SOU GRATO
PELOS MEUS NOVENTA E CINCO ANOS!
Nasci em Corumbataí.
Tinha um tio que tocava violino. Eu tocava violão, de ouvido, desde pequeno.
Meu pai era marceneiro. Eram tempos em que se aprendia com as pessoas que
estavam à nossa volta. Um amigo da família, que também frequentava nossa igreja
presbiteriana, sabia desenhar e construir violinos.
Vim mocinho para
Americana, fui tecelão em Carioba. Com dezesseis anos, tocando em uma festa,
encontrei minha futura esposa. Durante três anos namoramos uma vez por mês, ela
morava longe, eu viajava de trem e passava o fim de semana na casa de sua
família. Tínhamos quase a mesma idade – onze dias de diferença só!
Nossa união gerou
quatro filhos. Para sustentar a família, comecei a trabalhar como construtor de
casas, era mais rentável. Com trinta e poucos anos consegui fazer cinco
violinos, tinha o modelo de papelão, sabia um pouco de marcenaria. Ganhei o
casco de um tatú de amigo e consegui transformar em belo instrumento. Eram
tempos em que se confeccionava as próprias ferramentas de trabalho. Sabia
também confeccionar sapatos de couro. Minha esposa costurava todas as roupas de
casa.
Sempre toquei nas
festas da igreja. Frequento até hoje,
mas tocar já ficou difícil, a idade endureceu meus dedos. A esposa se foi aos
oitenta e seis anos. Com o amparo de meus filhos, continuei dirigindo meu
carrinho até o ano passado, buscando concertos de orquestras, encontrar amigos,
viajando em excursões especiais para gente de minha idade. Agora cuido de um problema
de saúde que surgiu, e decidi que era hora de parar de dirigir. Mas ainda
consigo fazer bonitas bengalas de bambu.
A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode
permanecer em silêncio.
Caso
Real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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