INCLUSÃO
TAMBÉM SE APRENDE. ASSIM COMO A BONDADE.
Meus pais ensinam a reivindicar o que
é socialmente justo. Aprenderam com a vida e com a preocupação de abrir todas
as portas possíveis para mim, que por destino genético precisarei sempre usar
cadeira de rodas.
Meu nome é Ana Clara, hoje tenho nove
anos.
Lembro que a primeira cadeira foi
presente de minha bisavó, eu tinha 3 anos.
Ela faleceu no ano passado, ainda estou muito chocada, ela tinha 98
anos, não achava que um dia ela iria embora...
Todo ano, preciso trocar de cadeira
de rodas, vou crescendo e ela não me abraça e apoia mais como deveria. Porque
não é possível criar uma cadeira ajustável? Minha cadeira antiga não pode ser
usada por outra criança, e meus pais precisam comprar todo ano uma nova, sem
nenhum amparo financeiro – as autoridades decidiram que não temos o direito ao
mesmo.
Acho que elas não fazem as contas das
viagens para cirurgias, e todo o preparo e cuidados médicos e hospitalares do
antes e do depois. Já fiz muitas, a próxima para deixar minha coluna mais firme
e reta será em julho.
O tempo, custo de locomoção e de
espera que a pessoa cuidadora da família precisa dispensar para as
fisioterapias e terapias ocupacionais da minha vidinha, tão necessárias, também
não devem contar...
Então, quando encontro loja que tem
um andar não acessível, peço para conversar com o dono ou gerente – explico que
a falta da necessária acessibilidade pode atrapalhar a vida de muita gente.
Explico também quando ocupam
indevidamente nossa vaga exclusiva de estacionamento que nossas calçadas
raramente são acessíveis.
E vou continuar explicando,
explicando...
“No meu temperamento tem um pouco de
pimenta: não é todo mundo que gosta...Nem todo mundo que aguenta...” – Clarice
Lispector.
Caso real. Elizabeth Fritzsons da
Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com
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