Precisei da distância para me aproximar
Sou Val, com 53 anos, caçula de grande família. Sempre fui muito tímida, o
contato com pessoa idosa foi somente com avó paterna, classificada como “brava”
no dia que vi minha mãe chorando em sua presença. Por via das dúvidas eu me
escondia embaixo da cama todas as vezes que ela entrava em casa. Lembro que me
deu de presente uma grande boneca, quase de meu tamanho. Assim que se foi, fui
para o quintal e desfiz o brinquedo em pedaços, não sei bem porque, até hoje.
Não tive mais contato com idosos até a vida adulta. Como professora de música
fui convidada para dar aulas para crianças e para um grupo de pessoas idosas.
Para meu espanto, conviver com idosos, de repente, era tão gostoso como
conviver com crianças! As crianças são espontâneas, sem vícios, a relação corre
solta, sem críticas. Os idosos na sua maioria estão desconstruindo as críticas
excessivas, estão se livrando dos preconceitos, a relação na maioria das vezes
também flui gostosa, é quase “surfar”. Comecei a resgatar a relação com as
raízes de humanidade, aprender a conviver com a finitude, quando perdi queridos
alunos para o seu tempo de vida que já havia se esgotado. Foi um choque para
mim perante as suas ausências ter ressaltada sua importância dentro de nosso
trabalho e convivência, e de perceber que eu sentia saudades. Acho que a
própria estrutura da atividade de canto e coral propicia este tipo de relação
construtiva, porque induz a pensamentos positivos, ajuda a liberar tensões,
consequentemente aliviando o stress da vida diária, aumentando a sensação de
bem estar e favorecendo a convivência grupal, além de desenvolver voz e
capacidade de canto. Foi terapêutico para mim, não só para o grupo. “Dê a quem
você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.” – Dalai
Lama.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva,
psicóloga, e-mail –bfritzsons@gmail.com
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