NUNCA PLANEJEI MINHA VIDA, ELA SIMPLESMENTE FOI ACONTECENDO
. Sou Maria das Graças, tenho 72
anos. Com onze, mudei para Americana, não conseguindo continuar meus estudos,
apavorada em precisar me relacionar com classe de vinte outras crianças. Congelei.
Este medo dirigiu minha vida, foi fazendo as escolhas por mim. Também talvez
tenha determinado que eu desenvolvesse uma doença que me tirava a fluidez e a
mobilidade já aos 21 anos, a artrose degenerativa. Minha neuropatia periférica
pode ter se originado de contaminação por agrotóxico, usado no sítio em que morava.
A medicação é forte, causa efeitos colaterais, criando outros problemas. Fui
sobrevivendo e aos 33 anos encontrei senhor de 58, o encantamento foi imediato
e mútuo. Admirava tanto sua vasta cultura e inteligência comercial, que não me
dei conta da distância que ele mantinha de todos os seus familiares. Ele queria
que eu fizesse o supletivo, pois achava que como professora sempre teria
condições de me sustentar. Quando engravidei, inicialmente ficou
preocupadíssimo, disse que eu iria sofrer muito, eu não entendi. Logo depois
começou a sonhar em ter um filho médico, fiquei aliviada. Nasceu uma criança
lindíssima, que me tratava com muito afeto até os quatorze anos. Meu marido,
mais idoso, desenvolveu atrofia cerebral frontal, precisando ser freqüentemente
sedado, pela agressividade que surgiu. Os familiares então se aproximaram e eu
soube de casos de esquizofrenia em parentes. Meu filho desenvolveu dificuldades
escolares, dificuldades para se organizar de forma prática com trabalho e
família, hoje com 36 anos acha que devo arcar com todos os seus custos. Precisa
de tratamento, e não assume. Tem filhinha em que vejo, com tristeza, o fantasma
da repetição de sua história. “O coração é a região do inesperado.” – Machado
de Assis
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga. e-mail :
bfritzsons@gmail.com
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