terça-feira, 25 de outubro de 2011

“SOU SURDO ORALIZADO!”

Pergunto como Roner se define, em sua capacidade auditiva hoje, e ele diz – “Sou surdo-oralizado”, pessoa que fala e entende português. Um surdo oralizado precisa de legendas, tem facilidade de leitura em geral, e a língua portuguesa como base lingüística. Ele enfrentou meningite aos onze anos, que em um mês anulou sua audição.A memória destes tempos é o choque de perceber pessoas à sua volta com dúvidas do que seria possível acontecer com sua vida, nesta nova condição (como o diretor de sua escola), como ter uma vida “normal”?Para ele não haviam dúvidas, lutou sempre durante vinte e seis anos, usando leitura orofacial (leitura de lábios e expressões emocionais) e gestos. O sonho perseguido sempre seria um implante coclear – naquela época bem mais difícil do que é hoje. Lutou tanto que impactou emocionalmente prima que morava nos Estados Unidos, funcionária de hospital da Flórida, que já fazia o procedimento em 1999, e conseguiu a cirurgia e até a passagem para lá. No Brasil havia muitas dificuldades financeiras para este procedimento cirúrgico, na época. O implante coclear é dispositivo eletrônico, parcialmente implantado no corpo (uma parte externa e outra interna), capaz de gerar sensação auditiva próxima da fisiológica. Se a pessoa a ser implantada ainda tiver resíduo auditivo na época da cirurgia, precisa assumir com segurança a perda definitiva. O novo som será diferente de tudo o que já escutou. E precisa se preparar também para um tempo inicial de desconforto após a cirurgia, o cérebro precisará se reconfigurar auditivamente, e de início ele ouvirá sons sem saber sua origem, ou seja, o que produz esse tipo de som?Precisara ter paciência, perguntar, classificar, reorganizar, até que a mágica aconteça – um dia escutou um passarinho, e em lágrimas sabia que era um passarinho! Hoje depois de longo caminho no trabalho, Roner é profissional diferenciado, um gerente de projetos de grande multinacional que ministra cursos em várias unidades, favorecido pela comunicação via computador, capaz de falar e ser entendido, que deu esta entrevista por telefone. Feliz, coloca que no serviço se sente totalmente produtivo, desde que trabalhe em grupos pequenos, que nunca gritem (compreensão impossível). Faz parte de associação de implantados, ajudando a integrar os novos operados (hoje é implante constante em crianças, a orientação dos mais experientes é importante para os pais), tem família e filhinha. Ele lutou e esperou por vinte e seis anos. Chegou á melhor conexão possível em seus contatos. “Triunfa aquele que sabe quando lutar e quando esperar.” - Sun Tzu.

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