O MUNDO É
BOA ESCOLA, MAS DEIXA CICATRIZES HORRÍVEIS
Saí de casa aos 11 anos. Por sobrevivência –
meus pais não tinham condições de orientar seus filhos, não ficava tranquilo
com seu modo de viver. Depois de vários empregos, aos 19 anos comecei a trabalhar
em marcenaria. Éramos só dois funcionários, sem treinamento para o correto uso
do maquinário. Gerei acidente que amputou meu braço. Meu parceiro entrou em
pânico absoluto. Sai sangrando pelas ruas. Um motoqueiro tentou me levar na
garoupa até o hospital. Eu não conseguia me sustentar sem desmaiar, ele me
deixou na guia da calçada e foi em busca de socorro. Apareceu uma viatura de
polícia, depois a ambulância. Perdi muito sangue, impossível reimplantar o
braço. Em cirurgia, trataram de meu coto, que não ficou legal – adormece, dá
choques. Dizem que é dor fantasma.
Desanimei de outras
cirurgias, que custariam o emprego do momento. Demissões acontecem, e foi em
agência de empregos que descobri que poderia frequentar curso do SENAI
específico para pessoas com deficiência.
Com a minha história
de vida, eu me sentia permanentemente ameaçado, tinha postura de defesa
constante, olho no olho. Com esta turma, comecei a perceber a possibilidade de
novas abordagens de aproximação, além de acrescentar ao currículo qualificações
que eu não possuía. A experiência me fez ter mais critérios para escolher
amigos, e programas de fim de semana. Jogo futebol (atacante), faço academia.
Sou Pablo, hoje com
24 anos. Com minhas economias estou no terceiro curso de Excel na mesma escola.
Quero boa oportunidade de trabalho, quero crescer como pessoa, quero mais
conhecimento, quero saber mais um idioma. Mesmo que eu precise sair de meu
país.
Meu silêncio é minha auto-defesa.
Caso real,
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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