domingo, 7 de dezembro de 2014

Depoimento - Caso Real

Dias de 30 anos, dias de 90 anos


    De verdade tenho 73 anos, meu nome é Tereza. Gosto de casa cheia, no Natal, nos aniversários. Ela é grande, com um quintal também grande, em que armamos uma piscininha que é a alegria da criançada. Capricho na comida, mas  é difícil para filhos, noras, netos e bisnetos perceberem que também posso ficar cansada, enjoada, ou estar num dia de menor disposição.
    Sou informada – “Vou almoçar ai”! Não consigo explicar que nesta idade a energia pode variar. Há dias em que me sinto mais jovem , e dias em que me sinto velhíssima, sem  vontade de nada. Como explicar sem magoar? Não quero afastá-los, então vou levando.
   Procuro compensar esta agradável demanda criando um espaço meu – freqüento grupo de terceira idade, em que fazemos orações e jogamos bingo, faço hidroginástica vou a excursões.
   Tenho quatro filhos de meu segundo casamento, oito netos e três bisnetos.
   Em meu primeiro casamento tive a felicidade de adotar, aos vinte e sete anos, um menino que Deus pôs em meu caminho, uma jóia boa. Meu marido amava esta criança. Ficou conosco até vinte e nove anos, um acidente o levou embora. Acidente vascular cerebral levou este marido também.
   Meus pais moravam em sítio, eu precisava ajudar na lavoura e queria muito estudar. Criança, como poderia enfrentar o pensamento de que filha mulher não precisa saber ler ou escrever, é coisa de rico, é só para poder namorar... Este fato me deixa com uma espécie de revolta com esta peça do destino. E se eu pudesse ter estudado como teria sido minha vida?
   Ainda hoje existem pais que pensam assim. Empobrecem a vida de todos.


“Cada idade tem sua beleza e esta beleza deve sempre ser uma liberdade” – Robert Brasillach

Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com

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