“... Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais...”
(Trecho da Música Anos Dourados de Chico Buarque e Tom Jobim)
Depois de meses com o rei Luiz Gonzaga capitaneando nossas conversas quinzenais, eis que volto para os braços e sonhos do meu Chico embalada por um bolero doce, forte e repleto de belas lembranças.
Talvez porque eu queira continuar lembrando e ao mesmo tempo construindo novas lembranças, ou porque tenha tido uma bela inspiração ao som dos boleros tocados sábado pelo maestro Spok e sua belíssima orquestra no Baile do Eu Acho é Pouco e tenha visto alguns casais dançando e relembrando outras épocas, outros tempos, outras histórias, pensei que tenha chegado o momento de escrever um pouco sobre a realidade de exclusão que também vive uma grande parcela da nossa população, composta pelas pessoas idosas.
Lembrei de ter me surpreendido com os dados apresentados no programa fantástico, do dia 13 de janeiro de 2013, em que numa reportagem sobre essa grande e importante parcela da nossa população foi divulgado que até 2020 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos.
Pesquisei mais e descobri que até 2025 os idosos serão 40 milhões de brasileiros e o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, pelo menos segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Dei-me conta que o Brasil não está preparado para essa realidade, apesar de essa ser uma tendência natural do crescimento e desenvolvimento de um país e o Brasil hoje é a sétima maior economia do mundo.
De fato, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a quantidade de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 55% entre 2001 e 2011 e dobrou nos últimos 20 anos. Isso significa que a terceira idade passou de 15,5 para 23,5 milhões de pessoas em dez anos. Os idosos passaram a representar cerca de 12% da população total do Brasil, que é de aproximadamente 195 milhões de pessoas. Em 2001, o grupo das pessoas com 60 anos de idade ou mais era de 9% da população do País.
A tendência de envelhecimento da população brasileira fica ainda mais clara quando analisamos o índice de envelhecimento das pessoas no País, que é uma taxa que é medida por meio da razão entre o número de pessoas de 60 anos ou mais que existem para cada 100 pessoas com menos de 15 anos de idade. No período de dez anos, essa taxa passou de 31,7 para 51,8, isso significa que há aproximadamente um idoso para cada duas pessoas de menos de 15 anos. No Japão essa taxa é de 283,6, ou quase três idosos para cada pessoa de até 15 anos.
Pensei nas minhas duas avós, com mais de 80 anos, super dinâmicas, alegres, assíduas nos eventos familiares, amadas... Mas, como é natural, a idade traz a sabedoria, a experiência, o exemplo e também dificuldades de locomoção, visão, audição... Assim, a vida foi se tornando mais difícil para elas devido ao pouco preparo das nossas cidades para o envelhecimento da nossa gente. Nossas cidades são repletas de calçadas inacessíveis a pessoas idosas, a grande maioria dos ambientes públicos e coletivos das nossas cidades também são inacessíveis, sem falar nos apartamentos e casas que são construídas para as pessoas jovens, com ambientes pequenos, banheiros não adaptados e de difícil adaptação, batentes, escadas, desníveis e inúmeras outras dificuldades.
Às vezes penso que todo mundo constrói sua vida achando que não vai envelhecer e que necessitará de padrões diferentes para garantir o bem estar. A casa da minha família em Picos,Piauí , é a prova disso, já que a nossa casa tem 4 níveis diferentes nos diversos ambientes, o que era uma tendência na arquitetura da década de 90 e hoje é uma enorme dificuldade tanto para minha avó, quanto para mim.
De certo, ainda analisando os dados do IBGE verificamos que a maioria da população idosa, aproximadamente 84%, vive em regiões urbanas do País, enquanto somente 15,9% estão em áreas rurais, o que nos indica o quanto as nossas cidades necessitam mudar para se adequar ao novo contexto da população brasileira e rápido, muito rápido...
Ainda é grande a desinformação sobre o idoso em nosso contexto social e até mesmo a consciência do envelhecimento da nossa população, por isso é constante a surpresa de todos com os altos números, quando eu falo sobre as pessoas com deficiência e apresento os dados estatísticos do Brasil com 24% de pessoas com deficiência e em Pernambuco 28% e explico que além do aumento da violência urbana e do número de acidentes com carros e motos, o que mais contribui para o aumento desses indicadores é o envelhecimento da população.
Daí o alerta para o governo brasileiro, para os governos estaduais e para os governos municipais da necessidade urgente de se criar políticas sociais que preparem a sociedade e as cidades para essa realidade.
Com efeito, a terceira idade há tempos deixou de ser uma parcela inativa da nossa população, na verdade eles participam ativamente do mercado de trabalho e contribuem fortemente para a renda da casa, de acordo com IBGE, 63,7% dos idosos são pessoas de referência na família, ou seja, responsáveis por manter as condições financeiras nos domicílios, sem falar que continuam ativos na vida social, cultural e de lazer nas nossas cidades e para isso necessitam ter as condições adequadas que garantam a sua qualidade de vida e cidadania.
Ademais, já avançamos bastante na consolidação dos direitos das pessoas idosas, mas é importante ficar claro que esses direitos devem ir além do beneficio da aposentadoria, deve incluir principalmente a garantia da dignidade humana de uma parcela da população que contribuiu e continua a contribuir para o crescimento do país.
De fato, a Constituição de 1988, marco em Direitos Humanos no Brasil, colocou em seu texto a questão do idoso e deixou clara a preocupação e atenção que deve ser dispensada ao assunto. Foi, assim, o pontapé inicial para a definição da Política Nacional do Idoso, que traçou os direitos dessa camada da população.
Como exemplo positivo de cidade que percebeu essa mudança na nossa pirâmide populacional, podemos citar Brasília, que foi a primeira localidade a criar uma Subsecretaria para Assuntos do Idoso.
Como também, o Estatuto do Idoso, LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003, foi uma grande conquista para a população idosa e para a sociedade brasileira, já que foi regido por princípios que registram o direito das pessoas mais velhas a uma ocupação e trabalho, como ainda acesso à cultura, à justiça, à saúde, ao lazer e à sexualidade, além, é claro, de poder participar da família e da comunidade.
Toda essa boa brisa de mudança que acontece no nosso país, eliminou aquela imagem do idoso depressivo, isolado, inativo, abandonado pela família e sem projetos. Temos agora uma expectativa de vida de 74 anos e esse número só tende a aumentar, o que mostra nosso potencial de crescimento e desenvolvimento, aliás, li um artigo em que o tema central é que as nossas novas gerações chegarão até os 150 anos.
Enfim, que venham muitos anos dourados, que venham muitas experiências, que venham muitas lembranças, que venha muita vida...
Por fim, dedico esse artigo ao amor e ao exemplo que tenho das minhas duas avós, Dona Maria e Dona Adalgiza, mulheres fortes, guerreiras e maravilhosas. Findo com as palavras de George Sand: “Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé.”.
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais...”
(Trecho da Música Anos Dourados de Chico Buarque e Tom Jobim)
Depois de meses com o rei Luiz Gonzaga capitaneando nossas conversas quinzenais, eis que volto para os braços e sonhos do meu Chico embalada por um bolero doce, forte e repleto de belas lembranças.
Talvez porque eu queira continuar lembrando e ao mesmo tempo construindo novas lembranças, ou porque tenha tido uma bela inspiração ao som dos boleros tocados sábado pelo maestro Spok e sua belíssima orquestra no Baile do Eu Acho é Pouco e tenha visto alguns casais dançando e relembrando outras épocas, outros tempos, outras histórias, pensei que tenha chegado o momento de escrever um pouco sobre a realidade de exclusão que também vive uma grande parcela da nossa população, composta pelas pessoas idosas.
Lembrei de ter me surpreendido com os dados apresentados no programa fantástico, do dia 13 de janeiro de 2013, em que numa reportagem sobre essa grande e importante parcela da nossa população foi divulgado que até 2020 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos.
Pesquisei mais e descobri que até 2025 os idosos serão 40 milhões de brasileiros e o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, pelo menos segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Dei-me conta que o Brasil não está preparado para essa realidade, apesar de essa ser uma tendência natural do crescimento e desenvolvimento de um país e o Brasil hoje é a sétima maior economia do mundo.
De fato, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a quantidade de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 55% entre 2001 e 2011 e dobrou nos últimos 20 anos. Isso significa que a terceira idade passou de 15,5 para 23,5 milhões de pessoas em dez anos. Os idosos passaram a representar cerca de 12% da população total do Brasil, que é de aproximadamente 195 milhões de pessoas. Em 2001, o grupo das pessoas com 60 anos de idade ou mais era de 9% da população do País.
A tendência de envelhecimento da população brasileira fica ainda mais clara quando analisamos o índice de envelhecimento das pessoas no País, que é uma taxa que é medida por meio da razão entre o número de pessoas de 60 anos ou mais que existem para cada 100 pessoas com menos de 15 anos de idade. No período de dez anos, essa taxa passou de 31,7 para 51,8, isso significa que há aproximadamente um idoso para cada duas pessoas de menos de 15 anos. No Japão essa taxa é de 283,6, ou quase três idosos para cada pessoa de até 15 anos.
Pensei nas minhas duas avós, com mais de 80 anos, super dinâmicas, alegres, assíduas nos eventos familiares, amadas... Mas, como é natural, a idade traz a sabedoria, a experiência, o exemplo e também dificuldades de locomoção, visão, audição... Assim, a vida foi se tornando mais difícil para elas devido ao pouco preparo das nossas cidades para o envelhecimento da nossa gente. Nossas cidades são repletas de calçadas inacessíveis a pessoas idosas, a grande maioria dos ambientes públicos e coletivos das nossas cidades também são inacessíveis, sem falar nos apartamentos e casas que são construídas para as pessoas jovens, com ambientes pequenos, banheiros não adaptados e de difícil adaptação, batentes, escadas, desníveis e inúmeras outras dificuldades.
Às vezes penso que todo mundo constrói sua vida achando que não vai envelhecer e que necessitará de padrões diferentes para garantir o bem estar. A casa da minha família em Picos,Piauí , é a prova disso, já que a nossa casa tem 4 níveis diferentes nos diversos ambientes, o que era uma tendência na arquitetura da década de 90 e hoje é uma enorme dificuldade tanto para minha avó, quanto para mim.
De certo, ainda analisando os dados do IBGE verificamos que a maioria da população idosa, aproximadamente 84%, vive em regiões urbanas do País, enquanto somente 15,9% estão em áreas rurais, o que nos indica o quanto as nossas cidades necessitam mudar para se adequar ao novo contexto da população brasileira e rápido, muito rápido...
Ainda é grande a desinformação sobre o idoso em nosso contexto social e até mesmo a consciência do envelhecimento da nossa população, por isso é constante a surpresa de todos com os altos números, quando eu falo sobre as pessoas com deficiência e apresento os dados estatísticos do Brasil com 24% de pessoas com deficiência e em Pernambuco 28% e explico que além do aumento da violência urbana e do número de acidentes com carros e motos, o que mais contribui para o aumento desses indicadores é o envelhecimento da população.
Daí o alerta para o governo brasileiro, para os governos estaduais e para os governos municipais da necessidade urgente de se criar políticas sociais que preparem a sociedade e as cidades para essa realidade.
Com efeito, a terceira idade há tempos deixou de ser uma parcela inativa da nossa população, na verdade eles participam ativamente do mercado de trabalho e contribuem fortemente para a renda da casa, de acordo com IBGE, 63,7% dos idosos são pessoas de referência na família, ou seja, responsáveis por manter as condições financeiras nos domicílios, sem falar que continuam ativos na vida social, cultural e de lazer nas nossas cidades e para isso necessitam ter as condições adequadas que garantam a sua qualidade de vida e cidadania.
Ademais, já avançamos bastante na consolidação dos direitos das pessoas idosas, mas é importante ficar claro que esses direitos devem ir além do beneficio da aposentadoria, deve incluir principalmente a garantia da dignidade humana de uma parcela da população que contribuiu e continua a contribuir para o crescimento do país.
De fato, a Constituição de 1988, marco em Direitos Humanos no Brasil, colocou em seu texto a questão do idoso e deixou clara a preocupação e atenção que deve ser dispensada ao assunto. Foi, assim, o pontapé inicial para a definição da Política Nacional do Idoso, que traçou os direitos dessa camada da população.
Como exemplo positivo de cidade que percebeu essa mudança na nossa pirâmide populacional, podemos citar Brasília, que foi a primeira localidade a criar uma Subsecretaria para Assuntos do Idoso.
Como também, o Estatuto do Idoso, LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003, foi uma grande conquista para a população idosa e para a sociedade brasileira, já que foi regido por princípios que registram o direito das pessoas mais velhas a uma ocupação e trabalho, como ainda acesso à cultura, à justiça, à saúde, ao lazer e à sexualidade, além, é claro, de poder participar da família e da comunidade.
Toda essa boa brisa de mudança que acontece no nosso país, eliminou aquela imagem do idoso depressivo, isolado, inativo, abandonado pela família e sem projetos. Temos agora uma expectativa de vida de 74 anos e esse número só tende a aumentar, o que mostra nosso potencial de crescimento e desenvolvimento, aliás, li um artigo em que o tema central é que as nossas novas gerações chegarão até os 150 anos.
Enfim, que venham muitos anos dourados, que venham muitas experiências, que venham muitas lembranças, que venha muita vida...
Por fim, dedico esse artigo ao amor e ao exemplo que tenho das minhas duas avós, Dona Maria e Dona Adalgiza, mulheres fortes, guerreiras e maravilhosas. Findo com as palavras de George Sand: “Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé.”.
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