O diretor e fundador da Turismo Adaptado fala da sua luta pela causa das pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção que não abrem mão de viajar
Esta matéria foi escrita pela equipe de redação do Grupo Trend para a revista Segue Viagem, 23º edição, de agosto/setembro de 2014, Ano 4, páginas 10 – 13.
Em 2001, o bacharel em Turismo Ricardo Shimosakai foi atingido por um tiro em um sequestro relâmpago que o deixou paraplégico. O incidente marcou sua vida para sempre, mas não diminuiu em nada a sua paixão por viajar. Para continuar suas aventuras, ele precisou vencer as barreiras de um mundo que não foi projetado para pessoas com deficiência.
Ricardo pesquisou muito, foi atrás de possibilidades e se tornou um especialista em turismo acessível. Com o conhecimento, ele passou a ser cada vez mais procurado por pessoas com histórias parecidas com a sua. Incentivado por elas e pelos amigos, ele criou, em 2004, a Turismo Adaptado (www.turismoadaptado.
O objetivo da Turismo Adaptado é pensar em serviços personalizados com foco não só em acessibilidade, mas também em garantir conforto e preços competitivos no mercado. Como uma empresa especializada no mercado de turismo acessível, a Turismo Adaptado elabora propostas em prol da inclusão de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida nas atividades de lazer e turismo, um benefício que contempla toda a comunidade.
O profissional, que também atua como palestrante, conta que a procura por empreendimentos interessados em adaptar seus serviços está cada vez maior, mas longe de ser a ideal. O trabalho no mercado de Turismo é um desafio diário para ele, já que o setor ainda está engatinhando quando o assunto é acessibilidade.
A Segue Viagem bateu um papo com Ricardo Shimosakai para saber qual é a situação dos turistas com deficiência no Brasil e o que precisa ser feito para que o mercado esteja em sintonia com as propostas de acessibilidade para todos.
O tradicional ônibus Londrino oferece acessibilidade para cadeirantes, com rampas automáticas e 100% da frota acessível.
SV: O princípio básico do chamado turismo acessível é incluir a maior parte possível da população em atividades de turismo e lazer. A legislação brasileira exige, por exemplo, que hotéis devem reservar apartamentos adaptados e oferecer acessibilidade em todas as suas áreas. Isso realmente acontece?
A lei obriga que pelo menos 5% das unidades habitacionais estejam adaptadas para pessoas com deficiência, mas isso ainda não é uma realidade, principalmente porque não há uma fiscalização por parte das autoridades. Também não há uma orientação correta sobre as adaptações. Muitos hotéis anunciam que estão preparados para receber pessoas com deficiência, mas há falhas que dificultam a vida do hóspede. Uma das causas que defendo é a criação de uma certificação para orientar os clientes sobre os recursos de acessibilidade e inclusão que os estabelecimentos ou prestadores de serviços possuem. As pessoas têm diferentes tipos de deficiência, algumas necessitam mais de recursos de acessibilidade e outras menos. Uma simbologia mais completa e com certificação facilitaria para os dois lados.
SV: Quais são as principais queixas dos turistas com deficiência?
O banheiro de hotel costuma ser o espaço mais complicado, oferecendo problemas já na entrada. A ideia é que o banheiro seja um lugar privativo, mas as pessoas com deficiência muitas vezes precisam de ajuda até para poder circular lá dentro. O ideal é que os cômodos sejam adaptados tanto para cadeirantes quanto para deficientes auditivos, visuais e intelectuais, e para os últimos três tipos de deficiências as complicações são ainda maiores. Nesses casos, a acessibilidade é quase inexistente.
SV: Um dos objetivos do Programa Turismo Acessível, lançado em 2012 pelo Ministério do Turismo, foi incentivar a ampliação do número de unidades habitacionais acessíveis nas doze cidades-sede da Copa um Mundo e seus entornos. Como você avalia a oferta de serviços acessíveis durante o maior evento turístico brasileiro nos últimos anos?
Durante a Copa, não só na hotelaria, mas também em empresas de transporte, os serviços destinados às pessoas com deficiências existiam, mas eram preferenciais, e não exclusivos. Com a grande procura, a ocupação dos hotéis foi rapidamente preenchida pelo turista convencional, então não sobraram muitas alternativas para o turista com deficiência. Outro desafio das pessoas com deficiência na hora de viajar é a padronização dos serviços oferecidos. Nos hotéis há muitas categorias de quartos, com mais ou menos conforto, com preços proporcionais. O cliente com deficiência geralmente não tem opção de escolher o quarto mais barato ou mais confortável. Tem de se satisfazer com o quarto disponível, às vezes de uma só categoria.
Cânion Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR). Rapel acessível, contemplando as cataratas, umas das 7 maravilhas naturais do mundo
SV: Mesmo considerando que o grande problema do turista com deficiência ainda é a insuficiente oferta de hospedagens, qual é o hotel brasileiro que melhor representa a proposta de um turismo para todos?
Hospedagem referência de acessibilidade no Brasil é o Villa Bella Hotel, em Gramado (RS), que possui campainha luminosa para surdos e cardápios em braile, além de outros recursos. Uma alternativa para consultar serviços disponíveis para pessoas com deficiência é o Guia Turismo Acessível, no qual o usuário pode avaliar e consultar a acessibilidade de pontos turísticos, hotéis, restaurantes, parques e atrações – uma espécie de TripAdvisor. O site colaborativo é mantido pelo Governo Federal no seguinte endereço: http://www.turismoacessivel.
Fonte: Revista Segue Viagem
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quinta-feira, 6 de novembro de 2014
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