UMA VIDA DE AMOR
Era telefonista, ele trabalhava
no escritório, era quinze anos mais velho. Eu era filha de caboclos e
portugueses, ele de suíços. Todas as vezes que passava por mim, jogava uma
pequena bolinha de papel em meu rosto. Era tão constante que passei da
irritação para a diversão, acabei esperando por aquele contato-criança, uma
ponte de comunicação. Em um casamento de colegas de trabalho, me levou para
casa e iniciamos um namoro, com um verdadeiro abraço de boas-vindas de sua
família para mim. Lembro que casamos na capelinha de Cillos, num dia de tanta
chuva que não houve convidado que ficasse sem lama pelos sapatos e pelas roupas.
Vieram os filhos, e decidimos que seria melhor que eu ficasse trabalhando pela
família, em casa. Ele
trabalhava em grande empresa, em setor especial de almoxarifado, tinha estudado
com os salesianos até o ensino médio. Nunca conseguiu fazer o sonhado curso de
desenho, precisava sustentar a família. Nossa parceria era tão gostosa que
podíamos ficar horas, um ao lado do outro, sorrindo em quietude e paz, ele
lendo, eu bordando. Os presentes que dávamos como família, eram sempre meus
bordados. Com quase oitenta anos, começou a se queixar dos sintomas de uma
labirintite, e logo em seguida grave trombose em sua perna resultou em amputação. Descobrimos
câncer em seu fígado com metástase intestinal. Foi tempo de muito carinho, de
muitas conversas. Disse –“Lurdoca, se chover muito forte no dia de meu enterro,
tenho certeza de ter cumprido minha missão!” Surgiu muita febre, falta de ar e
ele faleceu segurando minha mão. Lá fora, chovia granizo. No seu enterro, o cemitério
estava repleto de amigos. Todos sujos de lama da chuva da véspera. Eu sorria, com
o amor falando mais forte que a saudade.
“O bom da chuva é que parece que
não tem fim.” – Mario Quintana.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da
Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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