Escola faz "balada" para promover a sociabilização de alunos especiais
G1
02/09/2013
02/09/2013
Jovens aproveitam festas para fazer novos amigos e até paquerar. Colégio tem ensino regular para crianças com dificuldade de aprendizagem.
Pâmela Kometani
Nicolly Oliveira, de 13 anos, foi uma das primeiras alunas a chegar à escola Novo Ângulo Novo Esquema (Nane), em São Paulo, no último sábado (24), por volta das 19h. Lucas Scandurra, de 21 anos, estava animado para escutar as músicas do Charlie Brown Jr, e também para paquerar. Já, Maria Eduarda de Carvalho, a Duda, de 15 anos, queria aproveitar para se divertir com seus amigos e colegas de classe.
Os três jovens foram para a escola à noite para participar de mais uma balada promovida pela Nane. A escola oferece ensino regular para crianças e jovens que têm dificuldades de aprendizagem e deficiência intelectual, como autismo, síndrome de Down e Asperger, deficiência física ou outro tipo de necessidade especial.
As festas começaram a ser realizadas neste ano para promover a sociabilização dos alunos, já que muitos jovens precisam do apoio dos pais para sair e encontrar os amigos, e também para apresentar uma balada real para os jovens. "Lidar com a diferença é a única maneira de se praticar uma educação em que todos têm direito de aprender e crescer com autonomia e independência", diz a escola em seu site.
"A balada é o momento da paquera, dos amigos, da música e da sociabilização. Ele gosta e curte como qualquer pessoa", diz o músico Edgard Scandurra, pai do Lucas e ex-guitarrista da banda Ira!. "A função da escola é preparar esses meninos e meninas para uma vida social e essa iniciativa é muito boa. Cabe a nós, os pais, a dar sequência a isso."
Lucas participou de todas as baladas promovidas pela escola e apesar de já ter ido em algumas festas com seu irmão mais velho, ele ainda prefere os encontros organizados pela Nane. "Aqui as músicas são mais legais e ainda tem a paquera", ressalta.
Há quatro anos na Nane, Lucas ficou dois anos no módulo de desenvolvimento e está no 2º ano do OPTE. No próximo ano, ele vai passar pela etapa de profissionalização, em que a escola ajuda na descoberta da área de atuação e na inserção no mercado de trabalho.
Balada
O encontro do último sábado foi a terceira edição da balada na escola. Dessa vez, a festa não foi temática, mas os alunos já tiveram festa a fantasia, terão uma festa da primavera em setembro e um de Halloween em outubro. A balada vai das 19h às 22h. Pais e responsáveis ficam de fora. Somente ex-alunos, amigos e irmãos de alunos são aceitos.
"Sempre juntamos a turma e passeamos para eles conhecerem os locais e situações reais. Eles começaram a questionar como seria uma balada e resolvemos fazer uma aqui", afirma Miriam Tramutola, psicóloga e uma das diretoras da escola.
Marcelo Cleres, de 36 anos, é professor de química, física, matemática e informática e também o DJ das baladas. "Ficamos preocupados em manter o estilo bem próximo da realidade. Temos fila na entrada, lounge e pista", explica.
Cleres ressalta que a balada ajudou a melhorar sua relação com os alunos. Segundo ele, o convívio melhorou após a iniciativa. "Se um vínculo afetivo é criado, isso aumenta o respeito e também o interesse do aluno. Podemos conhecê-los melhor e isso ajuda muito."
A escola oferece ensino regular para os alunos, com ensino fundamental e médio e OPTE (orientação e preparação tecno emancipatória). A escola tem alunos com dificuldade de aprendizagem e que precisam de atenção e metodologia especializada. Os alunos têm todas as disciplinas do ensino tradicional e são avaliados bimestralmente por meio de provas. Eles também podem escolher entre as aulas de teatro, música ou artes plásticas.
A escola tem cerca de 80 alunos e cada sala conta, em média, com 15 alunos. No período da manhã é oferecido o ensino regular e no período da tarde é feito o módulo de desenvolvimento, que atende crianças e jovens que ainda não conseguiram ingressar no mundo da linguagem e precisam de um apoio especializado.
Já o OPTE se destina a jovens a partir de 14 anos que necessitam de uma nova modalidade de curso escolar, em que o tempo de desenvolvimento nos cursos de ensino regular não foram suficientes para atender as necessidades individuais. "Observamos a necessidade e a capacidade dos alunos para traçar uma estratégia diferente", diz Miriam. No OPTE, por exemplo, os jovens não têm matemática e sim, economia e finanças, em que eles aprendem na prática, com o uso de operações matemáticas, a utilizar o dinheiro.
Os alunos ainda têm aula de roda, em que eles discutem temas atuais, com a leitura de jornais e revistas, e oficinas, de escrita e de matemática, em que os conteúdos são passados de acordo com o ritmo de trabalho dos alunos, sem que o avanço escolar seja comprometido.
"É um trabalho bastante minucioso e temos que ter uma comprovação de que o aluno aprendeu. Nas disciplinas de exatas, tento fugir dos números e mostrar para eles que existem outras formas de enxergar os conceitos no dia a dia", afirma Cleres.
De Taboão da Serra para SP
Essa foi a primeira balada de Nicolly, já que somente alunos que tenham a partir de 13 anos de idade podem participar. Ela queria escutar e dançar as músicas de Gusttavo Lima e Anitta. "Fiquei feliz porque dancei tudo o que tocou e fiquei até o final. Deu para fazer novos amigos."
Faladeira e extrovertida, Adilma Oliveira, mãe da menina, conta que ela é tão animada que interage até demais. "Ela chega aos lugares e fala com todo mundo. Acho a iniciativa da escola bacana, já que tem outras crianças que não tem a mesma interação que ela e isso faz com eles fiquem desinibidos", afirma.
Nicolly chegou a Nane há dois anos depois de não ter uma experiência muito positiva em outra escola. Segundo Adilma, as colegas a colocavam em segundo plano por ela ter dificuldades no aprendizado. "Ela aprende mais na prática e a assimilação acontece com casos mais concretos. Falava com a direção da escola, mas nada era feito", diz a mãe.
Ela é dedicada aos estudos e acorda às 4h40 para sair do Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, e chegar até a escola que fica em Moema, na Zona Sul. "É um percurso muito longo, mas ela tem vontade de ir. Ela é preocupada e sabe das suas responsabilidades", diz Adilma.
Mais amigos
Duda, de 15 anos, também foi em todas as baladas e para ela o mais importante é ficar perto dos amigos. "Conheci ex-alunos e passei a conversar com mais pessoas. Agora conheço todo mundo", afirma.
Depois de estudar até o 6º ano do ensino fundamental na mesma escola, Duda mudou de colégio e chegou na Nane no ano passado. "É muito bacana o respeito que a escola tem com o ritmo das crianças. Todo o currículo é adaptado, tanto que ela só tem livro didático para inglês, todo o resto é feito com apostilas", lembra Monica Moares, mãe da jovem.
Segundo Monica, Duda gosta da balada e sempre fica muito animada. "A ideia é muito legal. O grupo é heterogêneo e todos se entendem e se respeitam muito", diz Monica.
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