terça-feira, 1 de março de 2016

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Verbosidade irrefreável nas Comunicações e na Rede, enquanto 60% da população não tem Internet. O fosso entre ricos e pobres é gigantesco

"É verdade que a conexão à Internet no mundo, de 2005 a 2015, mais que triplicou, passando de 1 bilhão a mais de 3,2 bilhões de usuários. Um crescimento tremendo, mas, obviamente, não suficiente, se realmente se pensa que as tecnologias modernas de comunicação deveriam dar seu contributo de qualidade para um novo mundo, mais justo, mais fraterno e em paz", escreve Luis Badilla, jornalista, em artigo publicado por Il Sismografo, 28-02-2016. A tradução é de Ramiro Mincato
Eis o artigo
Se podes ler este texto no teu computador ou no teu smartphone, então és um "verdadeiro privilegiado"
A agora famosa "sociedade líquida", postulada e analisadas por Zygmunt Bauman, tornou-se quase um clichê, mas continua a ser, no entanto, uma das mais brilhantes perspectivas analíticas dos últimos anos. A descrição acima corresponde substancialmente a uma verdade que todos habitantes do planeta vivem e experimentam diariamente, em todas as latitudes do planeta.
O que não está suficientemente claro, em vez disso, é o conjunto das complexas manifestações desta sociedade tão singular. Elas são numerosas e, às vezes, imperceptíveis. Uma dessas consequências, porém, que além de ser efeito é, ao mesmo tempo causa, poder-se-ia apresentar assim: uma parte intrínseca da sociedade líquida é verbosa, prolixa e descontrolada em derramar palavras no atacado, mecanismo pelo qual a homologação pseudocultural cria mitos, mentiras e lendas urbanas – que no repetir-se típico da "aldeia global" – tornam-se pseudoverdades, raramente submetidas a juízo crítico.
Uma área ou tema em que a logorreia é mais desperdiçada é a da Comunicação, especialmente no tocante a Comunicação e novas tecnologias. A Rede, as chamadas plataformas multimídias e as social-mídias são propostas, por gigantesca quantidade de especialistas, como panaceia. Onde não se tem uma resposta clara e honesta, e não se quer reconhecer que é assim, imediatamente salta o "jolly ": a Rede, o conceito que agora parece uma divindade de recente aquisição e que, solene, hierático, desde seu Olimpo tecnológico guia os destinos da humanidade.
Talvez esta proposta e essas convicções sejam verdadeiras e corretas. Não sabemos. Não somos especialistas na área também porque, de modo simplista e banal, acreditamos que o melhor especialista em comunicação é aquele que se comunica bem e pronto. A experiência mostra que, muitas vezes, os grandes especialistas em comunicação são aqueles que, pois, se comunicam pior. Por enquanto, esperando tempos diferentes, confiamos no senso comum.
Os limites da Internet...
Mas há uma coisa que, embora não nova, nos impressiona. Aqueles que pregam a comunicação por meio do uso das modernas tecnologias disponíveis, nunca devem esquecer uma realidade óbvia, colocada pela pergunta: quantos são os habitantes do planeta que não têm acesso à eletricidade, as linhas telefônicas, a ter um computador, um smartphone, ferramentas e suportes técnicos, sem os quais a Rede não passa de um sonho?
Anos atrás, Albert Gore, então vice-presidente dos Estados Unidos, fez uma grande campanha em favor do que ele chamou de "Internet para todos". Então, em posse de respostas incontestáveis com relação às perguntas acima, mudou de rumo. Entendeu que, antes que a rede, havia outros problemas para resolver. Hoje acontece algo parecido, e os gurus da Rede estão cada vez mais onipresentes com suas receitas e previsões, e sentados confortavelmente na frente de seu potente computador, acabam acreditando que é assim para todos. Não, infelizmente não é assim. A realidade, a verdade é bem diferente, as dela se fala pouco, na verdade, quase nada!
Esta verdade deveria tornar os gurus das comunicações e os cruzados das plataformas multimediais, um pouco mais cautelosos em suas análises, previsões e predições. O mundo real é outra coisa.
"O fosso digital existe, e em benefício dos países mais ricos"
(Relatório do Banco Mundial - 13 de janeiro de 2016)
Segundo o último Relatório do Banco Mundial (janeiro de 2016), 4 bilhões 200 milhões de habitantes do planeta, cerca de 60% da população mundial [1], é desprovida de conexão privada na Rede. Assim, de 7 bilhões de habitantes do planeta somente 2 bilhões 800 milhões podem se beneficiar da conectividade, ou seja, a minoria, mas essa minoria torna-se ainda mais minoritária, se se levar em conta aqueles que podem dispor de uma conexão de banda larga: 1,2 bilhões (cerca de 15%).
Os dados demonstram, portanto, que a grande maioria da humanidade - frequentemente os mais pobres - está excluída do binômio "Comunicação-Rede". "Quase 60% da população mundial - escreve o Banco Mundial (Digital dividends) – está ainda offline, e não pode participar plenamente na economia digital. Há também fossos persistentes ligados aogênero, à localização geográfica, à idade e à renda".
A maioria da população dos Países mais populosos do planeta – China e Índia - não tem acesso às modernas tecnologias de comunicação. Na Índia, 1 bilhões 100 milhões (de uma população de 1,25 bilhões) não têm acesso a qualquer conectividade regular, e na China, 775 milhões de pessoas não têm acesso à Internet, e o mesmo acontece com 213 milhões de indonésios. Esses três países juntos representam 41% da população mundial. Apesar dos dados apresentados, no entanto, a Ásia é o continente com o maior percentual de habitantes conectados.
Na América Latina e no Caribe o número de utilizadores da Internet é quase igual ao número de usuários dos EUA. Nos EUA 84% da população está conectada à Internet em comparação com 47% no Caribe e América Latina.
Relatório do Banco Mundial sublinha que entre os países com pelo menos de 10 milhões de habitantes, apenasHolandaReino UnidoJapãoCanadáCoreia do SulEstados UnidosAlemanhaAustráliaBélgica e França têm uma percentagem superior a 80% da população com acesso à Rede.
Na África, onde nos primeiros anos da era da Internet havia menos conexões do que na cidade de Nova York, as coisas melhoraram muito. O Relatório registra crescimento de conectividade encorajante: África do Sul + 11%; Egito,Nigéria e Marrocos + 10%; Botswana + 7%.
Não se pode esquecer, porém, que mais de 70% do tráfego da Rede transita através de servidores alocados fora do continente, uma vez que a região tem escassa interconectividade.
Lixo digital
É verdade que a conexão à Internet no mundo, de 2005 a 2015, mais que triplicou, passando de 1 bilhão a mais de 3,2 bilhões de usuários. Um crescimento tremendo, mas, obviamente, não suficiente, se realmente se pensa que as tecnologias modernas de comunicação deveriam dar seu contributo de qualidade para um novo mundo, mais justo, mais fraterno e em paz. "Devemos evitar a criação de uma nova classe social de párias", escreve no relatório o economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, e nas suas palavras ecoam as advertências do Papa Francisco e dos seus predecessores.
"A Comunicação, seus lugares e seus instrumentos - escreve Francisco - trouxeram um alargamento dos horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade" (...) porque "também na Rede se constrói verdadeira cidadania", desde que sirva para derrubar muros, "monumentos da exclusão". Hoje, no entanto, o digital divide a humanidade com o maior muro existente no planeta, embora invisível. Os especialistas em comunicação deveriam sempre partir desta realidade, caso contrário não serão confiáveis, porque não serão credíveis.
Para comunicar-se não é suficiente estar conectado
Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações lembrou: "Não basta passar ao longo das ‘estradas’ digitais, isto é, simplesmente estar conectado: é necessário que a conexão seja acompanhada por um encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos amar e ser amados. Precisamos de ternura. Não são as estratégias comunicativas que garantem beleza, bondade e verdade na comunicação. O mundo dos meios de comunicação não pode estar separado do cuidado para com a humanidade, e ele é chamado para expressar ternura. A Rede digital pode ser um lugar rico de humanidade, não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. A neutralidade da mídia é apenas aparente: somente quem comunica envolvendo-se a si mesmo pode ser ponto de referência. O envolvimento pessoal é a raiz da própria confiabilidade no comunicador. Exatamente por isso, o testemunho cristão, graças à Rede, pode alcançar as periferias existenciais". (Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro, 1 de junho de 2014).
Nota:
1- Worldometers - Estatísticas mundiais em tempo real
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/552093-verbosidade-irrefreavel-nas-comunicacoes-e-na-rede-enquanto-60-da-populacao-nao-tem-internet-o-fosso-entre-rico

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