SOU
“ESPECIAL”, NÃO PEDI PARA NASCER ASSIM
Sou Katia, com 45
anos. Minha mãe conta que percebeu que eu não estava bem quando, começando a
andar, uma de minhas pernas não me sustentava de pé.
Preocupada comunicou
o fato ao meu pai, que considerou ser “mania de doença” dela.
Procurou ajuda meses
após, depois que tive um ataque epiléptico. O médico lamentou ser tarde demais
para me atender de forma plena. Eu apresentava um quadro de paralisia infantil.
A postura de meu pai
desde meu nascimento ante a deficiência foi decisiva – “Já que nasceu assim,
que fique assim. Não vai casar, não vai ter filhos! Dê ela para a avó! ”.
Minha mãe fez minha
primeira cirurgia, pelo SUS, quando eu tinha 4 anos, escondendo de meu pai. Ele
quase a matou.
Eu andava sempre de
cabeça baixa. Completei o segundo grau, fiz mais uma cirurgia aos 18, que me livrou
de dor constante. Fez com que eu pudesse apoiar inteiramente o pé afetado no
chão.
Ao buscar ajuda
médica, aos 30 anos para nova cirurgia, escutei – “Katia, você ainda não se aceitou?
”.
Então me dei conta
de tudo o que tinha conquistado, apesar de ter crescido na casa de um tio que
me acolheu, e longe de meus pais. Trabalhava cuidando de sua casa e dos seus
três filhos. Voltei para Americana e aqui encontrei meu futuro marido. Ele
nunca fez perguntas sobre minha deficiência. Sou uma feliz mãe de três moças na
casa dos vinte anos, universitárias.
Tive vários
trabalhos graças à “Lei de cotas”. Curso turma especial para pessoas com
deficiência, Almoxarifado no SENAI. A família vibra muito. Quero e posso trabalhar,
com qualidade. Meus pais não estão mais entre nós. Será que se surpreenderiam?
Aqueles a quem amamos têm todos os direitos sobre nós, até o de deixarem
de nos amar.
Caso
real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com
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