sexta-feira, 14 de março de 2014

14/03/2014 - Depressão na terceira idade

Fonte: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Saude/175235,,Depressao+na+terceira+idade.aspx

Saúde
 
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São José do Rio Preto, 14 de Março, 2014 - 1:42
Depressão na terceira idade

Juliana Ribeiro

Stock Images/Divulgação
Envelhecer traz consigo algumas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Para o psiquiatra Pedro Katz, do Hospital Samaritano, em São Paulo, o envelhecimento, embora seja um avanço biológico normal, nem sempre é encarado como tal. “Estamos preparados para viver, mas não para envelhecer”, diz. Katz cita uma frase de Minkowiski: “A vida em mim caminha sempre para o futuro e eu caminho para a morte”. a profundidade dessa afirmação nos mostra a angústia contida na evolução do envelhecimento e o que poder surgir daí.

Assim como em qualquer fase da vida, o idoso também está propício a ter depressão. “Depressão não é normal em qualquer fase da vida. A pessoa e os familiares precisam ficar atentos aos sinais. Precisam reconhecer o problema e romper barreiras. Porque até hoje algumas pessoas sentem vergonha de dizer que têm ou de que algum familiar sofre de depressão. Depressão é uma doença e deve ser tratada como tal”, alerta Sergio Blay, psiquiatra e professor associado do departamento de psiquiatria da Unifesp, em São Paulo.

De acordo com especialistas, com o envelhecimento o corpo, o metabolismo, os hormônios, tudo muda. “Hormônios de atividade como estrógeno, testosterona e outros ligados à potência e energia vão caindo progressivamente, enquanto hormônios ligados ao estresse (desgaste, sobrecarga) tendem a se elevar, sendo o mais característico deles o cortisol, tão falado em situações de estresse mesmo nos mais jovens. Sua presença em níveis elevados está associada com frequência a quadros depressivos graves”, esclarece Pedro Katz.

Além disso, o envelhecimento pode cursar com perdas cognitivas (memória, capacidade de raciocínio) e sensoriais (redução de visão, audição e outros) que passam a agir como obstáculos para a manutenção de vida social e comunitária, além de limitações físicas que também podem surgir.

Não se pode esquecer ainda das mudanças sociais, como aposentadoria, adoecimento e morte de amigos, companheiros de longa data e mesmo familiares, pela lei natural da vida. “É importante salientar que em qualquer fase da vida isolamento é sinônimo de estresse, mas na maturidade ele é mais nocivo ainda. O impacto do fator relacionamento social, assim como o de manter hábitos saudáveis durante toda a vida (alimentar-se bem, não fumar, exercitar-se e dedicar-se a atividades intelectuais), além de desenvolver a espiritualidade, são fatores de enorme peso para chegar bem a uma idade avançada”, ensina Pedro Katz.

Família é ponto de apoio

Quem precisa entender e aceitar que está doente é o indivíduo, mas o papel da família é fundamental para melhora no quadro. “A depressão afeta a vida não só do indivíduo, mas também de todos os entes queridos ao seu redor. Algumas vezes, o deprimido acha difícil dar o primeiro passo em busca de ajuda e, nessa hora, a participação de familiares e amigos é fundamental. Ouvir o que a pessoa tem a dizer é importante na identificação da crise depressiva. A doença leva o indivíduo a não sentir-se bem. Ele manifesta isso e sentimento não se discute. Nesta hora, ter a compreensão dos que o cercam e buscar prontamente apoio profissional sem críticas ou pré-conceitos é fundamental”, diz o psiquiatra Pedro Katz.

Ele reforça que, em um segundo momento, com o tratamento em andamento, o familiar deve ser um ponto de apoio do paciente. Um bom conselho é não tentar apressar a recuperação, pois cada indivíduo tem seu tempo. À medida que o paciente se sente melhor, principalmente o mais idoso, conversar sobre os fatos da vida de forma serena, honesta, clara e aberta pode ser reconfortante. “Não nos esqueçamos que o idoso tem mais para nos ensinar do que para aprender. Quando deprimido, não consegue fazer isso. Vale conversar com o paciente, mostrando o quanto sua vida é valiosa e importante, expressando a preocupação e não subestimando a doença.”

Prevalência chega a 30%

Um quadro de depressão tem diversas variáveis - pode ser leve, moderado, grave, duradouro ou esporádico. Em um primeiro momento, é preciso diferenciar a doença de quadros de tristeza passageiros, que são comuns em todas as pessoas. Alguns estudos mostram que a expectativa para doença mental, incluindo quadros demenciais e transtorno funcional, tem se elevado de 43%, aos 61 anos, para 67%, aos 81 anos. No entanto, nem sempre e fácil determinar o padrão de normalidade para o idoso. Às vezes, por questões sócio-culturais, os idosos relutam ou mesmo omitem sintomas mentais que, com frequência, permeiam suas queixas de natureza somática.

“A depressão é uma enfermidade frequente no idoso, associada a elevado grau de sofrimento psíquico. Na população geral, tem prevalência em torno de 15%; em idosos vivendo na comunidade, essa prevalência gira em torno de 2 a 14%, e em idosos institucionalizados, a prevalência chega a 30%”, alerta Marina Arnoni Balieiro, psicóloga do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Na terceira idade, muitas vezes, os sintomas são detectados tardiamente. “Isso acontece porque alguns sintomas da depressão podem ser confundidos e interpretados como fadiga. Assim, alguns profissionais não reconhecem de imediato o quadro e o tratamento acontece muito tarde, e pode ser agravado por isso”, diz Blay.

Famílias em que se cultiva e difunde o conceito de união e convívio e nas quais os mais velhos são tratados com acolhimento, respeito e dignidade têm maiores chances de gerar bom relacionamento e, quando da presença de doenças como depressão, por exemplo, obter melhores resultados no tratamento. “Creio que uma importante diferença entre quadros depressivos na terceira idade e em outras idades é que, na terceira idade, prevalece uma menor participação de fatores genéticos e uma maior participação de fatores ambientais estressores. O corpo está fisicamente, psiquicamente e socialmente mais vulnerável”, afirma o psiquiatra Pedro Katz.
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Idosos são vítimas de preconceito

Em primeiro lugar, é fundamental obter um diagnóstico preciso. Uma avaliação pormenorizada clínica, que inclua exames complementares clínicos e laboratoriais, permite identificar fatores predisponentes, desencadeantes emocionais e precipitantes situacionais, bem como mudanças químicas e hormonais, e estabelecer um tratamento adequado, associando medicação, apoio e, às vezes, acompanhamento psicológico e orientação familiar. Para os casos mais graves, às vezes é necessária a internação, embora estas sejam exceção nos pacientes portadores de quadros depressivos na terceira idade.

“É importante frisar que a depressão é uma doença reversível e tem cura, se tratada adequadamente. Geralmente, são utilizados na recuperação de pacientes medicamentos antidepressivos - que não causam dependência e são bem tolerados e seguros se administrados corretamente, mesmo na terceira idade”, esclarece o psiquiatra de São Paulo Pedro Katz.

Muitas pessoas portadoras de depressão são vítimas de preconceito. Isso porque os sintomas da doença, tais como lentidão e desânimo, são confundidos com falta de força de vontade. Isso é uma grande injustiça: a depressão é uma doença incapacitante. Além disso, muitas vezes o paciente não sabe ou não percebe sofrer dessa doença e que existe tratamento.

Drauzio Luíz, de 79 anos, conta que a depressão entrou em sua vida depois que se aposentou e passou a ter um dia a dia mais calmo. “Sou viúvo há 20 anos, tive uma namorada, mas não moramos juntos, meus filhos são casados e moram em outras cidades, assim como os netos. Eles sempre aparecem para me visitar, mas todos trabalham e não conseguem ficar comigo o dia todo. Os vizinhos mudaram, alguns amigos se foram e aí você se vê envelhecendo sozinho, não é mais útil para um monte de coisa, passa tempo de mais em casa vendo TV e dormindo, com isso, quando percebe, tá triste, sem vontade pra nada, aguardando a morte.”

O aposentado relata que procurou apenas seu geriatra. “Ele me passou um remédio. Chegou a me dizer que é normal os meus sintomas e que são vários os fatores que podem influenciar. Conversamos bastante. Acredito que o meu quadro não é grave. Com o remédio, eu me sinto mais disposto”, diz. 

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