Terceira idade ou melhor idade? |
por Jefferson Aparecido Dias
Um dos temas que mais me atrai atualmente é o que se refere aos nomes que usamos para nos referir às pessoas com mais de 60 anos de idade.
Entre tais nomes, o mais utilizado é o termo “terceira idade”, que começou a ser usado na França, na década de 60 (le troisième âge), para se referir a pessoas acima de 45 anos que atingiam essa faixa da vida em boas condições de saúde, como forma de incentivá-las a se manter ativas
Tal termo tem como origem a lenda de Édipo e a Esfinge. Segundo conta Sófocles, a Esfinge teria perguntado a Édipo qual o animal que pela manhã caminha com quatro pés, ao meio-dia com dois e ao final do dia com três, e ele respondeu prontamente o enigma, dizendo que era o ser humano, que no início de sua vida engatinha, depois caminha com dois pés e, ao final, caminha com o auxílio de um cajado.
Apesar de ser muito utilizado, tem se popularizado no Brasil a utilização do termo “melhor idade” para se referir às pessoas idosas, pois elas não teriam mais as preocupações da vida adulta e, a partir de então, poderiam simplesmente aproveitar a vida.
Não se sabe ao certo qual a origem do termo, mas uma das possibilidades é que tenha surgido num programa social desenvolvido pelo município de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, que recebeu o nome de “Programa da Melhor Idade”, criado em 1997 para desenvolver atividades físicas e culturais com os moradores idosos do município.
Tal termo tenta convencer as pessoas idosas de que elas estão no melhor de suas vidas, e que, a partir de agora, poderão aproveitar a vida e não terão de se preocupar com mais nada.
Aparentemente, a adoção desse termo tem seu fundamento no Teorema de Thomas, formulado por William I. Thomas, pelo qual, se as pessoas definem uma situação como sendo real, as consequências dessa percepção são reais.
Do ponto de vista de desenvolvimento da autoestima dos idosos, é possível que a adoção desse termo tenha efeitos positivos. Afinal, se os idosos se convencerem de que realmente estão no melhor de suas vidas, é provável que aproveitem melhor os anos que viverem após os 60 anos de idade.
No entanto, não parece que a adoção do termo possa trazer resultados positivos no que diz respeito à relação dos idosos com as demais pessoas, ou seja, com os adultos e jovens. Ao contrário, é até possível que a popularização do termo tenha consequências negativas, pois, se as pessoas jovens e adultas se convencerem de que as pessoas idosas estão, realmente, na melhor idade, sentir-se-ão mais tranquilas para não dispensar uma maior atenção a elas; afinal, quem está no “melhor” de sua vida não precisa de ajuda.
Assim, a adoção do termo “melhor idade” não garante que as pessoas idosas sejam tratadas com maior respeito ou que seus conhecimentos sejam valorizados pelas outras pessoas não-idosas.
Confesso que tais termos não me agradam muito, pois prefiro o termo “pessoas idosas”, que é o consagrado em nossa lei. Porém, mais importante do que os nomes que são utilizados para se referir às pessoas com mais de 60 anos de idade, é a forma que as tratamos, pois, afinal, elas merecem ser tratadas com muito respeito por tudo que fizeram por nossa comunidade.
JEFFERSON APARECIDO DIAS é Procurador da República em Marília e Doutor em Direitos Humanos e Desenvolvimento na Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha (Espanha) |
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