Bengala: um auxílio na locomoção ou sinal de incapacidade?
Escrito por Gabriela Correia(*)
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A imagem negativa do dispositivo pode estar associada ao Pictograma que representa a população idosa desde o final da década de 90 com a sanção da lei de atendimento prioritário: uma pessoa curvada e apoiada em uma bengala, referenciando a imagem de um indivíduo frágil.
Muitos idosos não se identificam com a representação e têm verdadeira aversão a bengala, que tem a função de proteger, promover conforto ao andar e dar segurança.
Prescrever uma bengala ou qualquer outro meio auxiliar de locomoção para a pessoa idosa nem sempre é tarefa fácil. Frequentemente nos deparamos com respostas do tipo: “bengala é coisa de velho”, “eu não estou tão mal assim”, ou, “bengala é pra aleijado”.
A imagem negativa do dispositivo pode estar associada ao Pictograma que representa a população idosa desde o final da década de 90 com a sanção da lei de atendimento prioritário: uma pessoa curvada e apoiada em uma bengala, referenciando a imagem de um indivíduo frágil. Muitos idosos não se identificam com a representação e têm verdadeira aversão a bengala, que tem a função de proteger e promover conforto ao andar. Em outras palavras, dar segurança.
A bengala é um recurso importante que auxilia na mobilidade e contribui para a liberdade e segurança de pessoas que apresentam alto risco de quedas, dor, desequilíbrios e medo de cair. Trata-se de um recurso compensatório de força e agilidade quando estes não respondem à reabilitação.
Benefícios da bengala
A bengala aumenta a base de apoio, diminui de 20 a 25% a carga nos membros inferiores, melhora a dor, aumenta a estabilidade e a qualidade da marcha promovendo autonomia para o usuário. Ela pode ser usada como coadjuvante no tratamento enquanto a pessoa realiza sessões de fisioterapia para restabelecer a força muscular e o equilíbrio. Se após o tratamento médico e fisioterápico o paciente continuar apresentando limitações, deverá continuar a fazer uso da bengala para sua proteção e qualidade de vida conforme prescrição.
Quando a bengala é indicada?
Quedas frequentes são sinais de alerta nesta população. O paciente idoso com este histórico deve passar por uma avaliação multidimensional para que sejam rastreadas as possíveis causas das quedas. Exames físicos e testes de equilíbrio norteiam as condutas dos profissionais de saúde e, se identificado deficiências no equilíbrio, dor ao caminhar e prejuízos na locomoção que interferem nas atividades de vida diária, o uso da bengala é indicado.
A prescrição adequada deste recurso é fundamental. O tipo, a altura e a forma de utilizá-la devem ser orientadas para que a pessoa não coloque sua saúde em risco.
Fique atento
- O idoso só se sente seguro para andar quando se apoia em alguém?
- Anda sempre segurando nas paredes ou nos móveis?
- Ele pode precisar de uma bengala.
Adaptação à bengala
Muitos idosos acabam abandonando o dispositivo por sentir dificuldades para andar. Após a prescrição adequada, o fisioterapeuta deve treinar o paciente a utilizá-la na marcha e subir e descer escadas. Utilizando da forma correta o idoso perceberá que a bengala proporciona conforto e segurança.
Tipos de bengala
Basicamente você pode encontrar a bengala de madeira e a de alumínio.
A de madeira é um pouco mais barata, porém, você terá que cortá-la na altura adequada. A bengala de alumínio é mais leve e possui ajuste regulável de altura, é um pouco mais cara que a de madeira, mas ainda assim, acessível.
A bengala de alumínio pode ser de um ponto ou de 4 pontos. A bengala de um ponto é indicada para pessoas com comprometimento leve do equilíbrio e comparada a bengala de 4 pontos, permite uma marcha mais rápida.
A bengala de 4 pontos possui cabo anatômico, ponteiras emborrachadas, aderentes e ajustes que promovem a utilização de ambos os lados. Comparada à bengala de um ponto, aumenta ainda mais a base de apoio e previne deslizamentos laterais do dispositivo. Este tipo de bengala é indicada para indivíduos com maior comprometimento do equilíbrio e que necessitam de maior estabilidade.
A muleta canadense, algumas vezes chamada de bengala com apoio de antebraço, também pode auxiliar na marcha e pode reduzir até 45% da carga nos membros inferiores se usada unilateralmente. Alguns idosos sentem-se mais seguros e confortáveis com este tipo de dispositivo.
Vale saber que, por determinação do Ministério da Saúde, a bengala de quatro pontos é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (Portaria nº 21/SCTIE/MS, de 10 maio de 2013, que torna pública a decisão de incorporar a bengala de 4 pontas na Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do Sistema Único de Saúde).
Cuidados
O uso inadequado da bengala pode causar dores e até mesmo quedas, por isso, é importante que o idoso consulte um profissional especializado para que seja realizada a prescrição correta do dispositivo e o treino de marcha.
Para aqueles que já utilizam o dispositivo, sua manutenção é fundamental. É preciso sempre observar se a ponteira de borracha não está desgastada.
Dicas básicas
A bengala deve permanecer próxima ao corpo, não à frente e nem muito distante lateralmente;
Deve-se segurar a bengala do lado oposto ao membro afetado para gerar maior estabilidade e aproximação do padrão normal de marcha, com o membro superior e inferior contralateral se movimentando juntos.
Na prática, a bengala é aliada na manutenção da autonomia das pessoas idosas e, se adequada, ela influencia de maneira positiva na qualidade de vida do paciente. É preciso diminuir o preconceito e desconstruir a imagem negativa deste recurso auxiliar. A pessoa que utiliza uma bengala é mais segura e atenta à sua saúde; preserva suas atividades cotidianas e continua participativa no seu processo de envelhecimento.
Referências
Fuller, R. Bengala deve ser bem escolhida e usada corretamente. 2013. Disponível em:http://www.reumatologia.com.br/index.asp?Perfil=&Menu=DoencasOrientacoes
&Pagina=noticias/in_noticias_resultados.asp&IDNoticia=245. Acesso em 07/07/2015.
Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. O uso de bengalas, muletas e andador. Disponível em: http://www2.hu.usp.br/wp-content/uploads/2010/10/bengalaandadoremuleta.pdf. Acesso em 07/07/2015.
Ministério da Saúde: Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos – DGITS/SCTIE Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) - Relatório n° 83. Procedimento bengala de 4 pontas na tabela de procedimentos, medicamentos e OPM do SUS.
Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 2.723, DE 9 DE DEZEMBRO DE 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2015/prt2723_09_12_2014_rep.html. Acesso em 08/07/2015.
O’SULLIVAN, S.B.; SCHMITZ, T.J. Fisioterapia: avaliação e tratamento. Barueri: Manole, 2004.
(*)Gabriela Correia - Fisioterapeuta com Mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo. É Especialista em Fisiologia e Biomecânica do aparelho locomotor pelo Instituto de Ortopedia do HC- FMUSP, e Especialista em Gerontologia Social pela PUC-SP. É blogueira e atua na área de Saúde Pública e Gerontologia. Email:gabriela.correia@gmail.com. Blog: http://longeviver.wordpress.com/. Currículo Lattes:http://lattes.cnpq.br/1072463089304973
http://www.portaldoenvelhecimento.com/cuidados/item/3711-bengala-um-auxilio-na-locomocao-ou-sinal-de-incapacidade
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