quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Caso real - Charcot-Marie-Tooth

    “SOU CRIANÇA CRESCIDA E QUERO CONTINUAR SENDO ETERNA CRIANÇA”


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 Ser assim é meu suave “protesto”, meu fôlego. Pequena, eu me comportava como os amiguinhos, me adaptando às brincadeiras, sempre muito feliz, mas sem entender muito bem de onde vinham minhas limitações de locomoção. Como todo mundo, eu estudava, aprontava e apanhava pelas minhas artes Desde bebê não tive firmeza nas pernas, os médicos consultados diziam para minha mãe que tudo estava “normal”. Sempre tive  dificuldades para andar, de equilíbrio mesmo pois os pés apresentam curvatura pronunciada, configurada assim independente de meu comando. Isso não interferia em meu apetite por viver, em saborear a alegria da descoberta da vida de quase todos os jovens. Estudei, namorei, casei, e vivi os cinco primeiros deliciosos anos desta relação. Era extremamente ativa, uma “pipoca”, inquieta mesmo. Daí meu relógio biológico disparou – é tempo de ser mãe! Engravidei e me aquietei. Nasceu Lucas, e inexplicavelmente veio a depressão pós-parto. Talvez estivesse incluída aí a natural mudança de estilo de vida que a chegada de um filho determina. Eu e meu marido superamos. Acompanhando o desenvolvimento de meu filho, em seus nove meses de vida, vi minha história se repetindo – agora finalmente com uma estrutura de saúde de país que ao menos diagnosticou a doença degenerativa – pudemos ter acesso a tratamento e conhecimento de quais são as expectativas e qualidade possível para a vida, assim como de quais as terapias que poderiam ser úteis e de algum alívio, como fisioterapia, exercícios aeróbicos, alongamento, natação e sapatos ortopédicos adaptados. Eu Edna, agora com trinta e quatro anos e Lucas, agora com sete anos, nascemos com um distúrbio do sistema nervoso, determinado geneticamente (são cerca de 70 subtipos), de configuração individualizada, chamada “Charcot-Marie-Tooth”. Usualmente surge por volta de 50 anos, mas existem casos de manifestação mais agressiva da doença, como aconteceu comigo e com meu filho. Os nervos periféricos (pernas, pés e mãos),  vão gradualmente sendo atingidos, e perdendo a força, criando dificuldades de locomoção e equilíbrio, além de falhas de sensibilidade - não sentimos de forma adequada calor, frio ou dor. Fazemos parte de grupos na internet que buscam informações de tratamentos paliativos – não há ainda perspectiva de cura. Precisamos de mais pesquisas sobre a doença, para termos talvez um alcance medicamentoso que seja capaz  de impedir a progressão da doença, e depois a sonhada cura – são dois milhões de pessoas acometidas no mundo. Se a doença progride em cada um de nós, pode surgir além da limitação de movimentos, a alteração de função de cordas vocais, dos nervos que comandam a face e pulmões. Precisamos chegar a diagnósticos mais precoces, para ajudar mais cedo quem precisa. E precisamos também deste diagnóstico para alcançar o aconselhamento genético de futuros pais que são deste grupo – eles precisam ser informados de quais os possíveis riscos. E de terapia para aprender a lidar de forma construtiva com nossos limites. Mas é pelos “Lucas” que alegram nossas vidas que precisamos nos unir, nos informar e trabalhar por todos que vivem esta realidade, inclusive pelos queridos familiares que acabam sendo nosso porto seguro. Continuaremos lutando, com a esperança que só corações de criança sabem ter!

“Um homem grandioso é aquele que não perde seu coração de criança” - Mêncio
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com


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