quinta-feira, 6 de março de 2014

Caso real - Raiz Brasileira

 BLOG MISTURE TUDO - RAIZ BRASILEIRA

            O Brasil passou por períodos complicados entre 1980 e 1990. Casado e com um filho pequeno, apreensivo, pensei em tentar construir vida de trabalho nos Estados Unidos. Mas sabia falar o idioma japonês, aprendido com os pais, e o Japão decolava financeiramente, os moços japoneses não se sentiam atraídos por serviços mais braçais. Fui ser um decasségui (a pessoa que trabalha distante de casa), deixando a família aqui. Sonhava  acumular patrimônio que me fizesse chegar á casa própria. Nesta época eu tinha 46 anos, meu filhinho 8 anos.Fiquei lá durante dezesseis anos, perdi todo o desenvolvimento de meu mocinho,  só conseguia voltar para ver a família à cada três ou quatro anos. Ainda bem que posso desfrutar de sua companhia de adulto, hoje – ele é a pessoa que tecnicamente operacionaliza o trabalho de uma banda, vive de música, e mora conosco.
            Tenho o segundo grau, sou formado em contabilidade. Fui ser montador de carros por oito anos, e depois trabalhei em padaria industrial, no tempo restante. Eles não exigem experiência prévia na função, eles ensinam o novo trabalho para você, diferente do que se faz no Brasil. Eram oito horas/dia mais duas horas extras. Com esta carga horária tão alta, a exaustão não permite que você crie uma rotina social incluindo esportes, amigos ou lazer. Não consegui fazer nenhum amigo nos primeiros seis meses desta jornada. O povo japonês tem uma rotina própria, e os espaços sociais de festas de família são comemorações marcadas em restaurantes, diferentes das nossas aqui, aonde sempre cabe mais um. Não é fácil fazer novas amizades nesta realidade Acabávamos usando o tempo de fim de semana com os brasileiros mais próximos.          Hoje sei que deveríamos ter assumido o desafio em dois – um deveria ganhar para a família sobreviver, e o outro ganhar para guardar. E tudo com muitos sacrifícios, sem poder conhecer o país, ou mesmo fazer um simples passeio. Minha esposa sempre lutou junto comigo, trabalhando aqui no Brasil também, como ajudante de padaria. Quando retornei ao nosso país tinha 62 anos e não encontrei emprego, trabalhando em horta orgânica até três anos atrás. É um trabalho duro, eu nunca tinha feito antes, aprendi fazendo. Aprendi a gostar deste ofício. Mas são raros os terrenos disponíveis para plantio, precisei interromper esta atividade. Tenho 72 anos e ainda busco trabalho, é difícil de encontrar – tenho disposição e excelente saúde. Ainda vou ter minha casa própria, com certeza. – “O tempo é o melhor autor; sempre encontra um final perfeito.” – Charles Chaplin.


Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com.


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