Numa época em que se discute a crise da imprensa, os "Panama Papers" mostraram mais uma vez que o jornalismo é imortal. Durante seis meses, 376 repórteres de 109 redações em 76 países trabalharam em cima do banco de dados com 11,5 milhões de documentos da fábrica de offshores Mossack Fonseca e estremeceram a banca e a política mundiais com seus achados. Não houve qualquer vazamento, por mínimo que fosse.
O comentário é de Elio Gaspari, jornalista, publicado por Correio do Povo, 06-04-2016.
O jornalismo não acaba porque se transforma. Sabe-se lá quando ele começou. Talvez tenha sido quando um macaco fez sinal para outro avisando que havia um leão atrás do arbusto. Quando seu negócio é a notícia, torna-se imortal.
Nos "Panama Papers" a primeira mudança aconteceu quando uma fonte ainda desconhecida entregou ao jornalSüddeutsche Zeitung o arquivo de 2,5 terabytes com operações do escritório panamenho de 1977 a dezembro de 2015. O jornal não poderia digerir o material e procurou um parceiro. Achou-o no Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o ICIJ, um braço do Center for Public Integrity, organização sem fins lucrativos criada pelo repórter Charles Lewis em 1989 e sediada em Washington. Ele trocou uma carreira bem sucedida nas redes de televisão pela de fiscal de malfeitorias. Ninguém dava nada pela ideia.
Enquanto a crise da imprensa é acompanhada pelo noticiário econômico (um bilionário mexicano comprou um pedaço do "The New York Times", Jeff Bezos arrematou o "Washington Post", os japoneses levaram o "Financial Times"), no mundo da notícia abre-se um novo caminho, o dos consórcios de repórteres e publicações. Tem ao seu lado uma revolução tecnológica.
Os documentos da Mossack Fonseca são de uma espécie que remonta aos famosos "Pentagon Papers", de 1971. Naquele episódio um analista do Departamento de Defesa passou meses copiando 47 volumes, gastou US$ 20 mil. Em 2009, um soldado americano enviou 750 mil telegramas oficiais ao site WikiLeaks. Quatro anos depois, um ex-funcionário da CIA mandou ao repórter Glenn Greenwald (que mora na Gávea) os documentos que expuseram os grampos internacionais do governo americano. Tudo isso sem papel ou contato pessoal.
A inovação adicional veio na forma de compartilhamento. Com os 2,5 terabytes dos "Panama Papers", o ICIJ inovou em relação aos casos anteriores. Formou equipes em 76 países para destrinchar os dados e manteve a operação no seu plantel de colaboradores. Nessa fase, todo o trabalho foi mediado por um fórum interno. Inteira novidade e assunto para algum debate. Em maio será divulgada uma parte da base de dados.
Numa ironia geográfica, o escândalo do século 21 veio do Panamá. Durante anos, "panamá" foi sinônimo de roubalheira por causa de outra armação de políticos, bancos e empreiteiras na construção do seu canal, no século 19. O caso explodiu a política francesa. Na origem, como hoje, havia um jornalista.
É a seguinte a equipe brasileira que colabora com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos: Fernando Rodrigues (membro do conselho da instituição), José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli,Guilherme Jardim Duarte, Isabela Bonfim, André Shalders, Douglas Pereira, Mateus Netzel, Diego Vega e Mauro Tagliaferri.
Nos "Panama Papers" a primeira mudança aconteceu quando uma fonte ainda desconhecida entregou ao jornalSüddeutsche Zeitung o arquivo de 2,5 terabytes com operações do escritório panamenho de 1977 a dezembro de 2015. O jornal não poderia digerir o material e procurou um parceiro. Achou-o no Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o ICIJ, um braço do Center for Public Integrity, organização sem fins lucrativos criada pelo repórter Charles Lewis em 1989 e sediada em Washington. Ele trocou uma carreira bem sucedida nas redes de televisão pela de fiscal de malfeitorias. Ninguém dava nada pela ideia.
Enquanto a crise da imprensa é acompanhada pelo noticiário econômico (um bilionário mexicano comprou um pedaço do "The New York Times", Jeff Bezos arrematou o "Washington Post", os japoneses levaram o "Financial Times"), no mundo da notícia abre-se um novo caminho, o dos consórcios de repórteres e publicações. Tem ao seu lado uma revolução tecnológica.
Os documentos da Mossack Fonseca são de uma espécie que remonta aos famosos "Pentagon Papers", de 1971. Naquele episódio um analista do Departamento de Defesa passou meses copiando 47 volumes, gastou US$ 20 mil. Em 2009, um soldado americano enviou 750 mil telegramas oficiais ao site WikiLeaks. Quatro anos depois, um ex-funcionário da CIA mandou ao repórter Glenn Greenwald (que mora na Gávea) os documentos que expuseram os grampos internacionais do governo americano. Tudo isso sem papel ou contato pessoal.
A inovação adicional veio na forma de compartilhamento. Com os 2,5 terabytes dos "Panama Papers", o ICIJ inovou em relação aos casos anteriores. Formou equipes em 76 países para destrinchar os dados e manteve a operação no seu plantel de colaboradores. Nessa fase, todo o trabalho foi mediado por um fórum interno. Inteira novidade e assunto para algum debate. Em maio será divulgada uma parte da base de dados.
Numa ironia geográfica, o escândalo do século 21 veio do Panamá. Durante anos, "panamá" foi sinônimo de roubalheira por causa de outra armação de políticos, bancos e empreiteiras na construção do seu canal, no século 19. O caso explodiu a política francesa. Na origem, como hoje, havia um jornalista.
É a seguinte a equipe brasileira que colabora com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos: Fernando Rodrigues (membro do conselho da instituição), José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli,Guilherme Jardim Duarte, Isabela Bonfim, André Shalders, Douglas Pereira, Mateus Netzel, Diego Vega e Mauro Tagliaferri.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553279-a-transformacao-do-jornalismo
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