BLOG MISTURE TUDO - RAIZ BRASILEIRA
O Brasil passou por
períodos complicados entre 1980 e 1990. Casado e com um filho pequeno,
apreensivo, pensei em tentar construir vida de trabalho nos Estados Unidos. Mas
sabia falar o idioma japonês, aprendido com os pais, e o Japão decolava
financeiramente, os moços japoneses não se sentiam atraídos por serviços mais
braçais. Fui ser um decasségui (a pessoa que trabalha distante de casa),
deixando a família aqui. Sonhava acumular patrimônio que me fizesse chegar á
casa própria. Nesta época eu tinha 46 anos, meu filhinho 8 anos.Fiquei lá
durante dezesseis anos, perdi todo o desenvolvimento de meu mocinho, só conseguia voltar para ver a família à cada
três ou quatro anos. Ainda bem que posso desfrutar de sua companhia de adulto,
hoje – ele é a pessoa que tecnicamente operacionaliza o trabalho de uma banda,
vive de música, e mora conosco.
Tenho
o segundo grau, sou formado em contabilidade. Fui ser montador de carros por
oito anos, e depois trabalhei em padaria industrial, no tempo restante. Eles
não exigem experiência prévia na função, eles ensinam o novo trabalho para
você, diferente do que se faz no Brasil. Eram oito horas/dia mais duas horas
extras. Com esta carga horária tão alta, a exaustão não permite que você crie
uma rotina social incluindo esportes, amigos ou lazer. Não consegui fazer
nenhum amigo nos primeiros seis meses desta jornada. O povo japonês tem uma
rotina própria, e os espaços sociais de festas de família são comemorações
marcadas em restaurantes, diferentes das nossas aqui, aonde sempre cabe mais
um. Não é fácil fazer novas amizades nesta realidade Acabávamos usando o tempo
de fim de semana com os brasileiros mais próximos. Hoje sei que deveríamos ter assumido o desafio em
dois – um deveria ganhar para a família sobreviver, e o outro ganhar para
guardar. E tudo com muitos sacrifícios, sem poder conhecer o país, ou mesmo
fazer um simples passeio. Minha esposa sempre lutou junto comigo, trabalhando
aqui no Brasil também, como ajudante de padaria. Quando retornei ao nosso país
tinha 62 anos e não encontrei emprego, trabalhando em horta orgânica até três
anos atrás. É um trabalho duro, eu nunca tinha feito antes, aprendi fazendo.
Aprendi a gostar deste ofício. Mas são raros os terrenos disponíveis para
plantio, precisei interromper esta atividade. Tenho 72 anos e ainda busco
trabalho, é difícil de encontrar – tenho disposição e excelente saúde. Ainda
vou ter minha casa própria, com certeza. – “O tempo é o melhor autor; sempre
encontra um final perfeito.” – Charles Chaplin.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da
Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com.
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