sábado, 2 de abril de 2016

SOU “ESPECIAL”, NÃO PEDI PARA NASCER ASSIM
   Sou Katia, com 45 anos. Minha mãe conta que percebeu que eu não estava bem quando, começando a andar, uma de minhas pernas não me sustentava de pé.
   Preocupada comunicou o fato ao meu pai, que considerou ser “mania de doença” dela.
   Procurou ajuda meses após, depois que tive um ataque epiléptico. O médico lamentou ser tarde demais para me atender de forma plena. Eu apresentava um quadro de paralisia infantil.
   A postura de meu pai desde meu nascimento ante a deficiência foi decisiva – “Já que nasceu assim, que fique assim. Não vai casar, não vai ter filhos! Dê ela para a avó! ”.
   Minha mãe fez minha primeira cirurgia, pelo SUS, quando eu tinha 4 anos, escondendo de meu pai. Ele quase a matou.
   Eu andava sempre de cabeça baixa. Completei o segundo grau, fiz mais uma cirurgia aos 18, que me livrou de dor constante. Fez com que eu pudesse apoiar inteiramente o pé afetado no chão.
   Ao buscar ajuda médica, aos 30 anos para nova cirurgia, escutei – “Katia, você ainda não se aceitou? ”.
   Então me dei conta de tudo o que tinha conquistado, apesar de ter crescido na casa de um tio que me acolheu, e longe de meus pais. Trabalhava cuidando de sua casa e dos seus três filhos. Voltei para Americana e aqui encontrei meu futuro marido. Ele nunca fez perguntas sobre minha deficiência. Sou uma feliz mãe de três moças na casa dos vinte anos, universitárias.
   Tive vários trabalhos graças à “Lei de cotas”. Curso turma especial para pessoas com deficiência, Almoxarifado no SENAI. A família vibra muito. Quero e posso trabalhar, com qualidade. Meus pais não estão mais entre nós. Será que se surpreenderiam?

Aqueles a quem amamos têm todos os direitos sobre nós, até o de deixarem de nos amar.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com

   

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