“Estórias diferentes” é um blog que procura ajudar crianças, pais e profissionais a desmistiticar e a entender melhor o significado da bipolaridade. Através das “estórias” contadas pela autora, também bipolar, um caminho de reconhecimento e compreensão é traçado, no sentido da busca por sua inclusão social e afetiva.
A Inclusive conversou com a autora do blog, Cristina Oliveira. Acompanhe abaixo e conheça melhor esse mundo tão cheio de surpresas.
Visite o blog “Estórias diferentes” no www.estoriasdiferentes.com.br
Como surgiu a ideia de fazer um blog com as “estórias diferentes”?
É sonho antigo – escrever para os pequenos. Suavizar o caminho. Um blog me pareceu uma ferramenta mais atual e interativa.
Como foram criadas as “estórias” do blog?
Vieram fácil – sou uma contadora de “estórias”. Mãe de seis e avó de muitos. Reuni lembranças da minha infância – inquietudes e dificuldades de uma bipolar sem diagnóstico ou tratamento. Uma criança que sempre foi diferente, em busca de algo que nunca soube o que era até ser diagnosticada com mais de 40 anos. Um caminho longo de desinformação e angústia que não recomendo a ninguém. O linguajar das crianças de hoje – veio com a convivência com as netas. Elas estão curtindo a vovó “blogueira”.
Quais os desafios que cercam as crianças com bipolaridade ou com diagnósticos psiquiátricos? Há muito preconceito?
Ser destaque – “diferente” – em uma sala de aula é um incômodo danado. A agitação de uma criança hiperativa, ou em estado de euforia, quebra o equilíbrio do conjunto da sala. O não conseguir se concentrar nas tarefas, além de dificultar o próprio aprendizado, atrapalha aos demais. O diagnóstico do déficit de atenção é confundido com a euforia bipolar – que são diferentes. Uma criança mal educada, com temperamento forte e sem limites, também pode ser confundida como sendo portadora de algum distúrbio psiquiátrico. São situações distintas, aparentemente parecidas. Crianças com depressão, sem reação, isoladas, também incomodam, de uma forma diferente.
A falta de informação dos adultos atrapalha a convivência; crianças e jovens com estes distúrbios, sem uma orientação clara de como lidar com eles, naturalmente ficam mal vistos por seus colegas e pelos próprios professores que perdem facilmente a paciência. No calor da irritação surgem os comentários mordazes até mesmo para aqueles que já se tratam. As mágoas ficam profundas…..ser taxado de louco é algo comum e muito deprimente…..
Como ajudar as famílias e escolas a compreender melhor essas crianças para que elas tenham boa convivência social e oportunidades de desenvolvimento?
Com informação. Não sou profissional da área da saúde. Mas sou portadora. Participo há quase 10 anos de uma associação que trabalha com transtornos do humor. Foi lá que troquei ideias, assisti palestras, fiz cursos, me informei. Tenho a convicção que somente através da informação (sintomas, tratamentos) que os pais e professores poderão interagir melhor com a criança com Transtorno do Humor ( bipolaridade e depressão). Informação também permite lidar melhor com estas crianças e o grupo a que elas pertencem. E a informação para portadores – crianças ou adolescentes – também suaviza o caminho. É necessário entender as diferenças, por que e como melhorar a vida.
O que um professor ou familiares devem fazer ao suspeitar de que estão diante de uma criança com bipolaridade?
Ficar atentos; buscar a informação; professores recomendarem aos pais que busquem um diagnóstico. O diagnóstico se dá através da consulta com os profissionais – psicólogo ou psiquiatra – preferencialmente com aqueles que ratam destes distúrbios e que lidem com criança e /ou adolescente.
Quais os suportes que essas crianças devem contar para reverter situações de exclusão?
O primeiro é o trabalho de informação ao próprio interessado (criança ou adolescente com alguma dificuldade). É assustador sentir de forma diferente…. não conseguir se concentrar, mesmo se esforçando; se irritar ou magoar com uma intensidade descomunal; não ter vontade de nada, nem de se mexer, mesmo querendo agradar aos pais, professores ou amigos. Se uma criança chega com o pé engessado, muitos ajudam, está ali à mostra a dificuldade. Se o “gesso” é dentro do cérebro, ninguém vê neurônio em dificuldade… aí a coisa complica. Ir a psicólogo ou psiquiatra = ser louco.
Trabalhar na escola , nos consultórios esta “ desmistificação” da doença, é fundamental. ESTORIAS DIFERENTES pretende ser uma ferramenta de trabalho no sentido de desmistificar o horror do diagnóstico, da ida ao médico… mas principalmente pretende ser um instrumento para que o portador não se sinta tão isolado, tão sozinho; há outros “diferentes iguais”! É possível ler sobre isso, escrever ou se manifestar a respeito ! Blog permite esta interatividade.
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