quinta-feira, 18 de julho de 2013

Saquinho de chá

Saquinho de chá

   Sou Erica, tenho 65 anos. Meu marido sempre trabalhou, chegamos a ter pequena tecelagem que um plano de Governo tornou inviável. Perdemos tudo, ele foi fazer calçadas. Sempre ajudei a tocar a fábrica, levava as crianças comigo. Conseguimos ter uma boa casa, ele quis os dois filhos. Nunca foi marido fiel, sempre dado à violência. Percebi o meu limite , quando ele passou a assediar a própria filha, de nove anos. Denunciei para as autoridades Esta filha até hoje não consegue mais proximidade com este pai. Pai que cobre de vantagens seu irmão, hoje com 27 anos. Deve ser medo do futuro.  Certa vez, reagi a sua agressão com um soco em seu rosto.Ele ficou tão incomodado  que colocou veneno de rato na jarra de água que costumamos ter na mesa da cozinha. Senti já no primeiro gole, salgada, de gosto horrível. Tive ânsia de vômito, tontura, consegui tomar um copo de leite. Quando ele voltou para casa, eu já estava recuperada, e acusei. A resposta foi afirmativa, dizendo estranhar eu ainda não ter morrido, jogando imediatamente o conteúdo da jarra na pia.  Disse que eu era muito forte. Levei muitos anos para conseguir me separar dele, rezando muito por isto, a contragosto dos filhos, que ainda moram comigo. Fiquei com a casa. Tenho cinco irmãos, muitas amigas, e a própria família dele é muito parceira, me apóia muito.  Ele achou uma nova companheira, mas durou pouco, mora sozinho hoje. Agora tenho artrose nos  joelhos,  sofro de depressão, mas vou me tratar, vou fazer exercícios, seguindo recomendação médica. Vou melhorar!Quero aproveitar a vida. Gosto muito de viajar. “Uma mulher é como um saquinho de chá, você nunca saberá quão forte ela é até que esteja na água quente.” – Eleanor Roosevelt.

  Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com


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