PERDI MEU RUMO, PRECISO
RECALCULAR A ROTA
A
infância pobre, que me fez desde os onze anos trabalhar muito para ajudar minha
família, não me tirou a vontade de estudar. Muito tempo distante da escola
regular lutei por uma vaga na escola secundária, aonde fui líder de classe.
Fiquei submissa a uma rotina de muito trabalho, sem sair de casa, sem amigas,
entregando todo o salário para a mãe. Depois, no Polivalente, um colega de
classe me trazia alegria, achava positivo que ele demonstrasse não ter vícios (
beber e fumar). Eu trazia marcas deste tipo em minhas memórias de família.
Foram dois anos de um namoro calmo. Casados, trabalhávamos ambos e fomos
construindo nossa vida-nossa casa, duas filhas. Eu tinha uma condição de ganho
maior no trabalho, mas isto nunca nos incomodou. Em vinte e cinco anos de união
o conforto foi crescente, com viagens e um carro para cada um. Aos poucos fui
percebendo mudanças em meu companheiro – muitas mensagens no celular, muito
acesso ao Face book, uma súbita preocupação com a forma física, freqüência à
academia, nutrólogo – isto aos cinqüenta anos. Eu assistia a tudo meio
congelada, sem conseguir entender. Um dia abraçou minhas filhas chorando e
disse que ia sair de casa, acrescentado que gostava demais de mim, que sua
consideração pela minha pessoa era maior do que ele teria pela própria mãe.
Hoje estou com cinqüenta e poucos anos, sou Mariza, fiz faculdade, as filhas
têm a vida definida, e ainda não consigo digerir a desconstrução de meu simples
sonho de ter uma família, e envelhecer com meu parceiro. Sou religiosa demais
para isso. Agora é tempo de redefinição de objetivos e de sonhos – estou feliz,
trabalhando com minha filha, em seu estabelecimento comercial.
“Nosso destino não está escrito nas estrelas,
mas em nós mesmos.” – William Shakespeare.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da
Silva, psicóloga, e-mail;bfritzsons@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário