“OLHA! MARCA BEM COMO É A VIDA DA
GENTE!”
“Repito sempre esta frase. Não sei se gosto de dizer ou se preciso
repetir estas palavras. Sou Marco Antonio, de 76 anos, sobrevivente de um câncer de próstata, e que
convive muito bem com as alterações de seu Alzheimer. Esta doença espantou
minha esposa, ela se foi, hoje já é falecida. Dalva era muito linda, tinha o
nome de estrela, namoramos quatro anos,
casamos quando eu tinha vinte e três anos, por causa de meu trabalho fomos morar no
Paraná. Fiz o Tiro de Guerra, estudei até o segundo ano do colegial, e fui cuidar
de um sítio de meu pai que produzia café. Há cinqüenta anos, quem tivesse
alguma escolaridade e residisse em zona rural, era pessoa de muita valia para ao menos ensinar a criançada a ler, escrever
e ter noções mínimas de cálculo – foi o que aconteceu comigo! Olha marca bem
como é a vida da gente! A pedido dos sitiantes
da região e autorizado pela inspetora regional, fui professor durante dois anos! Meu pai se desencantou com o sítio,
castigado por forte geada, sem colheita, vendeu e transformou em quatro casas de aluguel. Retornei para
Americana, e fui trabalhar em
marmoraria O serviço começou a escassear. Olha! Marca bem como
é a vida da gente! Fomos passear na casa de parentes em Santo André e acabei
trabalhando dezesseis anos por lá, fazendo bulbos de lâmpada.Depois voltamos
para cá. Tenho dois filhos e cinco netos atenciosos, que me visitam toda semana
na “casa de velhinhos” em que moro, há três anos.Tenho muitos amigos lá, dizem
que sou alegre, extrovertido e acolhedor! Mas olha, marca bem...
“Não quero ter a terrível
limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero
uma verdade inventada.” – Clarice Lispector.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da
Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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