quinta-feira, 27 de novembro de 2014

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A crise ambiental e o impasse ético

"Nesse ínterim tivemos o histórico acordo dos EUA e China, os dois maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo. Os EUA pretendem reduzir entre 26% à 28% de suas emissões até 2025, em relação ao ano de 2005. A China, por sua vez, definiu que seu pico de consumo das fontes de carbono se dará em 2030, e que até lá aumentará para 20% de sua matriz energética o consumo das fontes 'não-fósseis'", escreve Rennan Martins, em artigo publicado no portal Desenvolvimentistas, 24-11-2014.
Eis o artigo.
A pauta das mudanças climáticas se torna cada dia mais relevante. Sociedade civil, lideranças políticas e até mesmo o setor privado já tomam iniciativas, ainda que pontuais, no sentido de reduzir emissões dos gases de efeito estufa e mitigar os efeitos negativos que a inegável subida da temperatura provoca.
O quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), iniciativa da ONU, foi publicado este ano. Trata-se de um sólido documento que reúne e sintetiza milhares de trabalhos científicos de acadêmicos de todo o planeta.
Dentre as principais conclusões deste relatório, temos que é inequívoco que as atividades antrópicas incrementam a temperatura global por meio da emissão desenfreada de gases que intensificam o chamado efeito estufa. Mantido o cenário de crescimento atual das emissões, até 2100 a temperatura poderá subir em 4,8 ºC, isto por sua vez faria com que os oceanos avançassem 82 centímetros nas regiões costeiras.
O impacto deste aumento é representativo e se manifesta influenciando tanto nas interações bioquímicas, dependentes de finas condições ambientais, quanto no equilíbrio macro dos ecossistemas, que vê toda sua dinâmica afetada por conta de fatores que lhes obrigam a alocar energia para adaptações.
O professor do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo, um dos colaboradores do IPCC, alerta que “O nível dos oceanos já subiu em média 20 centímetros entre 1900 e 2012. Se subir outros 60 centímetros, com as marés, o resultado será uma forte erosão nas áreas costeiras de todo o mundo. Rios como o Amazonas, por exemplo, sofrerão forte refluxo de água salgada”.
As perspectivas são assustadoras e apelam para que toda a comunidade internacional se volte para a ação efetiva.
Nesse ínterim tivemos o histórico acordo dos EUA e China, os dois maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo. Os EUA pretendem reduzir entre 26% à 28% de suas emissões até 2025, em relação ao ano de 2005. A China, por sua vez, definiu que seu pico de consumo das fontes de carbono se dará em 2030, e que até lá aumentará para 20% de sua matriz energética o consumo das fontes “não-fósseis”.
A importância simbólica deste acordo sino-americano é incontestável, no entanto, ele é insuficiente. O engenheiro agrônomo belga Daniel Tanuro, constata em seu artigo que: “De forma a manter uma hipótese razoável de não ir além dos 2 ºC, e respeitando o princípio de 'responsabilidades diferenciadas' dos diferentes grupos de países, as emissões dos países desenvolvidos deverão, de acordo com o IPCC, cair entre 25% e 40% até 2020, por comparação a 1990. No caso dos EUA isso significa apontar para emissões entre as 4.665 Gt (-25%) e 3.740 Gt (-40%)… em 2020. Comparemos isto com o acordo: 5.368 Gt de emissões em… 2025.”
O princípio das responsabilidades diferenciadas é o que reconhece que as nações desenvolvidas são as responsáveis pela maioria das emissões realizadas até hoje, e que por isso cabe a elas atuar na vanguarda, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis e capturando CO2 da atmosfera. Os países em desenvolvimento, por sua vez, possuem o direito de se desenvolver, de preferência se baseando num modelo de matriz energética diversificada e predominantemente renovável. É o caso do Brasil, que conta com mais de 40% de energia hidrelétrica em sua matriz.
Desde o reconhecimento do sério problema que é o das mudanças climáticas todas as iniciativas se mostram isoladas ou insuficientes, as potências econômicas em seu tempo demonstram fortíssima resistência a mudanças em torno do padrão degradante de produção e consumo vigente.
Muito se é discutido e a ciência fornece inúmeros trabalhos que diagnosticam e sugerem medidas de combate e mitigação dos efeitos do aquecimento global. Todavia, quando sentam a mesa as lideranças mundiais para propor acordos vinculantes, factíveis, nada se concretiza, e não por acaso.
A nossa sociedade baseia-se em valores capitalistas, que são o crescimento infinito, a competição e o individualismo, isto nos leva a um impasse ético. Quando é preciso tomar atitudes firmes em torno da questão ambiental, o que ocorre é um choque com este paradigma. Nenhum Estado quer ficar pra trás no ciclo do consumismo e acumulação, e o resultado é essa abordagem marginal, de efetividade duvidosa.
E é nesse sentido que precisamos superar esse impasse, o que é um desafio muito mais difícil. Somente quando atingirmos o entendimento de que é preciso cooperar em nível internacional, que é necessário basear nossa produção em critérios de eficiência máxima do uso dos recursos, e imperativo abandonarmos o consumismo, que então conseguiremos base sólida de enfrentamento ao maior desafio do século XXI.
Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537897-a-crise-ambiental-e-o-impasse-etico

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