MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO
Usain Bolt não será a única atração dos 100 m no Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, que começará no dia 27.
Com menos de 10% da visão, o irlandês Jason Smyth, 24, será um dos corredores alinhados na pista sul-coreana para disputar a prova mais nobre do atletismo.
O velocista tem o mal de Stargardt, degeneração que reduz gradualmente a visão central, mas mantém intacta a periférica. A doença dificilmente leva à cegueira. Mesmo assim, Smyth é considerado legalmente cego.
Nas pistas, o irlandês tem como tutor justamente o maior adversário de Bolt: o americano Tyson Gay, que detém o segundo melhor tempo da história nos 100 m .
Smyth passou seis meses, entre novembro de 2010 e junho de 2011, treinando ao lado de Gay nos EUA e na Europa e recebendo orientações do técnico do americano.
"Treinar com Tyson é um grande privilégio", disse o irlandês à Folha. "Treinar com atletas sem deficiência me ajuda a correr mais rápido."
De fato, ele aprendeu a correr mais rápido. Foi durante sua temporada ao lado de Gay que Smyth cravou o melhor tempo de sua carreira, 10s22. A marca ainda é muito distante do recorde de Bolt (9s58), mas seria suficiente para ganhar o Troféu Brasil.
Gay, que não competirá no Mundial pois se recupera de uma contusão, coloca o pupilo entre os cinco atletas da história com técnica de corrida mais apurada.
"Jason é muito talentoso", afirmou o americano ao jornal inglês "Telegraph".
"Eu honestamente acho que a técnica de corrida dele é melhor que a minha. Às vezes, quando Jason corre, ele me lembra o Maurice Greene [recordista mundial dos 100 m entre 1999 e 2002]."
Apesar dos elogios a sua técnica, Smyth sabe das suas limitações e já considera um grande feito poder competir na Coreia do Sul. Há um ano, ele se tornou o primeiro para-atleta a correr no Europeu. O Mundial é mais um degrau rumo a seu objetivo final: disputar uma Olimpíada.
Smyth já faz os cálculos para chegar a Londres-2012.
"Preciso correr abaixo de 10s18. Sinto que, se tudo estiver indo bem e o tempo ajudar, posso fazer essa marca."
Sua busca obsessiva pela classificação olímpica se assemelha à de outro para-atleta que estará em Daegu.
Muito mais badalado que Smyth, o sul-africano Oscar Pistorius, 24, também disputará seu primeiro Mundial, nos 400 m . Biamputado, corre com ajuda de uma prótese.
"Disputar a mesma competição que Oscar é uma grande honra. Nós dois mostramos que, se você coloca na mente algo, tudo é possível", declarou Smyth, que tem dois ouros conquistados na Paraolimpíada de Pequim-2008.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário