Você quer pedir para o Papai Noel?
Minha mãe sugeria que pedisse uma nova copinha ao Papai
Noel. Daríamos a minha para outra criança. Eu concordava e no dia de
Natal surgiam um guarda-comida, mesa e cadeirinhas em novas cores e decalques,
a caminha da boneca acompanhando, com nova colcha! Aconteceu em muitos Natais,
e eu não percebia que era ela que reformava os antigos brinquedos, trabalhando
à noite, enquanto as crianças dormiam. Fazia também a roupa de Papai-Noel de
meu pai. Papai saía pela porta da frente, e entrava de Papai Noel pela porta da
cozinha. Nunca conversava, só dava aquela risadas de ho-ho. Na minha alegria e
ansiedade eu lamentava que papai nunca tivesse a sorte de estar presente nesta
hora.
Mamãe era costureira profissional, e fazia vestidos lindos
para os bailes da época, íamos e voltávamos a pé, a família toda e nossos
amigos, cantando e conversando.
Ambos me permitiram uma infância também moleca, com direito
a muita fruta apanhada no pé e caprichados carrinhos de rolimã.
Conheci meu futuro marido em um baile de carnaval, e quando
um de meus irmãos quis interferir, mamãe defendeu com firmeza meu direito de
escolha.
Perdi meu pai pouco antes de casar Convivi intensamente com
esta mãe, enquanto construía meu casamento, criava meus filhos e exercia meu
ofício de professora. Hoje tenho 66 anos, sou Gladys, já abençoada com netos.
Quando mamãe tinha 84 anos surgiu um câncer e eu fui sua
enfermeira-companheira até seu falecimento, dez anos depois.
A natural depressão que senti só foi aliviada quando
escrevi um pequeno livro, detalhando todas as raízes da família, com sua fotos
e fatos.
“O amor não conhece sua própria intensidade até a hora da separação”. –
Khalil Gibran
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