segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Uma vida de amor - Caso Real

UMA VIDA DE AMOR


Era telefonista, ele trabalhava no escritório, era quinze anos mais velho. Eu era filha de caboclos e portugueses, ele de suíços. Todas as vezes que passava por mim, jogava uma pequena bolinha de papel em meu rosto. Era tão constante que passei da irritação para a diversão, acabei esperando por aquele contato-criança, uma ponte de comunicação. Em um casamento de colegas de trabalho, me levou para casa e iniciamos um namoro, com um verdadeiro abraço de boas-vindas de sua família para mim. Lembro que casamos na capelinha de Cillos, num dia de tanta chuva que não houve convidado que ficasse sem lama pelos sapatos e pelas roupas. Vieram os filhos, e decidimos que seria melhor que eu ficasse trabalhando pela família, em casa. Ele trabalhava em grande empresa, em setor especial de almoxarifado, tinha estudado com os salesianos até o ensino médio. Nunca conseguiu fazer o sonhado curso de desenho, precisava sustentar a família. Nossa parceria era tão gostosa que podíamos ficar horas, um ao lado do outro, sorrindo em quietude e paz, ele lendo, eu bordando. Os presentes que dávamos como família, eram sempre meus bordados. Com quase oitenta anos, começou a se queixar dos sintomas de uma labirintite, e logo em seguida grave trombose em sua perna resultou em amputação. Descobrimos câncer em seu fígado com metástase intestinal. Foi tempo de muito carinho, de muitas conversas. Disse –“Lurdoca, se chover muito forte no dia de meu enterro, tenho certeza de ter cumprido minha missão!” Surgiu muita febre, falta de ar e ele faleceu segurando minha mão. Lá fora, chovia granizo. No seu enterro, o cemitério estava repleto de amigos. Todos sujos de lama da chuva da véspera. Eu sorria, com o amor falando mais forte que a saudade.
“O bom da chuva é que parece que não tem fim.” – Mario Quintana.

Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com

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