“NINGUÉM MANDA EM MIM!”
Sou Creusa, de 59 anos, conto a
história de Geralda, de 84 anos, que conheci como colega mais experiente de
enfermagem. Desde o início de nossa relação dizia que eu tinha que conhecer seu
sobrinho, achando que gostaria dele. O empenho era tanto que trouxe o moço do
Paraná, para morar em sua casa. Deu certo, deu casamento dos bons. Sempre
procurei estar próxima de Geralda, mas ela sempre evitava laços muito
estreitos, com qualquer pessoa, fugindo de abraços ou mesmo de olhar para os
olhos do outro. Acho que fugia de emoções. Sabia ser doce nas palavras
quando convinha, mas ficava muito à vontade para mandar se possível. Sempre
gostou de meu marido, talvez porque ele fala pouquíssimo, evita atritos. Eu
nunca soube se seu jeito arredio, evitando amizade com qualquer vizinho ou
contato com parentes era escolha pessoal ou resultado de sua história de vida -
perdeu a mãe com um ano de idade, seu pai se casou novamente, tinha o hábito de
espancar a filha, e sua madrasta negava alimento. Assim que conseguiu sair de
casa foi ser empregada doméstica, e depois de passar por várias casas, aprendeu
a ser enfermeira com um patrão que era médico. Chegou a casar, quando moça,
engravidou, ele a abandonou com sete meses de casamento, a criança nasceu sem
vida aos oito meses. Preferiu sempre morar sozinha, em sua casa, e mesmo quando
surgiram problemas severos de saúde, há três anos, evitava horários do dia em
que pudesse encontrar vizinhos solícitos. Quando sua situação ficou incontornável,
buscamos clínica particular e sua casa foi alugada . Agora diz que foi
sempre boazinha, gostaria de morar com seus parentes. Mas não existem laços
afetivos, as visitas são raras. “Sofremos muito com o pouco que nos falta
e gozamos pouco com o muito que temos.” – William
Shakespeare. Caso real,
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com
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