Cortei cana,
limpei casas, gerenciei banco.
Sou Denise, tenho cinquenta e seis anos,
preocupo-me com minha mãe, de oitenta e quatro anos.
Somos cinco filhos, buscando seu conforto,
mais duas “cuidadoras” contratadas, e ela “aproveita” pequena brecha de seus
horários em que fica sozinha para tomar banho sem ajuda – já quebrou o fêmur
(duas vezes), o braço, e o quadril. Como ensinar a lidar com limites?
Talvez esta pequena rebeldia seja recato? Ou
a contestação que é possível?
Minha família sempre primou pelo diálogo,
com muito afeto, valorizando muito a cultura, mas o alcoolismo de meu pai
trazia insegurança, medo (ficava agressivo) e fome (fora de si, algumas vezes
jogou nosso jantar fora).
Quando sadio nos abraçava e prometia não repetir
nunca mais. Morreu aos 50 anos. Minha mãe procurava equilibrar tudo –
trabalhava cortando cana (eu ia junto), produzia verduras para vender (tarefa
minha), administrava nosso estudo (eu estudava à noite) e trabalho (fui
doméstica). Mas acho que tudo era demais para ela – acabava nos espancando
também.
Encontrei o amor de minha vida aos onze
anos, ele tinha doze, na escola. Trabalhei em banco, chegando à gerência. Ele
me incentivou, fiz Sociologia, atingi a aposentadoria aos quarenta e sete anos,
temos dois filhos já moços, e já convivo agradavelmente com possível futura-nora que me faz sonhar com
netos. Hoje assumo o setor financeiro de nossa bem sucedida família.
Não tenho cicatrizes ou mágoas deste tempo
agoniado de infância – sobrevivemos todos unidos, com vida e famílias próprias
organizadas, adoramos nos reunir com frequência e bebemos sim, mas com
moderação!
“Seja impetuoso, um livre-pensador,
supere suas limitações”
.
Caso real, Elizabeth
Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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