domingo, 25 de janeiro de 2015

Depoimento - Denise mostra o valor do diálogo, do afeto e da busca de crescimento pessoal como valor familiar

Cortei cana, limpei casas, gerenciei banco.

  Sou Denise, tenho cinquenta e seis anos, preocupo-me com minha mãe, de oitenta e quatro anos.
   Somos cinco filhos, buscando seu conforto, mais duas “cuidadoras” contratadas, e ela “aproveita” pequena brecha de seus horários em que fica sozinha para tomar banho sem ajuda – já quebrou o fêmur (duas vezes), o braço, e o quadril. Como ensinar a lidar com limites?
   Talvez esta pequena rebeldia seja recato? Ou a contestação que é possível?
    Minha família sempre primou pelo diálogo, com muito afeto, valorizando muito a cultura, mas o alcoolismo de meu pai trazia insegurança, medo (ficava agressivo) e fome (fora de si, algumas vezes jogou nosso jantar fora).
   Quando sadio nos abraçava e prometia não repetir nunca mais. Morreu aos 50 anos. Minha mãe procurava equilibrar tudo – trabalhava cortando cana (eu ia junto), produzia verduras para vender (tarefa minha), administrava nosso estudo (eu estudava à noite) e trabalho (fui doméstica). Mas acho que tudo era demais para ela – acabava nos espancando também.
   Encontrei o amor de minha vida aos onze anos, ele tinha doze, na escola. Trabalhei em banco, chegando à gerência. Ele me incentivou, fiz Sociologia, atingi a aposentadoria aos quarenta e sete anos, temos dois filhos já moços, e já convivo agradavelmente com  possível futura-nora que me faz sonhar com netos. Hoje assumo o setor financeiro de nossa bem sucedida família.
   Não tenho cicatrizes ou mágoas deste tempo agoniado de infância – sobrevivemos todos unidos, com vida e famílias próprias organizadas, adoramos nos reunir com frequência e bebemos sim, mas com moderação!
 “Seja impetuoso, um livre-pensador, supere suas limitações”
.


Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com

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