sábado, 11 de abril de 2015

A inclusão começa em casa, com a postura dos familiares

Se Gisele pode ir, vamos todos nós.

    Gisele tem quarenta anos hoje. A primeira filha tinha dois anos e meses quando ela nasceu. Foi gravidez conturbada, passei mal, parecia aborto, e depois de seu nascimento concluímos que eu teria perdido seu irmão gêmeo. A cabecinha não se firmava no pescoço. O diagnóstico foi de microcefalia, comprometendo seu desenvolvimento. Fiquei muito chocada e revoltada. Depois senti muito amor. Tive ainda outra filha e já casadas, ambas nos deram quatro netos. Sou Marlene, com 65 anos e meu esposo Gilberto tem 72.
   Gisele não anda, só os familiares compreendem a fala, não se alimenta sozinha ou toma banho. Faço tudo por ela e seu pai me ajuda na locomoção. A metade direita de seu corpo não se movimenta.  Não chegamos a considerar a possibilidade de ir à escola. Com fisioterapia conseguiu se sentar.  A inteligência parece preservada como a de uma criança – gosta de rádio e de televisão, conseguindo ligar sozinha. Conhece músicas, desenhos, artistas. Procura compartilhar notícias de acidentes. Brinca muito com meus netos. Neste Natal pediu uma boneca igual à de minha netinha. É amorosa com todos eles e recebe muito amor de todos nós. Todos os dias acomodamos Gisele em uma cadeira e a colocamos no jardim – ela aprecia muito olhar o movimento. Os vizinhos cumprimentam com carinho quando passam.
   Fez a primeira comunhão, sua crisma, comunga sempre. Sabe o significado. Na visita do Padre, brincando diz que é seu namorado.
   Sai de casa usando um carrinho de bebê adaptado (pesa 45 kg). A cada convite, fazemos uma avaliação prévia – se pudermos levar Gisele, toda família vai. Caso contrário, nenhum de nós.



“As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.” - Leonardo da Vinci.

Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com

3 comentários:

  1. Bom dia Beth, adoramos a matéria .
    Obrigada Família da Gisele

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  2. Parabéns pela matéria fico imensamente feliz por fazer parte desta família e poder partilhar deste amor.... Admiro muitíssimo vcs!!!!!

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  3. Gisele é uma querida! Desde criança que sempre a via nas reuniões religiosas, nas missas... Sem dúvida que a mãe queria que fosse uma pessoa independente, livre.. não entendemos mas temos fé e acreditamos no que é bom! É muito interessante quando estamos conversando sobre algo e ela dá sua opinião, participa da conversa. É um espírito de luz e muito inteligente! Parabéns pela reportagem!

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