domingo, 7 de junho de 2015

No Brasil ainda precisamos que alguém de nove anos de idade indique a mínima acessibilidade necessária...

INCLUSÃO TAMBÉM SE APRENDE. ASSIM COMO A BONDADE.

Meus pais ensinam a reivindicar o que é socialmente justo. Aprenderam com a vida e com a preocupação de abrir todas as portas possíveis para mim, que por destino genético precisarei sempre usar cadeira de rodas.
Meu nome é Ana Clara, hoje tenho nove anos.
Lembro que a primeira cadeira foi presente de minha bisavó, eu tinha 3 anos.  Ela faleceu no ano passado, ainda estou muito chocada, ela tinha 98 anos, não achava que um dia ela iria embora...
Todo ano, preciso trocar de cadeira de rodas, vou crescendo e ela não me abraça e apoia mais como deveria. Porque não é possível criar uma cadeira ajustável? Minha cadeira antiga não pode ser usada por outra criança, e meus pais precisam comprar todo ano uma nova, sem nenhum amparo financeiro – as autoridades decidiram que não temos o direito ao mesmo.
Acho que elas não fazem as contas das viagens para cirurgias, e todo o preparo e cuidados médicos e hospitalares do antes e do depois. Já fiz muitas, a próxima para deixar minha coluna mais firme e reta será em julho.
O tempo, custo de locomoção e de espera que a pessoa cuidadora da família precisa dispensar para as fisioterapias e terapias ocupacionais da minha vidinha, tão necessárias, também não devem contar...
Então, quando encontro loja que tem um andar não acessível, peço para conversar com o dono ou gerente – explico que a falta da necessária acessibilidade pode atrapalhar a vida de muita gente.
Explico também quando ocupam indevidamente nossa vaga exclusiva de estacionamento que nossas calçadas raramente são acessíveis.
E vou continuar explicando, explicando...
“No meu temperamento tem um pouco de pimenta: não é todo mundo que gosta...Nem todo mundo que aguenta...” – Clarice Lispector.

Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com

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