segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Caso Real - "Ninguém manda em mim!"

“NINGUÉM MANDA EM MIM!”



   Sou Creusa, de 59 anos, conto a história de Geralda, de 84 anos, que conheci como colega mais experiente de enfermagem. Desde o início de nossa relação dizia que eu tinha que conhecer seu sobrinho, achando que gostaria dele. O empenho era tanto que trouxe o moço do Paraná, para morar em sua casa. Deu certo, deu casamento dos bons. Sempre procurei estar próxima de Geralda, mas ela sempre evitava laços muito estreitos, com qualquer pessoa, fugindo de abraços ou mesmo de olhar para os olhos do outro. Acho que fugia de emoções.  Sabia ser doce nas palavras quando convinha, mas ficava muito à vontade para mandar se possível. Sempre gostou de meu marido, talvez porque ele fala pouquíssimo, evita atritos. Eu nunca soube se seu jeito arredio, evitando amizade com qualquer vizinho ou contato com parentes era escolha pessoal ou resultado de sua história de vida - perdeu a mãe com um ano de idade, seu pai se casou novamente, tinha o hábito de espancar a filha, e sua madrasta negava alimento. Assim que conseguiu sair de casa foi ser empregada doméstica, e depois de passar por várias casas, aprendeu a ser enfermeira com um patrão que era médico. Chegou a casar, quando moça, engravidou, ele a abandonou com sete meses de casamento, a criança nasceu sem vida aos oito meses. Preferiu sempre morar sozinha, em sua casa, e mesmo quando surgiram problemas severos de saúde, há três anos, evitava horários do dia em que pudesse encontrar vizinhos solícitos. Quando sua situação ficou incontornável, buscamos clínica particular  e sua casa foi alugada . Agora diz que foi sempre boazinha, gostaria de morar com seus parentes. Mas não existem laços afetivos, as visitas são raras.  “Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco com o muito que temos.” – William Shakespeare.          Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com

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