assexuada". Com os medicamentos que permitem manter a ereção e a reposição de hormônios femininos perdidos na menopausa, a vida sexual deixou de ser datada. Agora, é preciso entender essas mudanças e criar condições para que elas se fortaleçam de forma segura.
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros 'Quero ser mãe' e 'Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'. Escreve às terças.
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